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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

NOS EUA, HOMEM PASSA 68 ANOS PRESO APÓS SER CONDENADO A PRISÃO PERPÉTUA NA ADOLESCÊNCIA

 

Joe Ligon posa para foto em frente ao escritório de seu advogado em Filadélfia, nos EUA. Ele foi condenado à prisão perpétua ainda na adolescência, mas foi solto nesta quinta-feira (18) — Foto: Jessica Griffin/The Philadelphia Inquirer via AP

Joe Ligon tinha 15 anos quando foi preso por participar de uma série de roubos e agressões que provocaram a morte de dois idosos. Ainda hoje, aos 83, ele diz que ajudou nos roubos, praticados por um grupo de adolescentes alcoolizados, mas que não teve nenhum envolvimento com as mortes. Ainda assim, passou 68 anos preso por causa dos crimes.

Ele foi a pessoa mais velha nos EUA a ser detida na adolescência e também a que passou mais tempo presa. Perdeu a chance de sair antes porque não queria liberdade condicional, mas desejava ser “livre de verdade”. O que agora conseguiu.

Seu destinou começou a mudar em 2017, depois que sua pena de prisão perpétua foi comutada para "35 anos a perpétua", o que lhe daria o direito de solicitar a condicional após o cumprimento de 35 anos. Isso aconteceu porque a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que a prisão perpétua automática para crianças (que ele tinha recebido aos 15 anos) é cruel e incomum.

Preso aos 15 anos, Joe Ligon é a pessoa que passou mais tempo presa nos EUA: 68 anos — Foto: Montagem/G1

“Com a liberdade condicional, você tem que ver o pessoal da condicional de vez em quando. Você não pode deixar a cidade sem permissão da liberdade condicional. Isso é parte da liberdade para mim”, disse Ligon ao jornal “The Philadelphia Inquirer”, admitindo que é “muito teimoso”.

Colegas beneficiados pela mesma medida tentaram convencê-lo de que ele poderia tentar recorrer já fora da prisão, mas ele preferiu continuar sua luta de dentro da cela.

Foram necessários mais três anos para que seu advogado ganhasse em corte uma ação na qual alegou que sua prisão perpétua era inconstitucional e que sua pena já havia sido integralmente cumprida.
VÍDEO: Homem é libertado após 68 anos na prisão nos EUA

No dia 11 de fevereiro de 2020, Joe Ligon se tornou um homem verdadeiramente livre, da forma como desejava.

Ligon, que era analfabeto quando foi preso, aprendeu a ler e escrever na prisão, onde aprendeu a lutar boxe e desenvolveu uma rotina de treinos físicos que mantém ainda hoje, aos 83 anos de idade.
Ele disse ao “The Philadelphia Inquirer” que lamenta apenas que seus pais e seu irmão não possam vê-lo fora da cadeia, mas que não está triste.

Apesar de estranhar a paisagem ao sair da Instituição Correcional Estadual Phoenix, especialmente os grandes prédios que nunca tinha visto de perto, ele acredita que vai se adaptar bem à vida do lado de fora, onde será acomodado temporariamente com uma família voluntária. Para isso, assistia a muitos noticiários na TV em sua cela e garante que acompanhava tudo que acontecia pelo mundo.

FONTE: G1/VÍDEO: YOUTUBE


domingo, 16 de fevereiro de 2020

CONHEÇA OS GRUPOS MARGINALIZADOS QUE DIFUNDIRAM A TATUAGEM NO BRASIL

Nesta foto de 1939, os dois temas mais recorrentes da tatuagem brasileira: religiosidade e afeto DIVULGAÇÃO – EDITORA VENETA

Corria o ano de 1976. Em plena madrugada, dois jovens cariocas perambulavam pela zona portuária de Santos, no litoral paulista. Ainda sob efeito dos drinques consumidos nos bares da região, decidiram atravessar a porta da loja de tatuagens. O dono, sujeito forte e calvo, de cabelos louros e pele bem clara, puxou conversa.

Chamava-se Knud Gregersen e era dinamarquês. Na pele de um daqueles rapazes, traçou um sol estilizado. Diversas solicitações interromperam o serviço: uma prostituta erguia a saia, exigindo que lhe fizesse um coração no traseiro; próximos à entrada, marujos filipinos iam se aglomerando em filas.

Gregersen se exasperou. Temia passar o resto da noite desenhando baleias. O mamífero aquático, afinal de contas, era mascote do Santos Futebol Clube, time que revelou Pelé. 

De tempos em tempos, marinheiros das mais variadas nacionalidades davam as caras no estabelecimento, decididos a homenagear o jogador. Daquela vez, resmungou Gregersen, não seria diferente. Ele contava quase cinco décadas de vida e sabia do que estava falando.

Com o pai, aprendera o básico do ofício. Terminada a Segunda Guerra, mudou-se para Hamburgo e teve aulas com Christian Warlich, um dos mais importantes tatuadores da Alemanha. Depois, na companhia de um cachorro, deu a volta ao mundo. 

Tatuou na Austrália e boa parte da Europa Ocidental. Atendeu marujos nas Ilhas Canárias e trabalhou em feiras do continente africano. Contornou a Argentina, o Uruguai, e acabou se apaixonando pelo Brasil.

Em 1959, desembarcou no porto de Santos e logo abriu um ateliê. Trazia consigo um artefato até então desconhecido por aqui — uma máquina elétrica, própria para tatuagens.

Tornava-se assim o primeiro (e, por muito tempo, o único) tatuador a possuir um estabelecimento do gênero no país. Sob o pseudônimo de Lucky Tattoo, angariou fama nacional nos anos 1960. 

Quando morreu, vitimado por um ataque cardíaco em 1983, já havia se convertido em figura de culto entre adeptos das artes corporais. Hoje, seu nome desponta como elo fundamental entre o passado e o presente da tatuagem brasileira.
O dinamarquês Knud Gregersen, conhecido como Lucky Tattoo, chegou ao Brasil em 1959 DIVULGAÇÃO – EDITORA VENETA

"A tatuagem se desenvolvia em lugares de confinamento, como navios, quartéis e prisões", explica Silvana Jeha, doutora em História Social pela PUC-Rio. "Por outro lado, ela também aparecia na praça pública, na rua, no bar. Não existiam estúdios de tatuagem. Até então, o tatuador era um cara qualquer, que desenhava ali na esquina."

O repertório iconográfico pouco diferia do atual. Há cem anos, a pele dos tatuados já ostentava âncoras, animais, mulheres nuas, símbolos políticos ou religiosos, personagens de histórias em quadrinhos, nomes e iniciais de pessoas queridas. Os traços, porém, evidenciavam certo amadorismo, ligado a uma prática quase ritualística, infinitamente mais bruta e perigosa que os procedimentos de hoje em dia.

Agulhas, espinhos e cacos de vidro eram alguns dos apetrechos utilizados na feitura dos desenhos. Cinzas de cigarro, graxa de sapato, carvão vegetal, fuligem e nanquim compunham fórmulas de pigmentos improvisados. Aos arrependidos, sobravam métodos de remoção igualmente dolorosos, baseados em queimaduras de ácido ou de castanha de caju.

"A tatuagem era uma prática horizontalizada e sofreu enorme discriminação. Perdemos o fio dessa meada e só retomamos muito tempo depois, via cultura pop", afirma Jeha, que pesquisou o tema por mais de cinco anos.

No livro Uma História da Tatuagem no Brasil, publicado no final de 2019 pela editora Veneta, a historiadora compartilha suas descobertas e analisa as transformações sofridas por essa arte entre a primeira metade do século 19, período em que se firma como cultura popular urbana, e meados da década de 1970, quando cai no gosto da classe média.

Imaginário

"O livro é filho do meu doutorado", diz. A tese que defendeu em 2011 versa sobre a Marinha Imperial brasileira e as contribuições de seus recrutas para o desenvolvimento de uma cultura cosmopolita no país. "Eu entrei nessa onda do marinheiro ser um tipo meio extraordinário e mítico", afirma.

Um livro de registros da fragata de guerra Imperatriz, contendo informações sobre 900 marujos, ganhou espaço na tese. Trata-se do documento mais antigo que a autora já encontrou acerca da presença de tatuados no Brasil.

