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domingo, 28 de janeiro de 2018

PUNIR POLÍTICOS, SEM MUDAR CULTURA, NÃO TRANSFORMA, DIZ CZAR ANTICORRUPÇÃO DA ITÁLIA

Raffaele Cantone atuou na investigação da violenta máfia de Gomorra que resultou na prisão perpétua dos maiores líderes desse clã: Francesco Schiavone e Francesco Bidognetti

Conhecido na Itália como uma espécie de czar anticorrupção, o ex-procurador Raffaele Cantone diz que a punição a políticos envolvidos em corrupção não reduz a ocorrência do crime se não vier acompanhada de uma mudança na "mentalidade" da população.

Cantone atuou na investigação da violenta máfia Camorra que resultou na prisão perpétua dos maiores líderes desse clã: Francesco Schiavone e Francesco Bidognetti. O caso foi contado no famoso best-seller Gomorra, de Robero Saviano, que também virou filme.

Em entrevista à BBC Brasil, o ex-procurador afirmou que, enquanto eleitores considerarem que corrupção "não é problema deles", investigações não terão efeito transformador na sociedade.

"Cito uma piada de Piercamillo Davigo (juiz italiano que atuou na Operação Mãos Limpas): 'as investigações sobre a corrupção na Itália eliminaram os corruptos e os corruptores de menor alcance e deixaram em campo aqueles que eram realmente relevantes'", explicou.

"Se o (ambiente) cultural é o mesmo de antes, não é suficiente. É necessário alterar as regras do jogo."

Desde abril de 2014, Cantone é presidente da Autoridade Nacional Anticorrupção da Itália, órgão administrativo que supervisiona as medidas de prevenção à corrupção. Forçado a viver sob proteção policial desde 2003 por causa das ameaças de morte dos mafiosos, ele mora entre Roma e Nápoles.

Cantone defende que medidas efetivas de repressão e instrumentos "invasivos" de investigação sejam acompanhados de políticas educacionais voltadas a demonstrar para a população os efeitos nocivos da corrupção.

"O cidadão comum não está tão interessado na corrupção porque, no final das contas, não a considera um problema seu. (…) Se o cidadão não percebe o efeito negativo da corrupção, ele quase nunca considera a corrupção como uma real emergência", avalia.
Na Itália, 'as investigações sobre a corrupção na Itália eliminaram os corruptos e os corruptores de menor alcance e deixaram em campo aqueles que eram realmente relevantes' GETTY IMAGES

BBC Brasil - Qual é a sua leitura da politica brasileira e do Brasil, um país sujeito a frequentes casos de corrupção? Existe um sentimento comum de que os países latino-americanos sejam mais facilmente levados à corrupção?

Raffaele Cantone - A América Latina tem uma grande riqueza ainda para desenvolver, mas com uma significativa falta de know-how para desenvolvê-la, provocando, assim, um enorme apetite para quem quer obter essas riquezas sem respeitar as regras. (...) Na América Latina, vejo jovens democracias, grandes recursos e um forte desenvolvimento econômico que, juntos, criaram uma mistura explosiva.

Os países latinos da Europa, apesar de ter níveis mais elevados de corrupção do que a América do Norte, têm democracias mais maduras que permitem gerenciar um pouco melhor o problema.

BBC Brasil - O que funciona melhor nos países com baixos índices de corrupção?

Cantone - A sociedade civil. O único sistema que funciona realmente é aquele (que envolve) a sociedade civil. Por isso, reforço muito a ideia da transparência. Não se pode afirmar que as receitas utilizadas nos países do norte da Europa e América do Norte valem para todos os países. No entanto, são os exemplos de receitas que funcionaram.
Integrantes da máfia de Gomorra, em foto divulgada pela polícia italiana GETTY IMAGES

BBC Brasil - Você identifica três níveis de ação contra a corrupção: repressão, prevenção e educação. Poderia explicá-los brevemente?

Cantone - A repressão deve ser capaz de funcionar com a trâmitação rápida dos processos até a sentença. A legislação deve estabelecer atenuantes a favor de colaboradores ou ferramentas de investigação invasivas, como o uso de escutas.

O condenado deve ser excluído do setor público e, acima de tudo, não poderá mais ser empresário. Isso já teria um efeito de prevenção. A condenação de uma corrupção que não elimina o condenado do meio em que estava inserido é inútil.

A prevenção, por outro lado, é exercida por mecanismos que dificultam a corrupção. Não há sistemas que impeçam a corrupção, mas sim que a tornam mais complicada. O terceiro ponto é o cultural. O cidadão não percebe o efeito negativo da corrupção. Ele quase nunca considera a corrupção como uma emergência real, porque a considera distante de seus interesses. A educação tem como função fazer emergir (essa preocupação) com a corrupção.

BBC Brasil - Para muitos analistas, o Brasil, com a Lava Jato, vive uma situação semelhante à da época da Operação Mãos Limpas, na Itália. Supondo que a eliminação da classe dominante política aconteça no Brasil, seria uma solução para o fenômeno da corrupção?

Cantone - Não, a experiência italiana nos diz o contrário. Cito uma piada de Piercamillo Davigo (juiz italiano que atuou na Operação Mãos Limpas): "As investigações sobre a corrupção na Itália tiveram um efeito darwiniano - simplesmente eliminaram os corruptos e os corruptores de menor alcance e deixaram em campo aqueles que eram realmente relevantes".

As investigações a respeito de casos de corrupção podem facilitar a substituição de uma classe dirigente dominante, mas não mudam a mentalidade. Se o (ambiente) cultural é o mesmo de antes, não é suficiente. É necessário alterar as regras do jogo. 

A experiência italiana, nesse sentido, mostrou que, embora a Mãos Limpas tenha sido uma das maiores operações do mundo contra a corrupção, depois de um tempo as pessoas perceberam que nada tinha mudado.
Rafaelle Cantone argumenta que o crime de corrupção, muitas vezes, só é descoberto com mecanismos de colaboração- delação premiada- já que é difícil encontrar provas

BBC Brasil - A Lava Jato aproveitou-se de muitas delações premiadas, com descontos substanciais de penas. Quais são os limites das colaborações com a Justiça?