Os tripulantes que embarcaram no navio entre 1833 e 1835 foram catalogados em função de seus atributos físicos — altura, cor dos olhos e da pele, cicatrizes, formato da cabeça e, vez ou outra, desenhos descritos como "marcas" ou "sinais". A palavra "tatuagem" surgiria apenas algumas décadas depois.
Mickey Mouse, icônico personagem de Walt Disney, tatuado nos braços de um marinheiro paulista na década de 1930 DIVULGAÇÃO – EDITORA VENETA

Intrigada, a historiadora decidiu iniciar uma pesquisa sobre o tema. "Eu não sabia muito bem como isso funcionava socialmente. Aliás, acho que quase ninguém sabia", diz. "Há um imaginário de que tatuagem era apenas coisa de marinheiros, bandidos e putas. Mas não foi bem assim."

A pesquisa, financiada pela Biblioteca Nacional, se apoiou em duas fontes principais: a coleção de jornais da instituição e o acervo do Museu Penitenciário Paulista, que abriga 2.600 fotografias de detentos do Carandiru, tiradas entre as décadas de 1920 e 1940.

Muitos desses indivíduos, ressalta Jeha, já chegaram tatuados ao complexo penitenciário. "É preciso entender que essas pessoas tiveram uma existência anterior à cadeia", diz. "Elas trabalharam, andaram pelo mundo, e, depois de presas, reafirmaram seu domínio sobre a única coisa que ainda tinham — o corpo."

Cruzando informações de seus prontuários com textos encontrados nas páginas dos jornais, a autora pôde mapear os principais grupos envolvidos na difusão da tatuagem no Brasil e entender como foram vistos pela sociedade da época.

Os marinheiros, como esperado, marcavam forte presença. "Os marujos não são necessariamente os pioneiros da tatuagem dita ocidental", esclarece a historiadora. "Mas foram eles que espalharam essa cultura pelo mundo."

Eram sujeitos como Joaquim, que, tentando driblar uma rotina de castigos físicos, tatuou um crucifixo nas costas e a imagem de Cristo no peito. Segundo relatos de 1904, os capatazes do navio temiam agredi-lo — acreditavam que os golpes feriam Jesus.

Ou como o idoso que, à beira da morte num leito de hospital, narrou a Jeha a origem da frase "Amor à Cuba", que trazia inscrita na mão. Por dois meses, seu navio permanecera atracado na ilha. Enquanto a embarcação sofria reparos, o tripulante saiu, dançou salsa e conheceu Fidel Castro. 

A tatuagem, garantiu o marinheiro à pesquisadora, seria uma "lembrança daqueles dias maravilhosos".
Ariosto, detento do Carandiru, tinha na coxa o desenho de uma mulher nua. Ele fez a tatuagem em casa, no ano de 1934 DIVULGAÇÃO – EDITORA VENETA

Já nas páginas dos tabloides, manchetes sanguinolentas davam testemunho dos supostos vínculos entre a tatuagem e a criminalidade: "Tatuado no assalto ao armazém"; "Dois tatuados e um bicheiro assassinados a bala e faca"; "Massacre do homem tatuado só poupou um bebê"; "Jovem tatuado agonizava na rua com três rombos de bala na cabeça".

Tangenciando ambos os universos, reportagens sobre prostituição documentavam as trajetórias erráticas de mulheres que transgrediam as normas de seu tempo.

A alagoana Beatriz Barbosa, por exemplo, pautou dezenas de textos jornalísticos entre 1919 e 1948. Suas andanças pelo Rio de Janeiro, então capital federal, costumavam terminar em delegacias e faziam as delícias do noticiário sensacionalista. Foi presa mais de vinte vezes, sempre por delitos menores: furtos, brigas, bebedeiras, vadiagem, meretrício. Viciada em cocaína, chegou a ser descrita como "recordista de entradas na detenção e campeã de tatuagens".

Fervor e pertencimento

Nem só de mar, crime e sexo pago viviam os tatuados nos grandes centros urbanos. Militares de baixa patente, trabalhadores braçais, artistas circenses, imigrantes e degredados também ostentavam desenhos no corpo.

Muitos soldados se tatuavam com bandeiras nacionais, siglas de batalhões, slogans ufanistas e emblemas patrióticos em geral. Outros, porém, escolhiam símbolos e imagens não vinculadas às questões bélicas.

O praça Marcelino Bispo de Mello era um deles: possuía estrelas de cinco pontas tatuadas no peito, cotovelo e braço. Em novembro de 1897, ele assassinou o marechal Carlos Machado de Bittencourt, ministro da Guerra, num atentado contra Prudente de Morais, presidente da República. 

Os desenhos foram constatados no exame de corpo de delito e citados pela imprensa em janeiro do ano seguinte, após Marcelino cometer suicídio na cadeia, enforcando-se com um lençol.
José, um estivador português, tatuou no braço a frase 'Tudo por São Paulo', lema da Revolução Constitucionalista de 1932, mas errou a data do levante, que teve início no dia 9 de julho daquele ano DIVULGAÇÃO – EDITORA VENETA

Não foi o único momento de turbulência a contar com a participação de tatuados: os levantes tenentistas da década de 1920, bem como as revoluções de 1930 e 1932, estimularam diversos trabalhadores a expressarem na pele suas convicções políticas. Outros perderam a vida, tendo seus corpos reconhecidos a partir das tatuagens que carregavam.

O marceneiro Manoel Moreira da Costa, vulgo Costeleta, foi preso, torturado e morto em outubro de 1931, ao se manifestar contra o governo que Getúlio Vargas instituira no ano anterior. Seu cadáver degolado, disposto numa linha de trem em Recife, foi identificado pela mãe e pela namorada graças a uma inscrição contendo o nome de uma terceira mulher — Adélia. Também movido pelo repúdio ao getulismo, o estivador José tatuaria no braço a frase "Tudo por São Paulo", lema do movimento constitucionalista de 1932.

Na outra ponta, alheios ao caos social e imersos em exotismo escapista, profissionais de freak shows empreendiam turnês internacionais que incluíam os circos, cinemas e teatros das cidades brasileiras. Em 1890, o greco-albanês George Costentenus, um dos mais célebres artistas itinerantes do século 19, chegou a participar de espetáculos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Às plateias, exibia seu corpo inteiramente tatuado e narrava as aventuras mirabolantes que teria vivido ao redor do globo.

Trajetórias tão diversas, relata Jeha, transformaram radicalmente o seu olhar sobre o tema, culminando num processo de autoconhecimento. "Eu fiquei muito fascinada. Enquanto historiadora, sempre estive acostumada a estudar o outro", diz. 

"E, de repente, descobri que meus antepassados se tatuavam."
Retrato do greco-albanês George Costentenus, artista circense que rodou o mundo exibindo seu corpo tatuado DIVULGAÇÃO – EDITORA VENETA

A pesquisadora, descendente de libaneses, soube que o avô de um primo possuía uma cruz tatuada na mão. O desenho cumpria um objetivo específico, confirmado por fotografias e depoimentos de patrícios: impossibilitar a negação da fé cristã em eventuais embates contra muçulmanos.

"Há algo de emotivo, um sentimento incrível de saber que essa cultura também pertence a mim", diz. "Depois, fui percebendo que ela pertence a todo mundo que vive aqui. Portugueses, italianos, japoneses, alemães, indígenas, africanos."

Se existe algum vínculo a unir todas essas pessoas, afirma Jeha, trata-se do terreno por onde elas se movem — uma tênue e ambígua fronteira entre as dimensões do erótico e do sagrado.

"Embora se mostre tão escancarada atualmente, a tatuagem sempre foi algo muito íntimo. As mulheres tatuavam muito os seios, alguns homens chegavam ao extremo de tatuar o pênis", explica. "É uma prática relacionada ao fervor e às paixões. 

O nome da pessoa que você ama, os símbolos da sua religião, o time para o qual você torce."

Um sinal de suspeição

Para além dos registros policiais e jornalísticos, o universo literário forneceu pistas igualmente valiosas à historiadora. 

Nos escritos de Jorge Amado, Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Plínio Marcos e João do Rio, ou até mesmo do americano Herman Melville, Silvana Jeha encontrou dezenas de referências aos tatuados brasileiros.
Adib, imigrante sírio-libanês, teve a mão tatuada com uma pequena cruz quando criança. Imigrantes de diversas nacionalidades contribuíram para o desenvolvimento da tatuagem brasileira DIVULGAÇÃO – EDITORA VENETA

"A literatura é o retrato de uma época", diz. "Acredito que os escritores possuem uma sensibilidade maior. Boa parte deles via a tatuagem com muita curiosidade, como uma cultura dotada de beleza própria. Eram muito mais atentos às nuances, se comparados aos demais narradores."

Machado de Assis, o mais antigo escritor brasileiro a ser analisado pela pesquisadora, já descrevia tatuagens na novela O Alienista, de 1882. Em certo trecho da obra, protagonizada por um médico que inaugura um manicômio e se afunda na própria insanidade, o romancista carioca menciona brevemente uma estrela de cinco pontas "impressa no braço" de um personagem secundário.

Treze anos depois, Manuel de Souza, imigrante português preso sob acusação de homicídio, seria retirado da delegacia onde cumpria pena e utilizado como modelo vivo numa aula da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Na ocasião, o professor Souza Lima, precursor da medicina legal no Brasil, expôs aos alunos as tatuagens do acusado. 

Baseando-se nelas, emitiu seu veredicto: ainda que não tivesse cometido crime algum, Manuel deveria ser tratado como um suspeito em potencial.
Lauro, detento do Carandiru, tatuou no peito um coração trespassado por um punhal e o nome de sua amada DIVULGAÇÃO – EDITORA VENETA

Machado de Assis, então, retornou ao tema. Em crônica publicada pela Gazeta de Notícias no dia 23 de julho de 1895, disse: "Foram as tatuagens do corpo do homem que me deslumbraram. 

As tatuagens são todas ou quase todas amorosas. Braços e peitos estão marcados de nomes de mulheres e de símbolos de amor".

Por fim, o escritor lançava um questionamento: como poderia "um homem tão dado a amores, que os escrevia em si mesmo", ser também um assassino?

Jeha explica: "Nosso país sempre esbarrou em questões de classe e raça. Os cidadãos são discriminados pela cor, pela aparência, pela posição social. E a tatuagem, no contexto daquela época, se destacava como um sinal de suspeição. Era algo literalmente marcado na pele."

A sorte que o Brasil do século 20 reservou aos seus tatuados não foi muito melhor.

Na década de 1930, um trabalhador rural baiano, identificado apenas pelas iniciais J.R.B., tentaria a todo custo remover os desenhos que carregava na pele. Alegava que teriam lhe trazido "pinta de malandro".

O sambista carioca Guilherme de Brito, parceiro de Nélson Cavaquinho, também se arrependeria de uma tatuagem feita na juventude — um índio, traçado no braço por um morador da favela do Tuiuti.

Pelo resto da vida, o músico esconderia o membro tatuado — temendo represálias, nunca mais vestiu uma camisa de manga curta.

Feminicídios e execuções policiais foram o destino final de alguns tatuados, mas o livro nem sempre expõe as circunstâncias de suas mortes.

"Tentei descriminalizar a tatuagem", explica a autora.

"Se o cara pertencia a uma escola de samba e torcia para um time de futebol, por que me referir a ele como o sujeito assassinado pelo Esquadrão da Morte? Os jornais costumam criar admiração e fascínio mórbido por notícias de crime, quando isso não passa de uma doença social."

AUTOR: BBC

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

'MEU PAI É UM GENOCIDA': AS FILHAS DE TORTURADORES NA ARGENTINA QUE ROMPERAM O SILÊNCIO SOBRE 'SEGREDO FAMILIAR'

'Somos filhas biológicas desses genocidas, mas repudiamos o que nossos pais fizeram', diz Paula, cujo pai trabalhava para a polícia secreta Foto: Paula / Historias Desobedientes/Via BBC

"Pai, é verdade que você matou centenas de pessoas"? Certamente, esta não é uma pergunta que os filhos sentem a necessidade de fazer aos pais. Mas para um grupo de mulheres na Argentina, se tornou urgente e inevitável.

Os pais delas foram acusados ​​e, em muitos casos, condenados por alguns dos piores crimes cometidos na história recente do país — eles eram policiais e militares na época da ditadura.
Por quase sete anos, desde o golpe em 1976, os governos militares que controlaram a Argentina perseguiram seus oponentes políticos — comunistas, socialistas, estudantes, artistas, líderes sindicais... todos que consideravam uma ameaça — e sequestraram, torturaram e mataram milhares de cidadãos.
Analía com seu pai, Eduardo Emilio Kalinec Foto: Analía Kalinec/Via BBC

Esta é a história de duas filhas destes homens que, depois de quatro décadas, levantam publicamente suas vozes contra seus pais.

O temido Doutor Kanalía

Kalinec, de 40 anos, tem olhos claros, grandes e silenciosos. Ela se apresenta e conta sua história: "Sou professora, psicóloga, mãe de dois filhos... e também filha de um genocida.

Meu pai nasceu em 1952, no seio de uma família de classe média que tinha dificuldades econômicas. Ele abandonou os estudos no terceiro ano do ensino médio e decidiu entrar na Polícia Federal por volta de 1973, muito jovem.
Os Kalinec eram uma 'família típica', que se reunia para comer churrasco, ir ao clube da polícia e pescar Foto: Analía Kalinec/Via BBC

Nasci na ditadura e sempre soube que meu pai era policial, não nos perguntávamos o que ele fazia ou deixava de fazer. Em casa, ele era um pai muito presente, mas nunca perguntei nada a ele.

Éramos uma 'família típica', que se reunia para comer churrasco, ir ao clube da polícia e pescar... Meu pai era o pai provedor, muito querido, muito respeitado dentro de casa.
Nós éramos quatro irmãs e vivíamos na nossa bolha. Depois, fomos nos casando e tendo filhos, como esperavam de nós. Fui a última das quatro, casei com apenas 22 anos... imagine!
Tanques e soldados em frente à Casa Rosada, em Buenos Aires, em 24 de março de 1976 Foto: AFP/Via BBC

E a vida era assim. Até o ano de 2005.

Era o último dia de agosto. Eu estava em casa quando recebi uma ligação. Era minha mãe. 'Olha, não entre em pânico, seu pai está preso. Mas fique tranquila, ele vai sair (de lá)'.

Até essa ligação, eu nunca havia relacionado meu pai à ditadura, nem de longe... nem de longe."
Eduardo Kalinec, então um policial jovem, era conhecido como o temido Doutor K Foto: Analía Kalinec/Via BBC

O comissário Eduardo Emilio Kalinec foi mantido em prisão preventiva. Ele havia sido mencionado no depoimento de testemunhas e denunciado por crimes graves: 181 vítimas, acusações de sequestro, tortura e assassinato. E tranquilizou a família dizendo que se tratava de uma jogada política contra ele.

"No dia seguinte àquela ligação, visitamos meu pai na prisão. E ele nos disse que não precisávamos acreditar em nada, que muitas mentiras seriam ditas, mas que ele não tinha nada a se arrepender. Que ele tinha saído para lutar em uma guerra e que isso estava acontecendo agora porque 'revanchistas de esquerda' chegaram ao poder (uma alusão ao governo do então presidente Néstor Kirchner).
Quando a junta militar assumiu o controle do país, as forças de segurança perseguiram aqueles que consideravam 'subversivos' Foto: Getty Images/Via BBC

Não entendi nada, para mim a ditadura era algo do passado. Eu estava totalmente alheia ao que estava acontecendo no país. Eu trabalhava em uma escola particular, costumava encontrar minhas irmãs no fim de semana, circulávamos entre famílias de colegas policiais do meu pai — e esse era meu círculo.

Eu não tinha acesso a muitas informações e tampouco tinha interesse. Meus pais também procuraram manter uma postura de neutralidade, 'não nos metemos em política, somos apolíticos'.

Quando meu pai foi preso, comecei com muita dificuldade a colocar tudo dentro de um contexto. Os três primeiros anos foram de negação absoluta. De entender a ditadura, entender a luta das Mães e Avós (da Praça de Maio) e sentir empatia com elas, mas de dizer que meu pai não teve nada a ver com isso. Que foi um erro, que os julgamentos estavam indo bem, mas que estavam errados em relação a meu pai.
O centro clandestino de detenção El Olimpo, onde Kalinec torturava, funcionou por 17 meses Foto: Valeria Perasso/Via BBC
Até que, em 2008, eles levaram o caso dele a julgamento. E comecei a pensar que o que meu pai estava me dizendo não era bem verdade... "

Kalinec foi um dos 15 réus no primeiro julgamento do chamado Circuito ABO — sigla para os centros clandestinos de detenção Atlético, Banco e Olimpo, que operaram sucessivamente entre 1976 e 1979. Tanto os acusados quanto muitos presos foram transferidos de um centro para outro.
Estima-se que cerca de 500 presos tenham passado pelo centro de detenção clandestino El Olimpo, localizado no bairro de Flores Foto: Arquivo Conadep/Via BBC

"Eu li o processo, que até aquele momento eu não tinha lido. Li com muita velocidade e pedindo para 'que o nome dele não apareça, por favor, que o nome dele não apareça'. Não queria pular nenhuma linha para ter certeza de que não havia perdido nada, e de repente apareceu... Kalinec. Lembro claramente daquele momento.