Cantone - Acredito que este seja um resultado inevitável. A redução do tempo de cadeia é o mal menor. A descoberta da corrupção só surge por meio desses mecanismos (de colaboração), porque, por sua natureza, não há conflito de interesses que possa tornar esse crime público. Isso não deve ser visto com um escândalo, e acho que é uma coisa boa. A atenuação da condenação não diminui todos os seus efeitos. O condenado pode ter uma redução e não ir para a prisão, mas certamente não permanecerá na administração pública.

A corrupção é baseada na omertà (o silencio cúmplice típico da máfia). Se não criarmos uma vantagem para quem optar por colaborar, enviamos a mensagem ao corrupto de que vale a pena tentar. Como ganhamos da máfia na Italia? Pelo sistema de colaborações, porque, na máfia, também havia um importante efeito psicológico. Os criminosos passaram a não se sentir mais invencíveis. É uma escolha utilitária, mas fundamental.

BBC Brasil - Um dos grandes escândalos no Brasil começou com a estatal Petrobras. Como lidar com as interferências dos partidos nas empresas estatais?

Cantone - Em primeiro lugar, reduzindo as empresas estatais. Não deram certo em nenhum aspecto e têm sido fonte de problemas em todos os lugares. A única alternativa é trabalhar com transparência orçamentária. O dinheiro sempre deixa vestígios. Faz sentido que o sistema de petróleo seja gerenciado pelo público? Eu penso que não. O Estado deve manter o monopólio da extração, mas a comercialização do petróleo tem o que de público? É uma atividade privada por excelência.

BBC Brasil - Como o senhor vê o fato de Lula, investigado e condenado em uma das ações, estar à frente nas pesquisas para as próximas eleições presidenciais?

Cantone - Externamente, a impressão que tenho é de que Lula se tornou um mito em todos os lugares. Lula também é um mito para a esquerda italiana. Certamente, ele conseguiu criar algumas novidades na sociedade brasileira. Ele deu a impressão de que o Brasil poderia sentar-se à mesa com as maiores potências do mundo e lançou mecanismos de justiça social em um país onde a justiça social não era muito presente.

E tudo isso, no entanto, depende do que eu disse antes: o cidadão comum não está tão interessado na corrupção porque, no final das contas, não a considera um problema seu. Quanto a Lula, se interessam mais pelos dados relativos a sua política e menos por aqueles relativos a sua ética. Não sei se a explicação pode ser o fato de que os políticos, uma vez que atingem o topo, perdem a noção do que pode ser feito e do que não pode ser feito.
Raffaele Cantone comentou sobre popularidade de Lula e o fato de o ex-presidente ter sido condenado em uma das ações contra ele LEONARDO BENASSATTO/REUTERS

BBC Brasil - O poder corrompe?

Cantone - Tenho receio de que um poder com regras não muito claras seja um poder que corre o risco de ser corrompido, mas não quero dar a impressão de que as regras tenham efeitos taumatúrgicos (de cura). Mas insisto no fato de que são elas, as regras, que determinam os mecanismos.

Na parábola de Lula, quando sua história for escrita, haverá o paradigma do poder que consegue corromper a pessoa que parecia menos corrompível. Isso, é claro, é um fato que nos faz refletir sociologicamente: quando você está em contato com negócios incomensuráveis, em que as suas escolhas são capazes de enriquecer alguém com somas estratosféricas, talvez você pense que reformar a casa seja uma coisa irrelevante, ou a compra de um imóvel seja algo pequeno. O risco é perder contato com a realidade.

BBC Brasil - O que mais favorece a corrupção: a continuidade de um governo ou a instabilidade política?

Cantone - O excesso de continuidade no poder tende a favorecer a corrupção. Na Suécia, porém, os social-democratas estão no poder há muitos anos, mas não há corrupção. Então, eu diria que essas regras não são válidas em todos os lugares. O verdadeiro ponto da questão é o controle dos cidadãos, que devem ser exigentes quanto a isso.

AUTOR: BBC

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

SAIBA QUEM SÃO AS 5 ESTRELAS DO YOUTUBE COM MAIS SEGUIDORES NO MUNDO

Sueco PewDiePie foi criticado devido a insultos e referências antissemitas em alguns de seus vídeos GETTY IMAGES

A recente polêmica protagonizada pelo americano Logan Paul, que publicou um vídeo no YouTube mostrando uma pessoa que teria acabado de se suicidar, evidenciou o alcance que um youtuber pode ter - e como um passo em falso pode afetar suas carreiras na internet.

Na quarta-feira, o YouTube decidiu cortar relações comerciais com Paul e removeu seus canais do Google Preferred - plataforma que reúne os conteúdos mais populares para atrair publicidade.

Paul pediu desculpas pelo vídeo, mas ainda assim a polêmica deve custar a ele milhões de dólares em anúncios publicitários perdidos. E vale lembrar que seu canal sequer figura entre os mais seguidos no YouTube.

Quem são, então, os donos dos canais com maior número de seguidores (excluído os canais empresariais e de artistas famosos)? A seguir, a BBC lista os cinco primeiros:

1 - PewDiePie (Suécia): 59,5 milhões de seguidores

Como tantos outros, o youtuber da atualidade com mais seguidores no mundo começou seu canal publicando vídeos com opiniões sobre situações cotidianas e com comentários em inglês sobre jogos de videogame.

Os vídeos de Felix Kjellberg (o verdadeiro nome de PewDiePie) já foram reproduzidos quase 17 bilhões de vezes.

Mas o jovem de 28 anos já foi duramente criticado por fazer piadas antissemitas e incluir insultos racistas em alguns de seus comentários. Tanto que a Disney decidiu cancelar um contrato que tinha com ele no ano passado.

PewDiePie negou ser racista e pediu desculpas pelas ofensas causadas.
Germán Garmendia é o youtuber mais bem-sucedido do mundo no idioma espanhol GETTY IMAGES

2 - HolaSoyGerman (Chile): 33 milhões de seguidores

O comediante chileno Germán Garmendia é o segundo youtuber mais seguido do mundo - e o primeiro considerando o idioma espanhol. Seu canal tem número de seguidores semelhante ao do cantor Justin Bieber.

HolaSoyGerman, que apresenta monólogos de humor com temas cotidianos, expandiu seu sucesso para canais secundários, como JuegaGerman, com 24 milhões de assinantes.