Eu li os relatos das testemunhas, as descrições do que havia sido um campo de concentração. Criar todo esse mapa na minha cabeça e colocar meu pai dentro dele tornou tudo inaceitável e difícil."

Para os sobreviventes que testemunharam, o pai de Analía era o "Doutor K". Muitos torturadores usavam um pseudônimo para esconder sua verdadeira identidade.
A maioria dos presos que passaram pelo circuito ABO ainda está desaparecida Foto: Arquivo Conadep/Via BBC

"Eu sabia que chamavam ele de Doutor K porque ele havia me contado, mas depois negou. Uma vez perguntei por que, e ele me disse que era chamado de doutor porque sempre foi muito correto e parecia um advogado.

Para meu marido, ele deu outra explicação, disse que era por causa de um produto de limpeza que havia na época, a marca Doutor K: era ele quem fazia a limpeza. Terrível. E depois (eu descobri) outro fato não menos importante: ele era o doutor, e a sala de tortura era chamada de sala de cirurgia.

Em seguida, procurei respostas no único lugar que podia: dentro da minha própria família. E deparei com um pai que queria justificar o injustificável e que, quando o repreendi, dizendo 'como você não fez nada, se há todos esses depoimentos no processo?', ele acabou confirmando o que eu temia.

E admitiu sua participação.
Eduardo Emilio Kalinec durante o julgamento, ele foi condenado à prisão perpétua Foto: CIJ/Via BBC

Meu pai, hoje com 67 anos, fazia parte dos grupos que sequestravam e levavam as pessoas aos centros de detenção clandestinos. Ele tinha 24 ou 25 anos na ditadura. Não dava ordens, apenas executava.

E, mesmo assim, em alguns trechos dos depoimentos, os sobreviventes dizem que era conhecido como alguém muito cruel dentro dos campos de concentração. Eles temiam mais alguns repressores do que outros. E meu pai era um daqueles que metiam medo."

As vozes das vítimas

Dezenas de testemunhas, em diferentes instâncias judiciais, apontaram Eduardo Kalinec como participante de interrogatórios e sessões de tortura nos centros clandestinos.
Quinze acusados no primeiro julgamento do circuito ABO — na foto, Kalinec olha suas anotações na segunda fileira, o segundo a partir da esquerda Foto: CIJ/Via BBC
Oito delas durante o julgamento do circuito ABO, que o levou a ser condenado à prisão perpétua. Ele foi descrito como um jovem de cabelos escuros, atarracado, com pescoço grosso e voz aguda.

"Muito temido" e "muito cruel" com os presos, segundo os relatos.

Ana María Careaga tinha 16 anos e estava grávida de três meses quando foi levada. O Doutor K a chutava toda vez que a via no banheiro. Em uma ocasião, ele a repreendeu aos gritos por não dizer que estava grávida. "Você quer que eu abra suas pernas e te faça abortar?"

Miguel D'Agostino o identificou como um dos três homens que o submeteram a cinco dias de interrogatório com choque elétrico na "sala de operações".

Delia Barrera também foi vítima de tortura durante os 92 dias em que ficou detida em El Atlético. Era 1977, e ela tinha 22 anos.
Paula soube que o pai trabalhava para serviços de inteligência quando tinha 14 anos Foto: Paula / Historias Desobedientes

"Estava encapuzada, havia muitas vozes ao meu redor. Até que uma voz diz 'comecem', e começaram a me bater. Me arrastaram pelo cabelo para o que chamavam de sala de operações. Havia três salas, e se ouvia quando torturavam outras pessoas na sala ao lado", contou Barrera à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

"Eles me obrigaram a me despir. Me amarraram a uma cama de metal, abriram minhas pernas, prenderam um cabo no polegar do meu pé esquerdo e me fizeram ouvir um barulho: 'shhhhh'. E me disseram: 'Você já conhece? Bem, agora vocês vão se conhecer'. E começaram os choques elétricos."

"Me acusaram de colocar bombas no departamento de polícia, o que eu nunca fiz. Me pediram nomes de colegas de militância. E a tortura não parava... "

Após uma sessão de tortura, ela conheceu Kalinec.

"Eles me bateram muito e me levaram para a enfermaria, um repressor a quem chamavam de Doutor K me interrogou, então pensei: 'Ah, um médico'."

"Ele disse que eu tinha quebrado as costelas, mas que não iria me enfaixar porque eu podia me enforcar com as ataduras. Consegui dar uma espiada, o capuz estava meio levantado e nunca esqueci o rosto de Kalinec. No julgamento, estava com gel no cabelo, mas ainda tinha o bigode. Quando os juízes me perguntaram se eu reconhecia alguém, eu disse: 'Aí está o Doutor K, Kalinec'. Eu não poderia esquecer Kalinec."
Soldados revistam um civil em Buenos Aires, em 1977 Foto: Getty Images/Via BBC

Delia foi libertada e viveu para contar esta história, com sequelas físicas e mentais. Traumas do choque elétrico, uma costela mal cicatrizada, repetidas tentativas de suicídio.

Outros não tiveram a mesma sorte. Entre eles, seu marido Hugo Alberto Scutari. Ela não voltou a vê-lo desde que dividiram uma cela por algumas semanas no El Atlético. Hoje, ele é um dos presos políticos do regime desaparecidos: as organizações de direitos humanos estimam que são cerca de 30 mil, embora não haja um consenso sobre o número exato.

As cartas
Analía confrontou o pai com as evidências apresentadas no processo judicial.
Paula, quando era criança, com o pai: 'Nunca o vi de uniforme' Foto: Paula / Historias Desobedientes/Via BBC

"Depois de uma conversa na prisão, onde ele ficou muito desconfortável e nervoso, senti uma espécie de libertação. Voltei para casa e escrevi Carta aberta a um repressor. Na minha família, sempre escrevíamos cartas. E usei o nome 'repressor'. Agora é completamente naturalizado, mas essa palavra precisou ser colocada... E como eu não podia dizer na cara, eu escrevi."

Aquele dia na prisão foi, sem que eu soubesse, a última vez que vi meu pai.

Não imaginava nem de longe a dimensão que a rebeldia de me atrever a duvidar dele tomaria. Além disso, havia toda a censura da minha mãe e das minhas irmãs: 'Como você vai dizer isso a ele, justo neste momento em que ele mais precisa de nós, temos que estar unidos, e você vem com isso!'.

Minhas irmãs, que também são policiais, sempre ficaram do lado do meu pai. Hoje, não me relaciono com elas.
Protesto das Mães da Praça de Maio em 1986 Foto: Eduardo Longoni / Getty Images/Via BBC

Naquela época, também comecei, além das cartas, a fazer um registro narrativo pessoal pensando nos meus filhos — e em como explicar a eles que, de repente, ficaram sem avós, sem primos, sem tias.

E a coisa começou meio verborrágica, contei a eles toda a verdade. Ao ponto de um dia me ligarem da creche: 'Olha, precisamos marcar uma reunião, porque Gino (filho mais velho, então com 4 anos) disse aos colegas de turma que o avô dele estava na prisão porque havia matado muitas pessoas'. E os colegas começaram a perguntar se ele tinha metralhadoras, se tinha tanques... A professora ficou chocada.

É um exercício constante conciliar essa imagem do Doutor K com a do pai amável. No que se refere à vida em família, lembro dele fazendo cócegas, nos abraçando...

Em um primeiro momento, a dissociação foi mais forte. Me lembro de dizer 'de um lado está meu pai, e do outro lado, o genocida'. Mas ao trabalhar isso na terapia, acabei reconhecendo que não, que é sempre a mesma pessoa, uma única pessoa com uma parte que mantém oculta, mas que faz parte dela e que não me engana mais."
Analía (ao centro), junto a outros familiares de genocidas, decidiu formar a organização Histórias Desobedientes Foto: Historias Desobedientes/Via BBC
Kalinec foi condenado à prisão perpétua em dezembro de 2010 por homicídio qualificado, tortura e privação ilegítima de liberdade, crimes agravados por terem sido cometidos por um funcionário público. Ele nega as acusações.

Dos quase 3,3 mil investigados por crimes contra a humanidade desde que os julgamentos foram reabertos, em 2007, 962 pessoas foram condenadas em 238 processos, segundo o último relatório da Procuradoria de Crimes contra a Humanidade. Ainda há mais de 350 processos em tramitação.

Agente da polícia infiltrado

Mas nem todos os ex-membros das forças de segurança chegam ao banco dos réus. O pai de Paula* é um deles.
O grupo publicou um livro coletivo, chamado 'Escritos desobedientes' — na imagem, Paula na apresentação da publicação Foto: Valeria Perasso/Via BBC
"Nasci em Buenos Aires em 1980, quando a ditadura estava em pleno apogeu.

Desde que me dei conta de que o que havia acontecido na ditadura era responsabilidade do meu pai, que ele havia trabalhado para eles, esse sentimento de vergonha e culpa me acompanha, como se eu fosse cúmplice. Porque eu sei tudo isso e não há nada que eu possa fazer. Guardo um segredo que não quero guardar.

Meu pai nunca foi levado à justiça. Como tenho certeza de que ele é culpado? Bom, porque ele me disse. Eu sei que ele fez parte da repressão, porque ele me disse. Meu pai trabalhava para os serviços de inteligência, provavelmente como espião.
Bruno, de 12 anos, é o filho mais novo de Analía — ele acompanha a militância da mãe Foto: Valeria Perasso/Via BBC

Quando eu tinha 14 anos, meu pai levou meu irmão e eu para tomar um café e nos disse que era policial. Não tínhamos ideia. Ele contou que havia participado da "guerra contra a subversão", como ele chamava. E estava orgulhoso, se sentindo um herói. Naquela época, eu não entendi. Demorou um tempo, levei uns dois meses para digerir a informação.

Ele costumava se infiltrar em diferentes grupos de estudantes, de assistentes sociais ou de qualquer perfil que os militares não gostassem. E 'marcava' os militantes, passando o nome deles aos seus superiores.

Ele era muito jovem, tinha 20 e poucos anos e, pelas fotos que havia em casa, não parecia um policial. Ele tinha cabelos compridos e usava camisas largas, como qualquer cara nos anos 1970. O que eu sabia é que ele era advogado.

Não socializávamos com outros policiais, em casa ouvíamos música 'proibida' como (Joan Manuel) Serrat... Se você visse meu pai, não diria 'olha, um policial'. Na minha casa, nunca vimos um uniforme. Nunca.

Quando ele nos contou tudo, eu o confrontei. E disse: 'Não importa se eles fizeram algo ou não. Você não pode sequestrá-los e torturá-los! Não pode matar porque são, segundo você, subversivos! É simples, ninguém pode fazer isso, e muito menos o Estado poderia fazer'.

Eu tive essa conversa com ele muitas vezes. 'Eles eram terroristas', repetia ele. E daí? Digamos que fossem: você precisa agir dentro da lei. 'Você não entende, a ameaça comunista estava chegando', ele me repreendia. 'Não importa, pai. Não é razão para matar, torturar, estuprar e sequestrar crianças. De maneira nenhuma'.
Argentinos vão às ruas todos os anos em memória das vítimas do regime militar Foto: Valeria Perasso/Via BBC

Dez anos depois de descobrir o segredo da família, Paula cortou relações com o pai.

"Família é família... Então, eu tive de continuar convivendo com ele, depois fiquei sem vê-lo por um tempo porque estava com muita raiva. E era assim, idas e vindas, em parte porque minha mãe insistia: 'É seu pai, como você não vai vê-lo?' Mas quando minha mãe morreu, me senti mais livre e decidi dar um ponto final. Cortei relações com ele. E isso foi há 15 anos.

Não havia mais volta. Ele é uma pessoa horrível, e eu não quero alguém assim na minha vida. Ele sempre repetiu para mim que havia feito o que precisava ser feito, que agiu corretamente, que os crimes foram necessários. Ah, e ele não chamava de crimes, é claro. Ele chamava de 'ações'.

Então, a certa altura, já não me importava mais se ele havia sido condenado ou não, eu sabia o que ele tinha feito porque ele se vangloria disso. Ele fez parte deste mecanismo de violência que defende até hoje.

Eu não tenho boas lembranças, de qualquer maneira. Faço terapia há 15 anos e voltamos com frequência a esse tema: como é possível que não tenha nenhuma lembrança? Sei que há fotos em que somos uma família feliz, mas não tenho esse registro.

Se eu tiver de pensar em uma recordação boa... Deixa eu pensar... Acho que tenho uma... Poderia dizer que meu pai desenhava muito bem. Uma vez, ele desenhou uma Cinderela muito linda. Ele era um bom desenhista.

De resto, me dava medo. Ele tinha uma aura assustadora, digamos. Ele sabia como botar medo. Há um tempo atrás, me encontrei com amigos de infância, estávamos lembrando daquela época e um dos meus amigos me confessou: 'Seu pai era muito assustador'. E eu pensei: 'Sim, eu também tinha medo dele'.

Não era violento, no sentido de que não nos submetia à violência física. Mas era um jogo psicológico."

Histórias Desobedientes

Paula e Analía se encontraram não faz muito tempo com a ajuda das redes sociais. Elas decidiram que queriam se manifestar, sair às ruas, enfrentar a família e repudiar o que seus pais haviam feito aos olhos de todos.

Analía: "Começamos a ver que havia outras filhas e filhos de genocidas que viviam silenciosamente sua rejeição. Nos encontramos. Foi algo espontâneo dizer: 'Temos que fazer alguma coisa, isso é intolerável'. E nos perguntamos como nos apresentaríamos...
E pedem com cartazes: 'Nunca Mais' Foto: Valeria Perasso/Via BBC

Decidimos deixar este lugar de parentes de genocidas, repudiamos os crimes e abraçamos as bandeiras da memória, verdade e justiça. Decidimos nos chamar de Histórias Desobedientes. Fizemos uma bandeira e saímos marchando para a praça. Na primeira vez, éramos quatro, todas mulheres, cheias de energia e alegria..."

Paula: "Quando descobri (o grupo), foi um despertar: 'Meu Deus, eu sabia que não poderia ser a única!' Sinto que as pessoas no grupo me entendem como ninguém. Imagina, eu sei quem é meu pai desde os 14 anos e nunca conversei com ninguém.
A primeira pessoa para quem eu contei foi minha psicóloga, mas depois guardei esse segredo por 23 anos até encontrar com elas (há menos de dois anos). É uma loucura... tenho 39 anos e vivi 23 anos em silêncio."
Barrera testemunhou em vários processos: 'Para mim, contar o que aconteceu é uma missão de vida' Foto: Valeria Perasso/Via BBC

Analía: "Sim, sim. Temos uma necessidade de expressão muito forte. Estamos sempre fazendo manifestos, redigimos um livro coletivo, um projeto de lei que tenta mudar a legislação argentina que hoje impede que um filho testemunhe contra os pais.

Queremos garantir que isso não se aplique em casos de crimes contra a humanidade — e possamos falar se soubermos de algo que pode contribuir com os processos judiciais."
Paula: "Quando você guarda um segredo por tanto tempo, conversar ajuda a lidar com a vergonha, um sentimento que muitos de nós compartilhamos no coletivo. Vergonha porque você sabe o que sabe, porque precisa se calar, porque tem medo do que as pessoas vão pensar.
Liliana Furió (à esquerda) é filha de um militar condenado, atualmente senil e em prisão domiciliar. Com Analía, ela fundou o coletivo Histórias Desobedientes Foto: Valeria Perasso/Via BBC

É por isso que é importante 'sair do armário'. E sair coletivamente é muito mais poderoso. Porque podemos desafiar esses repressores de um lugar que ninguém pode: o lugar de filhas ou filhos. Sabemos que eles não se arrependeram, sabemos que guardam segredos em um pacto inabalável de silêncio, segundo o qual ninguém conta o que fez na ditadura."

Analía: "Ainda estou esperando meu pai falar. Eu sei que ele tem informações confidenciais. Sobre os desaparecidos, talvez sobre algum bebê que foi sequestrado e entregue a famílias que apoiavam o governo militar.

Ao contrário de outros agentes da repressão que estão senis, meu pai está lúcido, tem uma memória prodigiosa. E saber o dano que continua provocando com seu silêncio cúmplice e criminoso me machuca muito."

Acabou o amor?

A presença dos "desobedientes" nas manifestações por direitos humanos nas ruas de Buenos Aires ainda surpreende muita gente. Eles são um interlocutor novo — e nem todo mundo conhece o coletivo que os une.