Garmendia diz que foi vítima de bullying na adolescência e que ser diferente ajudou a ele se tornar bem-sucedido na vida adulta. Seu canal é visto, inclusive, por não hispânicos, que assistem aos vídeos para aprender espanhol.
'El Rubius' chegou a admitir dificuldades em lidar com a fama online GETTY IMAGES

3 - elrubiusOMG (Espanha): 27 milhões de seguidores

Espanhol de mãe norueguesa, Rubén Doblas Gundersen começou no YouTube quando tinha 16 anos, com vídeos gravados em casa, mesclando jogos de videogame, humor e improvisação com amigos.

Cinco anos depois, fez do hobby sua profissão. E mudou de patamar ao alcançar fama também na América Latina - em 2015, teve recepção semelhante a de uma estrela do rock quando visitou a Argentina.

Chamado pela revista americana Time de "uma das pessoas mais famosas de quem você nunca ouviu falar", Gundersen chegou a se emocionar, em entrevista na televisão, ao contar que não sabe lidar bem com a fama, e que o sucesso repentino lhe proporcionou alguns dos piores momentos de sua vida.
Whindersson Nunes faz humor sem polêmicas, com referências à infância e ao cotidiano

4 - Whindersson Nunes (Brasil): 26,2 milhões de seguidores

O maior youtuber brasileiro faz um humor inocente e sem polarização, repleto de referências a sua infância e a hábitos mais humildes no Nordeste. O sucesso da fórmula levou o piauiense a fazer turnê pelos EUA e pela Europa.

"Sou um cara tranquilo, as minhas piadas são sobre a minha vida, nada que saia do meu universo. As vezes que saí do meu universo e falei coisas com religião, com política, a galera não aceitou muito", disse em entrevista à BBC Brasil em Londres, em novembro.

Nunes já foi ajudante de garçom e começou a fazer vídeos para a internet há sete anos. Pesquisa de setembro do Google mostrou que ele é o maior influenciador brasileiro da atualidade.
Fernanfloo tem número de seguidores maior que a população de seu país | Foto: Fernanfloo / YouTube

5 - Fernanfloo (El Salvador): 25,8 milhões de seguidores

O salvadorenho Luis Fernando Flores Alvarado conseguiu um feito: seu número de seguidores no YouTube é quatro vezes maior que a população total de seu país.

Ferfanfloo também começou a carreira ainda adolescente, com vídeos sobre games. Acabou abandonando os estudos para se dedicar integralmente a seu canal online.

Ele classifica seu estilo como "humor absurdo" e diz que sua popularidade se deve ao contraste de seus vídeos com a vida regrada da maioria das pessoas.

AUTOR: BBC

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

COMO SELFIE DE AMIGAS POSTADA NO FACEBOOK AJUDOU A POLÍCIA A DESVENDAR ASSASSINATO, NO CANADÁ

Cheyenne Antoine (à esq.) posa para selfie com cinto usado para matar Brittney Gargol (à dir.) | Reprodução/Facebook

Uma foto publicada no Facebook foi a chave para solucionar um crime no Canadá.

Cheyenne Rose Antoine, de 21 anos, foi condenada na segunda-feira a sete anos de prisão por homicídio culposo (sem intenção de matar) pelo assassinato da amiga Brittney Gargol, de 18 anos, ocorrido em março de 2015.

Ela foi identificada como suspeita após publicar, horas antes do crime, uma selfie com Gargol no Facebook. Na imagem, ela usava o cinto que foi encontrado ao lado do corpo da vítima na cena do crime.

Estrangulada até a morte, a jovem foi achada perto de um aterro em Saskatoon, na província de Saskatchewan, com o cinto de Antoine ao lado.

Segundo a polícia, a versão que a amiga da vítima deu inicialmente - de que as duas tinham ido a vários bares antes de Gargol sair com um homem não identificado, e ela ir ver o tio - não batia.

Os policiais usaram então as postagens do Facebook para ajudar a reconstituir a movimentação das amigas na noite do crime.

E perceberam que a publicação de Antoine na linha do tempo de Gargol na manhã seguinte - "Cadê você? Não deu mais notícias. Espero que tenha chegado bem em casa" - era uma tentativa de despistá-los.
Policiais foram ao Facebook procurar pistas 'Nunca me perdoarei' AFP

Antoine, inicialmente acusada de assassinato em segundo grau, que equivale no Brasil a homicídio doloso (com intenção de matar), se declarou culpada do crime, mas disse que não se lembrava de matar a amiga.

Ela disse que as duas estavam bêbadas e tinham fumado maconha quando começaram uma discussão acalorada.
Em um comunicado, ela se disse arrependida:

"Eu nunca me perdoarei. Nada que eu diga ou faça trará ela de volta. Eu lamento muito, muito... Isso não deveria ter acontecido", afirmou Antoine em nota emitida por meio de seu advogado.

O advogado de Antoine disse sua cliente foi à polícia um mês antes do assassinato para denunciar maus-tratos cometidos pelos pais adotivos, e que ela teria sofrido abusos similares no abrigo para crianças no qual viveu em Saskatchewan.

A família de Gargol se manifestou no julgamento.

"Não conseguimos deixar de pensar em Brittney, no que aconteceu naquela noite, no que ela deve ter sentido lutando por sua vida", disse Jennifer Gargol, tia dela, no tribunal.

AUTOR: BBC

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

CONHEÇA A SAGA EM BUSCA DE UM TESOURO REAL ROUBADO EM 1885, E CUJO PARADEIRO AINDA É MISTERIOSO

História da dominação britânica em Mianmar é cheia de mistérios GETTY IMAGES

Se a história tivesse tomado outro rumo, o homem simples de 70 anos ao meu lado, tremendo com o frio de outono de Londres, poderia ter sido o rei de Mianmar, líder de uma nação mais de 50 milhões de pessoas.

U Soe Win passou a vida mantendo um estilo discreto. Os generais que governaram Mianmar após sua conquista pelo Reino Unido, em 1885, não queriam a concorrência de pessoas com linhagem real. Assim, ele trabalhou por décadas de forma silenciosa no serviço diplomático do país.

Enquanto esperamos na rua por John Clarke, curador de arte sudeste-asiática do museu londrino Victoria & Albert, Soe Win tenta manter suas sandálias fora das poças geladas na calçada. "Agora sei por que vocês britânicos foram para Mianmar", ele brinca. Concordamos que é uma boa ideia ele usar sapatos no restante de sua estadia na capital britânica.