Olham para eles com surpresa, com perplexidade. E os aplaudem quando passam, elogiam sua coragem.

Mas a presença deles também incomoda alguns sobreviventes e parentes de vítimas — vários, na verdade, se recusaram a participar desta reportagem.

"Sou uma pessoa muito dura diante de algumas coisas. Os filhos desobedientes tiveram a oportunidade de denunciar seus pais e não fizeram. Por que não fizeram isso antes?", critica a sobrevivente Delia Barrera.

"Porque quando você fala 'meu pai é isso' e depois diz que o ama, eu escuto e penso: 'Estamos na direção errada. Você não pode amar um repressor genocida. Me diz que você não o ama, e é outra história'."

É possível deixar de amar o pai que você já amou uma vez?

"Olha, eu me pergunto isso o tempo todo", admite Analía Kalinec.

"Primeiro, porque foi um relacionamento de enorme afeto mútuo durante minha infância, minha adolescência e parte da minha vida adulta. Mas depois comecei a repensar tudo. Que tanto amor poderia haver ali, se quando começo a discordar dele ou a fazer perguntas, ele quer me deserdar?

Me recuso a renunciar ao pai que tanto amei. Eu sei que há uma parte de mim que quer conservá-lo e eu não quero ser tão cruel comigo mesma.

No coletivo, muitas vezes pensamos sobre isso, consideramos que não podemos amar nossos pais. Quem pode decidir amar ou não amar? Como se apaga o afeto? Como são apagadas as memórias? Então, por enquanto, vivemos com essas contradições."

(Sem) epílogo

Embora as filhas tenham cortado relações com seus respectivos pais há muitos anos, faz muito pouco tempo que quebraram o silêncio publicamente. A história — pessoal, social — delas ainda está sendo escrita.
Muitos aplaudem quando o grupo marcha para pedir justiça. Mas, para outros, eles são uma presença incômoda Foto: Valeria Perasso/Via BBC

Em 2019, Kalinec entrou com um processo de dentro da prisão para que Analía seja excluída da herança da mãe, que morreu em 2015. E fez isso "por razões de indignidade": ele considera que a filha o difama e não deve se beneficiar do dinheiro da família, conforme registrado em uma carta assinada também por suas duas irmãs mais novas.

Em resposta ao processo, Analía indicou que aceitará o que seu pai quer se ele admitir sua culpa e fornecer informações sobre o destino de suas vítimas.

"É cínico o que está acontecendo, mas me parece que o interessante desse julgamento contra mim é que, depois de 12 anos sem nos ver, o diálogo que meu pai me negou agora se transformou em uma conversa por meio de memorandos e advogados, em que ele tem de ler o que tenho a dizer, e em que sigo exigindo que ele diga o que sabe", aponta a filha.

Paula já não tem mais essa opção. Ela recebeu uma ligação do irmão recentemente. Ele contou que seu pai teve um derrame, chegou a ser operado, mas não recuperou a consciência.

"Não fui vê-lo no hospital. Tampouco fui ao funeral", diz Paula à BBC News Mundo.

"Decidi não ir porque pensei que seria desrespeitoso com aqueles que tinham uma relação com ele. E também porque, honestamente, uma parte de mim já estava de luto pelo meu pai."

"Mas vivo ou morto, eu, como filha, ainda me sinto responsável por falar, por dizer que condeno suas ações. Talvez encoraje outros a se manifestarem, para além do vínculo de sangue que tenham com o agressor. Nada disso muda com a morte do meu pai."

*Paula pediu que não publicássemos seu sobrenome, para proteger a identidade de outros membros de sua família.

AUTOR: BBC

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

RELEMBRE 4 CRIMES MACABROS QUE ACONTECERAM NOS ANOS 80

Crimes macabros podem acontecer em qualquer década, é verdade. Mas os anos 1980 parecem ter se destacado quando se trata do assunto. 

Vários filmes e livros de terror ambientados nessa época mostram como os crimes eram mais difíceis de ser solucionados, já que não havia internet nem descobertas forenses importantes, como exames de DNA.

O Homem de Giz gira em torno de um crime nesse estilo. 

O livro conta a história de um grupo de crianças que utiliza sinais de giz desenhados no chão para se comunicar entre si, mas tudo muda quando esses sinais começam a aparecer do nada e, pior ainda, quando levam o grupo até um corpo desmembrado na floresta.

A obra é uma ficção, mas nos deixou pensando: será que os anos 1980 foi a década do macabro?

Separei alguns casos reais para analisar essa teoria. 

Cuidado! A lista não é para os fracos.

1. Adam Walsh

Adam foi raptado da loja Sears na Flórida, em julho de 1981, e mais tarde foi encontrado decapitado próximo ao local. Sua morte teve repercussão nacional e inspirou um filme alguns anos depois. 

Após o crime, o pai do menino, John Walsh, tornou-se defensor das vítimas de crimes violentos e apresentador do programa de televisão America’s Most Wanted.

O assassino em série Ottis Toole confessou ter matado Adam, mas, devido à perda de provas, ele nunca foi condenado pelo crime.
2. Judith Barsi
Judith foi uma atriz mirim conhecida pelo papel no filme Tubarão IV – A Vingança. Quanto mais sua carreira progredia, mais seu pai, József, afundava no alcoolismo. 

Ele chegou a ser acusado de violência doméstica, mas o caso não foi para frente, pois a polícia não encontrou sinais de agressão física contra sua esposa.

Em julho de 1988, Judith foi morta com um tiro na cabeça, seguida de sua mãe. Józef queimou os corpos e depois se matou na garagem, também com um tiro.

3. Robert Berdella

Robert foi um serial killer americano conhecido como O açougueiro de Kansas que assombrou a cidade durante a década de 1980. 

O apelido se deve ao seu costume de dissecar extensivamente as vítimas após mantê-las em cativeiro por vários dias. 

Foi preso quando Christopher Bryson, sua vítima mais recente, conseguiu escapar ao pegar uma caixa de fósforos esquecida e queimar suas amarras. 

Ele pulou a janela vestindo apenas uma coleira de cachorro.

4. Melanie Uribe

Melanie Uribe desapareceu em dezembro de 1980. Dois dias depois, Etta Smith entrou em contato com a polícia alegando ter visto em uma visão o corpo da vítima em uma área rural. 

Etta foi ao local e encontrou o cadáver de Melanie, o que levou a polícia a suspeitar de seu envolvimento no crime.

Etta foi interrogada por 10 horas, mas se recusou a admitir qualquer envolvimento. 

Ela ficou na prisão por quatro dias, no entanto, a polícia conseguiu rastrear e prender os três homens responsáveis por matar Melanie Uribe, determinando que Etta não tinha qualquer relação com o assassinato.

AUTOR: INTRÍNSECA

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

VEJA 2 CRIMES REAIS MAIS ASSUSTADORES DO QUE FILMES DE TERROR

Infelizmente, o que não falta no mundo são pessoas totalmente cruéis e sem o mínimo de compaixão pelos outros. 

Assassinos e psicopatas não medem esforços para satisfazer as suas vontades e sede de violência.

Logo abaixo, você confere dois casos de pessoas que cometeram crimes assustadores que podem ser bem piores do que filmes de terror. 

1 – Cozinhou o marido

A australiana Katherine Knight sempre teve um histórico bem documentado de loucura, começando quando ela tentou estrangular seu primeiro marido até a morte na noite de núpcias. O motivo? A mulher achou muito pouco ele fazer sexo com ela apenas três vezes antes de adormecer.

Percebendo a fria em que tinha se metido, o homem só esperou o nascimento da filha que Katherine esperava e se mandou. Enfurecida, a maluca deixou a sua filha recém-nascida sobre os trilhos de trem próximo a sua casa. A sorte da criança é que ela foi resgatada por uma pessoa que passava por lá.


Fonte da imagem: Reprodução/Cracked

Logo, Katherine começou a namorar John Price, pai de três filhos, e eles começaram a morar juntos (na casa dele). Ele não aguentou a maluquice ameaçadora da mulher e entrou com uma ordem de restrição contra ela, que teve que sair da casa.

Ele inclusive avisou seus colegas de trabalho que, se algum dia não aparecesse para trabalhar, ela provavelmente o havia matado. No entanto, certo dia ele permitiu que ela voltasse para sua casa para uma noite de sexo e adormeceu ao lado dela. Erro detectado! Aproveitando-se do momento de fraqueza do homem, a mulher o esfaqueou 37 vezes.