O objetivo de nossa visita ao museu é ver valiosos objetos que já pertenceram à sua família - e alguns que ainda pertencem. Mas também estamos à caça de um tesouro: um enorme rubi.

Quando Clarke chega, ele nos leva pelos corredores do museu e conta que, por muitos anos, o V&A, como a instituição é conhecida localmente, teve a maior coleção de arte de Mianmar do mundo: a Mandalay Regalia.

São 167 objetos de ouro com pedras preciosas que vão de armas de fogo a louças e sapatos. Os britânicos os tomaram do último rei do país, o bisavô de Soe Win, quando ele foi deposto e mandado ao exílio.

No entanto, foram devolvidos ao governante de fato de Mianmar em 1964, o general Ne Win, como um gesto de boa vontade. Tudo, menos uma peça que o general mandou de volta para o museu como um presente: um ganso de ouro. Talvez uma mensagem com a típica ironia de Mianmar para seu antigo conquistador?
Peça foi a única que permaneceu no Reino Unido após objetos preciosos saqueados serem devolvidos

Finalmente, Soe Win pergunta: o que aconteceu com o rubi de seu bisavô, o Nga Mauk, que tinha o tamanho de um ovo de pata, sobre o qual diziam "valer um reino" e que trazia sorte ao seu dono?
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"Não está nem jamais esteve aqui", responde Clarke. "O mais provável é que esteja em um lugar como a Coleção Real, porque me lembro de ter lido que ele foi dado de presente à rainha (britânica) Vitória (1837-1901)."

O principal suspeito

Quando conheci Soe Win, em 2014, ele me garantiu que jamais iria a Londres. Estava aposentado havia muito tempo e vivia em uma pequena casa próxima a uma ferrovia. Havia passado sua carreira preocupado, vivendo em meio àqueles que haviam exilado seu bisavô, arruinado sua família e ocupado seu país.

Em novembro de 1885, 10 mil soldados do Reino Unido haviam sido enviados para tirar o rei da então Birmânia do poder. A invasão deu fim a seis décadas de tensão e conflitos esporádicos entre britânicos e cidadãos de Mianmar, causados entre outras coisas pela recusa de autoridades britânicas em tirar os sapatos na presença do rei. Mas o conflito principal era comercial.

O governo britânico considerava o rei Thibaw um obstáculo para o comércio com a China. Também havia o medo de que ele favorecesse a França, que expandia seus territórios imperiais a oeste da Indochina, muito próximo da Índia, a joia da Coroa britânica.
Bisneto do rei de Mianmar deposto por britânicos está em busca do maior tesouro de sua família

Os britânicos levaram apenas duas semanas para derrotá-lo. Com o palácio cercado, o rei se rendeu em 29 de novembro. Foi levado com sua mulher, que estava grávida, e suas duas filhas até um barco que os levaria a Ratnagiri, uma ilha de pescadores a milhares de quilômetros dali, na costa ocidental da Índia.

Por isso, Soe Win temia que o enviassem a Londres como parte do corpo diplomático. Mas, agora, havia aceito vir voluntariamente para buscar pelo rubi de seu bisavô.

Após nossa visita ao V&A, fomos à Biblioteca Britânica, onde são conservados muitos registros da anexação da antiga Birmânia. Ali, encontramos um desenho feito por um artista do país sobre a queda de Thibaw.

Soe Win observa a pintura, e seus olhos se concentram na figura de um homem vestido com um uniforme branco que fala com o rei. "O coronel Sladen", ele sussurra, para logo me contar a história de Edward Sladen, um condecorado veterano que chefiou a força de invasão britânica.
'Desaparecimento do rubi'

Sladen era conhecido pelo rei, falava birmanês e ficou encarregado da tarefa de fazer Thibaw se render sem gerar agitações. Foi ele quem supervisionou enquanto o rei empacotava apressadamente suas posses mais valiosas, entre elas o Nga Mauk, para ir para o exílio. O que aconteceu depois é parte de uma famosa lenda.

A filha mais jovem do rei escreveria anos depois que "Sladen pediu ao seus pais para ver o rubi, e eles o deram" ao general. "Segundo meus pais, depois de observá-lo por um tempo, ele o colocou no bolso, fingindo estar distraído, e nunca o devolveu."
Image captionNo círculo iluminado, é possível ver o coronel Sladen falando com o rei | Foto: The British Library

Esse é o relato mais famoso do que aconteceu, e muitos acreditam que o título de cavaleiro que foi dado a Sladen meses depois por seu "serviço especial na Birmânia" é a prova de que ele levou o rubi, o deu à rainha Vitória e, em troca, recebeu essa recompensa.

O próprio Thibaw dizia que havia dado a pedra preciosa ao coronel britânico para que o protegesse junto com outros objetos de valor. Do exílio, ele escreveu para autoridades britânicas na Índia em junho de 1886 para que devolvessem seu rubi.

"Os pertences na lista que envio", escreveu seu secretário, "foram entregues (por Thibaw) ao coronel Sladen porque temia que se perdessem durante a viagem. O coronel Sladen prometeu que seriam entregues quando ele quisesse. Ele espera que sua excelência o governador-geral (vice-rei da Índia) ordene que os objetos sejam devolvidos".

A lista inclui "um anel de rubi conhecido pelo nome de Nagamauk (outra possível grafia de Nga Mauk)".

Thibaw nunca deixou de reivindicar a devolução dos seus pertences. Ao fim de 1911, escreveu diretamente ao rei George 5º, sucessor de Vitória, mas as autoridades britânicas se faziam de surdas: o homem acusado havia morrido 21 anos antes. O rei Thibaw viria a falecer cinco anos depois, em 1916.

Os herdeiros

Após sua morte, sua filha mais jovem, a avó de Soe Win, manteve o pedido, inclusive escrevendo à Liga das Nações, organização internacional que precedeu a ONU.

Quando ela morreu, seu filho Taw Phaya Galae, tio de Soe Win, seguiu com a busca - e foi graças à sua investigação que ele e eu estamos em Londres.
O rei Thibaw faleceu no exílio na Índia, em 1916, aos 58 anos

Phaya Galae escreveu um livro com teorias do paradeiro do rubi. Ali, garantiu que, "por maior que seja o empenho dos imperialistas britânicos de apagar os rastros do rubi Nga Mauk, há fortes evidências de sua existência". Sua hipótese era de que a pedra podia estar escondida bem à vista, incrustada em joias reais britânicas.

Ele não era o único que pensava assim: ao fazer uma busca na internet por "rubi Nga Mauk", aparecem muitas imagens da rainha Elizabeth 2ª e suas joias, como a coroa real, mas o rubi usado nela é outro, chamado "Príncipe Negro".

Phaya Galae acreditava que o Nga Mauk poderia ter sido usado para decorar a coroa imperial da Índia, uma joia especial feita em 1911, quando George 5º viajou ao país para ser coroado imperador. Mas há um problema com essa hipótese: essa coroa não tem o tamanho do Nga Mauk. Ainda assim, quem acredita na teoria diz que a pedra pode ter sido partida em quatro e usada em diferentes partes da coroa.

Sabemos que os rubis da coroa são de "origem birmanesa", como destaca um documento oficial de 1998. Mas a realidade é que a maioria dos rubis do mundo vêm dali. O Royal Colletion Trust, a organização que cuida da Coleção Real, disse que não há informação sobre sua origem e se recusou a conceder uma entrevista.

Soe Win e eu fomos à Torre de Londres visitar a Coleção Real e ver se há algo oculto. Entusiasmados como dois estudantes, chegamos à coroa imperial da Índia e a observamos. Depois de algum tempo, me dei conta de que Soe Win não estava ao meu lado. Encontrei ele do lado de fora, no pátio, com uma cara de preocupação.

Estava convencido de que nenhuma das peças que acabara de ver era o Nga Mauk. Garantiu que, se fosse, teria sentido.

"Quero ver o que não estão me mostrando. Eu vim para isso", me disse, sorrindo.

A carta

Decidimos voltar à Biblioteca Britânica para continuar nossa busca. Encontramos ali uma carta enviada em dezembro de 1886 pelo vice-rei da Índia em resposta ao pedido de Thibaw, em que ele ordenava uma investigação.

Todas as pessoas que haviam estado presentes no Palácio Mandalay quando o rei foi deposto foram contactadas, incluindo Sladen, então um cavaleiro da Coroa que havia regressado a Londres e que se preparava para se aposentar.

Entre seus documentos pessoais ainda conservados pela Biblioteca Britânica, há três rascunhos da carta que escreveu em resposta ao vice-rei. Acredita-se que Sladen tenha tido dificuldades para achar as palavras certas.
Edward Sladen, o principal suspeito de ter levado o precioso rubi | Foto: WikiCommons

O que finalmente disse foi que não havia visto os pertences da lista de Thibaw, que o rei não havia feito "nenhuma tentativa de entregar objetos particulares" em meio ao caos e que havia entregue tudo que havia estado em seu poder. Também indicou um grande número de pessoas que poderiam ter levado um objeto tão pequeno e valioso como um anel de rubi.

Outra coisa nos chamou atenção: o diário pessoal de Sladen. Buscando em suas memórias sobre o dia 29 de novembro de 1885, achamos algo curioso: na terceira folha, 12 linhas foram rasuradas. As primeiras três foram tapadas com tinta e o restante, com lápis. É a única folha do diário que foi editada, algo muito suspeito.

Um funcionário da biblioteca se ofereceu para usar uma técnica para descobrir o texto rasurado. A parte coberta com lápis é ilegível, mas, onde foi usado tinta, é possível ler algumas palavras: "Rei me pede que receba... Regalia - eu concordo - me pede pessoalmente para levar K...".

O que vem a seguir poderia ser qualquer coisa, mas Soe Win está certo de que se refere ao Nga Mauk. "Por isso o apagou, é muito simples", ele me diz.
O diário de Sladen tem, no dia 29 de novembro de 1885, um trecho que foi rasurado | Foto: The British Library

Mas, se Sladen levou o rubi, o que fez com ele? Pergunto isso a seu bisneto, o conde de Portsmouth, quando o visito em sua mansão em Hampshire. Ali, há uma caixa com três das medalhas dadas a Sladen pela rainha Vitória.

O conde me conta que corria em sua família um vago rumor de que o coronel havia "roubado a coroa de Thibaw", mas que nunca ouviu nada sobre um rubi.

"Se roubou e ficou com ele, onde está o dinheiro?", pergunta ele, explicando que a Sladen, a família de sua mãe, não era rica. "O filho de Edward, meu avô, teve de se dedicar à caça de elefantes no Quênia para sobreviver."
Busca real

Isso cria outra possibilidade: talvez Sladen o tenha levado, mas entregado à rainha Vitória, como acreditava Clarke, do V&A.

Ele me envia uma carta que o Royal Collection Trust escreveu em resposta ao professor universitário Michael Nash, que, em 2003, fez uma consulta sobre o Nga Mauk.

Uma funcionária da instituição disse que, em um inventário das joias da rainha Vitória feito em 1896, havia menção a um "rubi cabochão (75)". O termo faz referência a uma pedra preciosa polida, mas não lapidada. O número poderia ser dos quilates: o Nga Mauk tinha mais de 80, mas talvez possa ter sido cortado.
Rubi poderia ter sido herdado pela princesa Louise? GETTY IMAGES

"O inventário destaca que a pedra veio do rei da Birmânia, foi entregue à rainha por embaixadores e restaurado em estilo clássico", escreveu a funcionária.

Onde está hoje essa pedra? "Um bracelete foi herdado pela princesa Louise, duquesa de Argyll", diz, em referência à quarta filha da rainha Vitória. "Portanto, não faz mais parte da Coleção Real."

Nash escreveu à atual duquesa de Argyll, que lhe disse que a joia já não está mais entre os bens de sua família. Aparentemente, a princesa o deixou para alguém ao morrer, mas não é possível ter acesso à sua lista de herdeiros.

Quando pergunto a Soe Win por que é tão importante encontrar o rubi de seu bisavô, sua resposta me surpreende. "Vocês têm tantas relíquias de sua história, nós não temos nada."

Ele pensou nisso durante sua estadia em Londres, onde encontrou muitos objetos originários de Mianmar. E me conta que as pessoas em seu país ficariam muito felizes de ter ao menos réplicas desses objetos.

Para ele, o principal valor do Nga Mauk é educacional, motivacional: o considera um talismã que poderia ajudar a unir e reconstruir seu país.