Quando Price não apareceu para trabalhar no dia seguinte, os seus colegas de trabalho chamaram a polícia, que apareceu na casa do homem e se depararam com o corpo dele totalmente sem pele e sem a cabeça. Katherine tirou toda pele de Price e a deixou intacta em uma única peça, pendurando-a em um gancho na entrada da casa como uma cortina mórbida.

A cabeça dele estava fervendo em uma panela no fogão e pedaços de seu traseiro haviam sido fritos com legumes e molho. Esta última receita estava disposta em dois pratos em cima da mesa com etiquetas de nomes, indicando que foram feitos especialmente para os dois filhos mais velhos de Price, que, por sorte, ainda não tinham chegado em casa quando a polícia descobriu a atrocidade. A maluca se declarou culpada e foi condenada à prisão perpétua sem possibilidade nenhuma de liberdade condicional.

2 – O assassino da lingerie

A princípio, a loucura de Russell Williams — um coronel condecorado das forças armadas canadense — era entrar nas casas de seus vizinhos e assaltar as gavetas de lingeries das adolescentes.

Fazendo cara de bom moço Fonte da imagem: Reprodução/Cracked

Ele fazia isso e vestia as peças nas próprias casas, fotografava e se masturbava em todos os cômodos. Certa vez, ele mesmo digitou uma mensagem no computador de uma menina de 12 anos agradecendo pela noite de prazer que o seu quarto havia proporcionado.

Williams cometeu mais de 80 roubos de roupa íntima, fazendo isso muitas vezes até enquanto os proprietários estavam em casa. Ele mantinha um arquivo com milhares de fotografias como estas que você vê abaixo, escondidas no porão de sua casa.

Fonte da imagem: Reprodução/Cracked

Mas essas ações já não eram suficientes para alimentar a sua obsessão e ele passou a invadir as casas e capturar as meninas e adultas para posarem de lingerie para a sua coleção de fotos, até o dia em que uma delas o reconheceu do trabalho. A mulher foi então brutalmente assassinada e Willians gravou tudo em vídeo, fotografando cada detalhe também.

Duas semanas depois, ele sequestrou outra mulher, roubou várias peças íntimas (como era de costume) e a levou para uma casa que possuía, onde ele a aterrorizou por um dia inteiro antes de finalmente estuprá-la e matá-la, gravando e fotografando tudo.

Felizmente, uma testemunha viu Williams na frente da casa de sua última vítima antes de ela desaparecer, e a polícia conseguiu prendê-lo após outras pistas cruzadas. 

Ele confessou os crimes e foi condenado à prisão perpétua, onde recentemente tentou se matar engolindo um rolo de papel higiênico.

AUTOR: MEGACURIOSO

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

CONHEÇA A HISTÓRIA DO "AÇOUGUEIRO" SANGUINÁRIO QUE VENDIA A CARNE DE SUAS VÍTIMAS

Após permanecer 89 anos conservada em um jarro com formaldeído, a cabeça do Açougueiro de Hannover ou, melhor, do Vampiro de Hannover, foi cremada pelo departamento médico da Universidade de Goetting, na Alemanha, em 24 de janeiro de 2015. O Açougueiro de Hannover foi decapitado em 1925.

O açougueiro perdeu a vida em uma guilhotina, após ter sido considerado responsável pelo assassinato de 24 pessoas, entre os anos de 1918 e 1924. As autoridade, na época, acharam interessante conservar a cabeça, em um jarro, para que futuramente pesquisas relacionadas a assassinos em série pudessem ser feitas.

Fritz Haarmann, o Açougueiro de Hannover

Haarmann cresceu em meio a uma família desestruturada. A mãe do açougueiro, além de alcoólatra, tinha problemas psicológicos. Por não ter uma mente saudável, muitas vezes, vestia Haarmann como se fosse uma menina. 

O pai, quando chegava em casa, e encontrava o próprio filho trajando roupas de mulher, o agredia.

Haarmann tinha cinco irmãs, era o único homem. A rotina que a família desestruturada levava fez com que suas cinco irmãs se tornassem prostitutas. Até completar 16 anos, Haarmann ficou com os pais. Quando completou 17 anos, ele foi enviado pela família a um colégio militar.

Ali, depois de três anos, começou a sofrer crises de epilepsia. Por motivo de doença, acabou sendo dispensado. Em 1898, Haarmann retorna à Hannover. Instalado, começa, então, a trabalhar em uma fábrica de charutos. No mesmo ano, Haarmann comete seu primeiro crime. Molesta uma criança.

Após julgamento, é enviado a um hospital psiquiátrico. Com exatos seis meses de internação, consegue fugir da instituição. Livre, Haarmann se muda para Suíça e só retorna à Alemanha, dois anos depois.

Com um nome falso, tenta ingressar no exército e, anos depois, pelos mesmos motivos, é dispensado novamente, mas, dessa vez, recebendo uma pensão militar integral. Nesse ínterim, começa a trabalhar no açougue da família.

Com pouco tempo de empresa, Haarmann se envolve em uma briga com o pai. Acusado de tentativa de homicídio, é enviado novamente a uma clínica psiquiátrica.
Vampiro de Hannover
Dez anos depois, o açougueiro é declarado mentalmente estável e, novamente, ganha a liberdade. É quando volta às ruas que o açougueiro se torna um criminoso. Passa a ser constantemente preso e a cumprir pequenas penas. Algumas, por assalto, outras por estelionato.

Em 1918, com o fim da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha começa a passar por dificuldades e a viver um período de escassez. Haarmann, nesse mesmo momento, está, mais uma vez, em liberdade e, claro, desempregado. Mesmo assim, toma sob sua tutela o jovem Hans Grans, de 17 anos, que viria a se tornar seu amante e cúmplice.

Foi com ajuda de Grans, que ele passou a matar. Além de matar, também roubava as vítimas. Nesse momento, o açougueiro já havia tomado gosto pelo assassinato. Tendo seu amante como braço direito, o açougueiro prometia comida e abrigo a jovens, com tendências homossexuais.

Haarmann os atraía até sua casa, que era localizada à margem do rio Leine. No sótão, violava os garotos e, ao final, os matava com mordidas na carótida e na traqueia. Com a ajuda de Grans, o açougueiro desmembrava as vítimas. O motivo? Ele queria vender a carne. Haarmann vendia as peças por altos preços, sob o disfarce de serem finas costeletas de porco.

Em 1924, enquanto brincavam nas margens do rio Leine, jovens encontraram um crânio. Após investigações, as autoridades encontraram no local incontáveis restos humanos. O cerco, obviamente, se estreitou. Haarmann, devido a seu histórico criminal, tornou-se o principal suspeito.

As autoridades, para se certificar, armaram uma emboscada. O açougueiro foi flagrado em pleno ato sexual com uma vítima. Sem outra alternativa, confessou seus crimes. Haarmann vendeu a carne de cerca de 40 meninos. Em contrapartida, estima-se que o número seja entre 50 e 70, sendo todos de jovens.

AUTOR: IG/FATOS DESCONHECIDOS

sábado, 14 de setembro de 2019

EX-PRESIDENTE LULA: ENTENDA TODAS AS ACUSAÇÕES E PROCESSOS CONTRA ELE QUE FOI DENUNCIADO NOVAMENTE

Lula e um dos irmãos dele, conhecido como Frei Chico, foram denunciados por corrupção passiva. EPA/FERNANDO BIZERRA JR.

A força-tarefa da Lava Jato em São Paulo denunciou nesta segunda-feira (9) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um dos irmãos dele, Frei Chico, por corrupção passiva.

A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) diz que Frei Chico recebeu R$ 1.131.333,12 por meio do pagamento de "mesadas" de R$ 3 mil a R$ 5 mil, como parte de vantagens indevidas oferecidas a Lula em troca de benefícios obtidos pela Odebrecht.

A defesa de Lula diz que as acusações são "descabidas" e que o ex-presidente jamais ofereceu ao grupo Odebrecht qualquer "pacote de vantagens indevidas".

Além deste caso, há outros processos contra o ex-presidente. A BBC News Brasil explica a seguir as duas denúncias, os sete processos em que Lula é réu, as duas condenações, e o caso em que ele foi absolvido após ser acusado de crime de obstrução de Justiça.

1. Denunciado: mesada para Frei Chico

O MPF denunciou Lula e um dos irmãos dele, José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, por corrupção passiva.

Também foram denunciados, por corrupção ativa, o delator e ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar, o ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, e seu pai, Emílio Odebrecht.