"O Nga Mauk nos lembra do que tivemos e do que pudemos fazer, nos recorda que já fomos uma nação orgulhosa e independente, com uma rica história. Hoje, não temos nada desse passado para ensiná-lo às próximas gerações."

AUTOR: BBC

domingo, 7 de janeiro de 2018

11 MORTES OCASIONADAS POR AÇÕES ESTÚPIDAS

Nunca sabemos o que pode acontecer no nosso dia a dia, por isso, alguns de nós tentam ser muito cuidadosos, valorizando a vida. 

No entanto, há quem diga que todo mundo tem a sua hora e quando tiver que acontecer, isso acontecerá. 

Isso pode explicar as mortes que aconteceram a seguir, que para muitos, foram ocasionadas por ações que não deveriam nem ter passado pela cabeça das pessoas. 

Mesmo parecendo mentira, esses momentos realmente aconteceram.

1) O sinal do Wi-Fi

A internet realmente é um problema para muita gente. Na Espanha, um equatoriano não conseguia conexão para o seu celular. Irritado, decidiu subir na sacada do seu apartamento para ver se algo mudava. O homem acabou caindo do prédio alto e falecendo.

2) Jogar demais

Um sul-coreano decidiu que ia fazer uma maratona do jogo Star Craft. A jogatina acabou durando 50 horas e só terminou com a morte do jovem, que conforme o laudo médico, teve desidratação e insuficiência cardíaca.

3) Culpa da enfermeira

O Rei Carlos Navarro III teve uma morte que não foi digna da monarquia. Quando ficou doente, o médico ordenou que o homem ficasse embrulhado em linho e coberto de conhaque. A instrução era para que a enfermeira cortasse o último fio de linho. Porém, a mulher decidiu colocar fogo, sem perceber que queimaria o rei até a morte (ou será que sabia?).

4) Fone de ouvido muito alto

Um homem já faleceu ao ser esmagado por um helicóptero na Alemanha. O falecido não ouviu a chegada do transporte porque estava com os fones no volume máximo.

5) Fique no carro de segurança

Dois turistas alemães foram mortos em um parque selvagem ao saírem do carro de segurança, quando a instrução era de que não saíssem de jeito algum. No fim, foram atacados por três tigres.

6) Surfando no temporal

Um surfista quis arriscar ao surfar em um forte temporal. Resultado: foi jogado pelas ondas contra a parede de um hotel e acabou falecendo.

7) A cerveja

Um homem morreu em uma competição de quem bebia mais cerveja. Após seis litros, o falecido teve um ataque cardíaco.

8) Não ria muito depois do almoço

O Rei Argon começou um ganso inteiro na sua última refeição. O que o fez morrer foi a indigestão, por ter rido demais da piada do seu bobo da corte.

9) Cama de hotel

Duas irmãs idosas faleceram em um cama dobrável de hotel. Como o móvel não estava bem fixado, as irmãs foram sufocadas por ele.

10) Viagra

O viagra, quando usado incorretamente, mata mais do que parece. No entanto, um russo decidiu tomar uma quantidade enorme para ter relações durante a noite inteira com duas garotas de programa. O seu coração explodiu.

11) Balões

O padre Adelir Antônio de Carli, de 41 anos, quis fazer um experimento com balões. A ideia era voar do sul do Paraná até Ponta Grossa. No entanto, o vento forte desviou o caminho e ele acabou morto. Parte do corpo do homem foi encontrado em uma embarcação da Petrobas no litoral do Paraná.

Abaixo você confere o vídeo que conta um pouco mais dessas histórias:

AUTOR: News 24hrs

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

SAIBA PORQUE O MUNDO LEVOU 2 MIL ANOS PARA DESCOBRIR AVANÇO DE ARQUIMEDES NO ESTUDO DA MATEMÁTICA

Conhecimentos foram resgatados com tecnologia moderna, mas o que aconteceu durante os séculos em que o texto estava perdido?

Um livro perdido poderia ter mudado a história mundial. Desaparecido há mais de mil anos, o exemplar contém um registro único das ideias de um dos maiores estudiosos de todos os tempos.

Tudo começou em Siracusa, na região da Sicília, na Magna Grécia (sul da península Itálica colonizada pelos gregos), no ano de 287 a.C.. Foi quando Arquimedes, um gênio que estava séculos à frente do seu tempo, nasceu.

"Não há outro matemático na Antiguidade, nem na história, que chegue perto de Arquimedes", disse à BBC Chris Rorres, professor emérito de Matemática da Universidade Drexel da Pensilvânia, nos Estados Unidos, quando o manuscrito foi recuperado.

Arquimedes é popularmente conhecido como o homem que gritou "Eureka!" na banheira.
Poucos lugares são melhores para pensar do que a banheira | Foto: Science Photo Library

Ele estava tentando resolver um mistério sobre a coroa de ouro do rei.

O monarca suspeitava que o ourives que fabricou a coroa tinha misturado prata, metal mais barato, ao ouro que ele tinha fornecido para confecção do objeto.

A coroa tinha o peso certo (equivalente à quantidade de ouro fornecida pelo rei), mas como a prata é mais leve do que o ouro, a questão era: será que a coroa tinha um volume maior do que se tivesse sido fabricada em ouro maciço?

Certa vez, ao entrar na banheira para tomar banho, Arquimedes percebeu que quanto mais seu corpo ficava submerso, mais água transbordava. A partir desta observação, ele concluiu que poderia estabelecer quão grande era a coroa do rei ao imergi-la em um recipiente com água e medir a quantidade de líquido que seria deslocado.

Dizem que ele ficou tão entusiasmado com a descoberta que saiu imediatamente do banho e correu nu pelas ruas de Siracusa gritando "Eureka", que em grego significa "descobri".
GETTY IMAGES

Inventor famoso

Não sabemos se os cidadãos da Sicília realmente viram Arquimedes nu, mas a verdade sobre a coroa do rei foi revelada: o ourives tinha sido desonesto e o matemático havia se mostrado um excelente detetive.

Durante sua vida, Arquimedes tornou-se famoso por suas invenções e temido por suas armas de guerra.

Foi também nomeado conselheiro militar pelo rei de Siracusa, que o confiou a defesa da cidade.
A garra de Arquimedes teria sido uma arma projetada por ele para defender a cidade de Siracusa | Foto: Getty Images

Mas é por meio da matemática que sua verdadeira genialidade aparece. Foi ele que considerou estimar um valor para π (Pi), vital para calcular a área de um círculo, um dos componentes básicos da ciência.

Ele fez isso colocando um círculo entre polígonos, já que seu perímetro pode ser calculado, pois seus lados são retos.

Ele começou inserindo um hexágono dentro do círculo e outro fora. Em seguida, foi adicionando mais e mais lados até chegar a 96.

A ideia era fazer com que os polígonos se aproximassem o máximo possível do perímetro do círculo, o que lhe daria os limites cada vez mais próximos entre os quais deveria estar π.
Arquimedes usou polígonos de 96 lados para encontrar um valor aproximado para o número Pi

Ele calculou assim que o valor de π estava entre 310/71 (aproximadamente 3.1408) e 31/7 (cerca de 3.1429), uma estimativa que ainda é usada pelos engenheiros hoje - e é mais do que suficiente para todos os propósitos práticos.

Obcecado por matemática, o estudioso não enxergava nenhum problema como difícil demais.

Ele chegou a tentar, inclusive, calcular a quantidade de grãos de areia necessários para preencher todo o Universo.

A resposta: 10, seguido de 62 zeros.

Os historiadores da época contam que Arquimedes ficava eufórico quando descobria formas matemáticas cada vez mais complexas.

4 triângulos e 4 hexágonos formam um tetraedro truncado ...

12 quadrados, 8 hexágonos, 6 octágonos - octaedro truncado ...

12 pentágonos, 30 quadrados e 20 triângulos, 60 vértices, 120 arestas, 62 faces: um rombicuboctaedro.

Basta!
Rombicuboctaedro, um dos sólidos descobertos por Arquimedes | Foto: Cortesia Cyp que POV-Ray

Tragicamente, Arquimedes ficou tão conhecido que até os romanos sabiam da sua existência e desejavam capturá-lo.

Quando finalmente conseguiram invadir a cidade de Siracusa, deram ordem para prendê-lo. Mas o soldado que o encontrou se distraiu e, sem notar a confusão ao seu redor, não recebeu as instruções corretas. Por isso, matou-o com a espada.
Ilustração mostra o trágico fim de Arquimedes | Foto: Science Photo Library

Uma reciclagem devastadora

A morte de Arquimedes, em 212 a.C., marcou o fim de uma era de ouro na matemática grega, que foi declinando gradualmente.

No entanto, seus manuscritos sobreviveram, sendo reproduzidos por escribas que transmitiram seus conhecimentos de geração para geração. No século 10, foi produzida uma cópia final de suas obras mais importantes.

Mas o interesse pela matemática havia se perdido, e o nome de Arquimedes foi esquecido.
Conhecimento de Arquimedes estava prestes a ter um destino pior que o esquecimento | Foto: Science Photo Library

Certo dia, no século 12, um monge ficou sem pergaminhos. A consequência disso foi desastrosa.

As páginas da cópia final da obra mais importante de Arquimedes foram reutilizadas para fazer um livro de orações.

Cada uma das folhas que formavam uma página dupla do manuscrito foram cortadas e dobradas para dar origem a novas páginas, que, após serem lavadas e raspadas, ficaram suficientemente claras para se escrever novamente sobre elas.

O manuscrito foi reciclado e transformado em um palimpsesto - um papiro ou pergaminho que "mais uma vez" (palin, em grego) foi "raspado" (em grego, psao) para apagar o que estava escrito e ser reutilizado.

Tornou-se, assim, um livro de orações do mosteiro de Mar Saba, no deserto da Judeia, no Oriente Médio.

O renascimento matemático

No século 15, o Renascimento chegou à Europa. A ciência avançou o suficiente para que os estudiosos compreendessem os argumentos matemáticos de Arquimedes.

No entanto, ninguém tinha noção que algumas de suas maiores ideias haviam se perdido.
Arquimedes voltou a povoar o imaginário coletivo no Renascimento, como mostra essa pintura de Domenico Fetti (1589 - 1623), mas ninguém suspeitava que, sob textos religiosos, havia um tesouro escondido

Os matemáticos renascentistas tiveram que lidar com conceitos e problemas que Arquimedes havia resolvido 1,5 mil anos antes.

Mas centenas de anos se passaram até que o manuscrito do grego viesse à tona novamente. Ninguém sabe como, mas ele apareceu em uma biblioteca de Constantinopla, atual cidade turca de Istambul.

Em 1906, ao revisar o catálogo da biblioteca, Johan Ludvig Heiberg, especialista dinamarquês em cultura grega, se deparou com algo no documento que despertou sua curiosidade.
Johan Ludvig Heiberg foi a Constantinopla porque suspeitava que tinha algo de Arquimedes no manuscrito

"Ele deve ter ficado atordoado ao ver o manuscrito. Ele sabia muito bem o quão valioso era o que ele estava lendo", afirmou à BBC William Noel, ex-curador do Museu de Arte Walters, nos EUA. Atualmente, ele é diretor do Instituto Schoenberg para Estudos de Manuscritos da Penn Libraries, na Filadélfia.

Como não podia retirar o manuscrito da biblioteca, Heiberg tirou fotos das páginas e, com base nelas, tentou reconstruir o trabalho de Arquimedes, uma tarefa incrivelmente árdua quando sua única aliada era uma lupa.

De qualquer forma, a descoberta de Heiberg revelou ideias que até então não eram conhecidas.

No livro, Arquimedes não só dava as respostas para seus cálculos, como tinha escrito seus pensamentos mais íntimos, revelando como tinha feito seu trabalho.

'O Método'

"Foi uma descoberta espetacular para a história da matemática. Se você é pintor, provavelmente tem interesse nas obras finalizadas dos grandes mestres da pintura. Mas, além disso, você quer saber as técnicas, os métodos, as tintas que eles usaram. Os matemáticos querem saber não apenas quais são seus teoremas, mas como se chegou até eles ", compara Rorres.

O Método, título dado à obra, mostrou que Arquimedes criou uma abordagem radical que nenhum matemático havia chegado perto de inventar.
Até então, era possível encontrar vestígios de Arquimedes, entre as orações

Em sua mente, ele havia construído um conjunto de escalas completamente imaginárias para comparar os volumes de formas curvas - o que ele usou para tentar calcular o volume de uma esfera.