Segundo o MPF, Frei Chico recebeu R$ 1.131.333,12, por meio de pagamento da "mesada". Ainda de acordo com a denúncia, isso era parte de um pacote de vantagens indevidas oferecidas a Lula em troca de benefícios para a empreiteira no âmbito do governo federal.

A defesa de Lula afirmou que a denúncia "repete as mesmas e descabidas acusações já apresentadas em outras ações penais contra o ex-presidente" e que "Lula jamais ofereceu ao Grupo Odebrecht qualquer 'pacote de vantagens indevidas'".

Segundo a nota, "a denúncia não descreve e muito menos comprova qualquer ato ilegal praticado pelo ex-presidente".
Cristiano Zanin Martins, responsável pela defesa do ex-presidente, disse que Lula jamais ofereceu ao Grupo Odebrecht qualquer 'pacote de vantagens indevidas'. ROVENA ROSA/ AGÊNCIA BRASIL

2. Denunciado: nomeação para Casa Civil

Em 2017, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou denúncia contra os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff por obstrução de justiça.

A denúncia se refere à nomeação de Lula, no ano anterior, para ministro da Casa Civil do governo Dilma. Segundo Janot, a decisão teria sido tomada para garantir foro privilegiado ao ex-presidente. Na época, Lula já era alvo de investigações da Lava Jato.

A defesa de Lula nega irregularidades.

3. Réu: empréstimos do BNDES para Angola (Operação Janus)

Para o MPF, Lula cometeu os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência ao, supostamente, pressionar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a liberar empréstimos para obras da Odebrecht em Angola. A ação de Lula teria se dado entre os anos de 2008 e 2015, segundo a denúncia apresentada em 2016.

O ex-presidente nega e diz que jamais interferiu na concessão de qualquer benefício do BNDES.
Para o MPF, Lula pressionou o BNDES a liberar empréstimos que financiaram obras da Odebrecht em Angola REUTERS/ SERGIO MORAES

4. Réu: terreno para o Instituto Lula

Neste caso, o MPF acusa Lula de receber propina da Odebrecht, inclusive por meio da compra de um terreno em São Paulo no valor de R$ 12 milhões, que seria usado para a construção de uma nova sede para o Instituto Lula.

A empreiteira também teria comprado o apartamento nº 121 do edifício Hill House, em São Bernardo do Campo (SP), no mesmo andar e no mesmo prédio onde Lula vivia antes de ser preso.

A defesa de Lula nega que ele "tenha praticado qualquer crime ou recebido qualquer benefício em troca de atos praticados na condição de Chefe de Estado e Chefe de Governo".
5. Réu: compra de caças (Operação Zelotes)

Lula se tornou réu por de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa, no âmbito da Operação Zelotes. O ex-presidente é suspeito de interferir na compra de 36 caças do modelo Gripen pelo governo brasileiro, produzidos pela fabricante sueca Saab, e na prorrogação de incentivos fiscais destinados a montadoras de veículos por meio da Medida Provisória 627 de 2013.

Em ambos os fatos Lula já não era mais presidente. Ele nega irregularidades.

6. Réu: MP das montadoras (Operação Zelotes)

Também no âmbito da Operação Zelotes, a Justiça Federal aceitou denúncia contra Lula por corrupção passiva. Nesse caso, a denúncia se refere ao recebimento de propina para aprovar uma medida provisória (MP 471 de 2009) que prorrogou incentivos fiscais para montadoras.

A defesa diz que Lula jamais praticou qualquer ato ilícito e que é alvo de perseguição política.
Defesa do ex-presidente alega perseguição política em acusações e denúncias REUTERS/LEONARDOBENASSATTO

7. Réu: 'Quadrilhão do PT'

No fim de 2018, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara Federal, em Brasília, aceitou denúncia do MPF contra Lula, Dilma Rousseff, os ex-ministros da Fazenda Antonio Palocci e Guido Mantega, e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, por formação de organização criminosa. O caso ficou conhecido como "quadrilhão do PT".

Segundo a denúncia, do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a cúpula do PT recebeu R$ 1,48 bilhão de propina em dinheiro desviado dos cofres públicos.

O advogado Cristiano Zanin, da defesa de Lula, afirmou em nota que a ação é "manifestamente descabida" e que o ex-presidente não cometeu nenhum crime no exercício da Presidência.

8. Réu: Guiné Equatorial e Instituto Lula

Neste caso, o ex-presidente é acusado de receber propina de R$ 1 milhão – paga por empresários brasileiros – em troca de intermediar negócios destes empresários com o líder da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang. O pagamento teria sido feito de forma dissimulada, por meio de uma doação ao Instituto Lula.

O ex-presidente nega irregularidades – ele admite ter recebido a doação, mas nega ter feito qualquer favor em troca.

Na época, sua defesa disse que a acusação "pretendeu, de forma absurda e injurídica, a transformação uma doação recebida de empresa privada pelo Instituto Lula, devidamente contabilizada e declarada às autoridades, em tráfico internacional de influência".

9. Réu: propina da Odebrecht

Em junho de 2019, o juiz Vallisney de Oliveira aceitou denúncia por corrupção contra Lula, o empresário Marcelo Odebrecht e os ex-ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo.

O caso envolve suposto pagamento de propina da Odebrecht em troca de favorecimento do governo federal.

Em nota, a defesa de Lula afirmou que o ex-presidente "jamais solicitou ou recebeu qualquer vantagem indevida antes, durante ou após exercer o cargo de presidente da República". Disse, ainda, que o nome de Lula "somente foi incluído na ação com base em mentirosa narrativa apresentada pelo delator que recebeu generosos benefícios para acusar Lula".

10. Condenado: tríplex do Guarujá

No caso conhecido como "Tríplex do Guarujá", o petista é acusado de receber propina da empreiteira OAS na forma da reserva e reforma de um apartamento no balneário paulista.

Em julho de 2017, Lula foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo então juiz Sergio Moro. Depois, a condenação foi confirmada pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), em janeiro de 2018, que aumentou a pena para 12 anos e um mês de prisão.

Em abril de 2019, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu manter a condenação, mas reduziu a pena imposta a Lula para 8 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão.

Na ocasião, a defesa do ex-presidente Lula criticou a decisão dos ministros. Para a defesa do ex-presidente, "o único desfecho possível é a absolvição do ex-presidente Lula, porque ele não praticou qualquer crime".
Sítio de Atibaia: sentença da juíza federal Gabriela Hardt condenou Lula a 12 anos e 11 meses de prisão REPRODUÇÃO/ AJUFE

11. Condenado: sítio de Atibaia

No caso do sítio de Atibaia, Lula é acusado de receber propinas das construtoras OAS e Odebrecht por meio de reformas, em 2010, num sítio no município do interior paulista.

O imóvel pertence formalmente ao empresário Fernando Bittar, mas o MPF alega que Lula é o verdadeiro dono do sítio e era o principal usuário do local.

A juíza federal Gabriela Hardt condenou Lula a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro.

Além de Lula, outras dez pessoas foram condenadas na sentença proferida pela juíza , entre elas os ex-presidentes da OAS, Léo Pinheiro, e da Odebrecht, Marcelo Odebrecht. O ex-presidente Lula nega irregularidades, enquanto os dois empresários são hoje colaboradores da Lava Jato, e confessaram os crimes.

Em nota, a defesa de Lula acusou a Justiça Federal de Curitiba de fazer "uso perverso das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política".

A defesa destacou que o ex-presidente nunca foi o dono do sítio, e que a decisão se baseia num suposto "caixa geral" de propinas das empreiteiras porque não há, segundo a defesa, provas materiais de que o dinheiro desviado de contratos da Petrobras foi usado nas reformas.
Imóvel em Atibaia pertence formalmente ao empresário Fernando Bittar, mas MPF alega que Lula é seu verdadeiro dono REPRODUÇÃO/GOOGLE EARTH

12. Absolvido: obstrução de justiça

Em julho de 2018, o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, absolveu Lula e outros seis réus no processo em que o ex-presidente era acusado de crime de obstrução de Justiça.

A acusação era a de que ele tinha atrapalhado as investigações da Lava Jato, ao supostamente se envolver em uma tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, um dos delatores da Operação Lava Jato.

O juiz Ricardo Leite considerou que as provas eram insuficientes e que a acusação estava baseada somente em relatos de delatores. Na ocasião, a defesa de Lula disse que o juiz agiu de maneira imparcial.

AUTOR: BBC

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