Como já se conhecia o volume de um cone e de um cilindro, ele tentava equilibrar a esfera e o cone de um lado com o cilindro no outro. Tudo isso mentalmente.

Arquimedes imaginou um número infinito de cortes e, usando uma matemática muito complexa, encontrou uma maneira de equilibrar os objetos nas escalas.

O resultado final: o volume de uma esfera é precisamente dois terços do volume do cilindro que encerra essa esfera.

O matemático considerava a descoberta tão importante que pediu que fosse inscrita em sua lápide.

Ao arquitetar volumes usando cortes infinitos, Arquimedes dava o primeiro passo em direção a um ramo vital da matemática, conhecido como cálculo, 1,8 mil anos antes de ser inventado.
O conceito do infinito segue sendo um dos mais complicados da matemática | Foto: Getty Images

O mundo moderno não poderia existir sem o cálculo - é essencial para cientistas e engenheiros, e a tecnologia do século 21 depende disso.
Outro desaparecimento

Em 1914, quando estava prestes a descobrir a verdadeira genialidade de Arquimedes, o plano de Heiberg de estudar o manuscrito em Constantinopla foi bruscamente interrompido.

Com o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Europa e o Oriente Médio foram tomados pelo caos, e o palimpsesto onde estavam os escritos do matemático se perdeu novamente.

Os acadêmicos tinham poucas esperanças de reaver o documento, mas, em 1971, Nigel Wilson, um especialista em Grécia antiga, ouviu falar de uma página de um manuscrito em uma biblioteca da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e foi investigar.

"Transcrevi algumas frases. Havia termos técnicos muito específicos. Pelo vocabulário, descobri rapidamente que se tratava de um ensaio de Arquimedes, e me dei conta que deveria ser uma folha do famoso palimpsesto", disse à BBC Wilson, professor de Estudos Clássicos da Universidade de Oxford.

Mas por que apenas uma página do palimpsesto de Arquimedes foi parar em Cambridge?
Como uma página do manuscrito chegou à biblioteca da Universidade de Cambridge? | Foto: Getty Images

Uma pista era sua procedência: uma coleção de documentos que pertencia a um erudito chamado Constantine Tischendorf, um homem de poucos escrúpulos.

"Tischendorf viajou muito pelo Oriente Médio. Em Constantinopla, visitou a biblioteca e disse que havia apenas um manuscrito de seu interesse: um palimpsesto com um texto matemático. Não disse mais nada", contou Wilson.

"Não podemos deixar de supor que essa página foi roubada", acrescenta.

No início do século 20, Heiberg contava só com uma lupa para ler o manuscrito. Nos anos 1970, Nigel Wilson tinha a seu favor a tecnologia moderna.

"A maior parte da página era legível e, com a lâmpada ultravioleta, os cantos, que não podiam ser lidos, ficaram nítidos."
A tecnologia dos anos 1970 revelou ainda mais detalhes da escrita

Após a 1ª Guerra Mundial, Paris e outras cidades europeias foram inundadas de obras de arte do Oriente Médio, mas ninguém tinha visto o documento de Arquimedes.

Em 1991, Felix de Marez Oyens começou a trabalhar para a casa de leilões Christie's e, em seu novo escritório, encontrou a carta de uma família francesa que dizia ter um palimpsesto.

Intrigado, De Marez Oyens foi examinar o livro. "De cara eu soube que deveria ser o manuscrito que Heiberg estudou pela primeira vez em 1906", disse à BBC De Marez Oyens.

Os proprietários contaram que, na década de 1920, um parente que era colecionador amador havia adquirido o manuscrito em Constantinopla. Agora eles queriam vendê-lo.
Mas qual é o preço de algo inestimável?

"Qualquer avaliação de algo assim é simplesmente uma suposição. Acho que eu disse a eles que valia entre US$ 550 mil e US$ 800 mil", afirmou De Marez Oyens.

O manuscrito foi vendido por muito mais. Um bilionário anônimo pagou US$ 2 milhões.

Em 1998, era chegada finalmente a hora de recuperar o conhecimento perdido por mais de dois milênios. Alguns meses após comprar o manuscrito, o novo dono entregou o documento ao Museu de Arte Walters, em Baltimore, no estado de Maryland, nos EUA.

Cientistas, restauradores e historiadores começaram a se debruçar sobre a obra.
Página do manuscrito com textos religiosos (acima); tecnologia revela (abaixo) o que não era possível visualizar antes

Usando tecnologia de imagem multiespectral e uma técnica de raio-X que faz brilhar o ferro da tinta que foi raspada, eles descobriram que o documento continha não só sete tratados de Arquimedes, como também discursos de Hipérides, político e orador ateniense, e comentários sobre as categorias de Aristóteles do século 2 ou 3.

Entre os tratados do matemático grego, estava a única cópia sobrevivente do Stomachion de Arquimedes, no qual ele tenta descobrir de quantas maneiras é possível combinar 14 peças fixas para formar um quadrado perfeito.
Esta é uma das combinações possíveis, mas quantas mais existem? | Foto: Science Photo Library

A resposta é 17.152 combinações.

Stomachion significa dor de estômago, que é como se referiam aos enigmas na antiguidade.

Trata-se do primeiro trabalho a desenvolver a matemática das combinações, que é a base da probabilidade, algo que se acreditava ter surgido nos séculos 17 ou 18.
Até o infinito

Sem dúvida, a leitura de O Método deixou claro que Arquimedes deu um grande passo para a compreensão do infinito; mais que isso, usou o conceito como parte do argumento de um de seus teoremas.

Arquimedes estava mais próximo da ciência moderna do que se imaginava. Embora se soubesse que ele tinha dado alguns passos na direção do cálculo moderno, o palimpsesto mostrou que, de certa forma, o grego já havia chegado lá.
Nesta imagem, vemos os escritos religiosos em uma direção e a narrativa de Arquimedes na outra

O que teria acontecido, então, se esse documento não tivesse sido perdido? Se os matemáticos do Renascimento tivessem tido acesso a ele?

"Isso teria mudado a matemática, é claro, mas devemos ter em mente que influenciaria todas as ciências. Então, basicamente, teria sido se a maré do conhecimento tivesse subido centenas de anos atrás", responde Rorres.

AUTOR: BBC
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