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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

ACIDENTE QUÍMICO NOS EUA: ATÉ O AR FOI CONTAMINADO

Até agora, é amplamente conhecido que o produto químico metanol 4 methylcyclohexane ( MCHM ) vazou na água, no Oeste da Virginia , afetando nove municípios ,e cerca de 300.000 pessoas. O que foi mencionado, mas não informado amplamente é que o ar também foi contaminado e que 700 pessoas já estão doentes , sintomas como náuseas e vômitos , embora no momento do relatório da RT apenas 10 foram hospitalizados. 

Residentes do Oeste da Virginia estão sendo avisados ​​para evitar o uso de água da torneira para beber, cozinhar, lavar ou tomar banho.

É menor no artigo onde uma única frase é escrita que me chamou a atenção :

A Divisão de Qualidade do Ar lançou uma investigação na quinta de manhã para resolver as queixas dos moradores , e descobriram que MCHM foi descarregado também no ar.

De acordo com KETK , as pessoas podem ficar expostas a MCHM nas seguintes maneiras :

- Inalação

- Ingestão

- Pele e / ou contato com os olhos

Enquanto as pessoas no Oeste da Virginia estão sendo avisadas ​​sobre a água, eu estou vendo nenhum relatório alertando-os sobre o próprio ar que respiram , nenhum incentivo para sair, nenhum aviso para ficar dentro de casa, fechar janelas, nada.

Você pode dizer às pessoas para não usar a água, você não pode dizer-lhes para não respirar , mas para evitar informar o público, em voz muito alta e clara , quantos vão ficar doentes por inalação ?

Uma gama completa de sintomas incluem:

- Náuseas

- Vómitos

- Tonturas

- Dores de cabeça

- Diarréia

- Vermelhidão ou pele irritada

- Coceira

- erupções

A Folha de Dados de Segurança, mandatado pela Saúde Ocupacional e Administração de Segurança e fornecido pelo fabricante do produto químico, diz: " Nenhuma informação específica está disponível em nossa base de dados sobre os efeitos tóxicos deste material para seres humanos. "

Além de medidas de primeiros socorros básicos, tais como a lavagem ou a lavagem das áreas afetadas e procurar atendimento médico , a folha de dados não fornece tratamento detalhado para a exposição.


AUTOR: Libertar

domingo, 23 de fevereiro de 2014

O ASSASSINATO DE LAURIE SHOW

Laurie Show

O assassinato de Laurie Show ocorreu em 21 de dezembro de 1991. Show, 16 anos, foi uma estudante na Conestoga Valley High School. O corpo de Show foi descoberto em Lancaster, Pensilvânia, em sua casa, em 21 de dezembro de 1991 por sua mãe Hazel Show, com um corte na garganta.

Os colegas de sala dela, Lisa Michelle Lambert, Tabitha Buck, e Lawrence "Butch" Yunkin, foram acusados ​​de seu assassinato.

Perseguição e assassinato:
Lisa Lambert


Lambert começou inicialmente o assédio a Show, em 1991, depois de descobrir que ela teve um breve relacionamento com Yunkin durante o verão. Lambert e Yunkin tinham tido um relacionamento anterior um com o outro, mas não tinham alegadamente terminado durante o tempo em que Yunkin estava saindo com Show. 

Show e Yunkin tinha ido em alguns encontros, Show contou para sua mãe que tinha sido estuprada por Yunkin. Mas decidiu não prestar queixas com medo de irritar mais ainda a namorada dele, Lambert. Pouco depois de seu encontro final com Show, Yunkin retomou o namoro com Lambert, que estava grávida de seu filho. (Aliás, filha, a menina nasceu na cadeia e foi criada pelos pais de Lambert) Ela se tornou "obsessivamente ciumenta" e tinha ódio de Show, Lambert começou a assediar Show, em várias formas, como aparecendo no trabalho de Show e a agredindo verbalmente. 

Testemunhas relataram que Lambert havia manifestado a intenção de "assustar Laurie Show, então machucá-la, em seguida, cortar sua garganta ".
Lisa Michelle Lambert


Em 21 de dezembro de 1991, o corpo de Show foi descoberto em sua casa por sua mãe, com o corpo apresentando vários ferimentos.
A polícia registrou mais tarde que Show tinha recebido "um corte de orelha a orelha na garganta, uma facada que perfurou um pulmão e outro que roçou sua espinha; vários ferimentos na cabeça, e uma série de feridas defensivas". 

Hazel Show não estava em casa, como ela tinha ido participar de uma reunião com um conselheiro da escola.
Mãe de Laurie
Pai de Laurie

A mãe de Show relatou à polícia que sua filha mesmo gravemente ferida conseguiu dizer a ela "Foi a Michelle" antes de morrer.
Yunkin

A polícia prendeu Yunkin, Lambert e a amiga Tabitha Buck em uma pista de boliche local, mais tarde naquele dia, pelo assassinato de Show. Inicialmente os testemunhos dos três mostraram que Yunkin deixou Lambert e Buck na casa de Show, onde as duas meninas a mataram. 

Yunkin afirmou que ele não tinha participado no assassinato. Também afirmou que, ele estava sob a impressão de que Lambert e Buck estavam indo cortar o cabelo do Show com a faca como uma brincadeira, (superrrrr legal da parte dele né?) mas ele ajudou a fornecer um álibi e ajudou-as a se livrarem das provas. 

Este testemunho viria a mudar à medida que Lambert e Buck deram seus depoimentos iniciais, com Lambert afirmando que Yunkin era abusivo e tinha a encorajado a perseguir e atacar Show.
Yunkin
Buck

Julgamentos de 1992:

Lambert, Buck, e Yunkin foram julgados pelo assassinato de Laurie Show. Yunkin concordou em testemunhar contra Lambert, afirmando que ela e Buck que cortaram a garganta de Show depois que elas haviam perfurado um dos pulmões dela. 

Um par de calças de moletom que Lambert tinha usado durante o crime foram apresentados, com os advogados afirmando que um pouco do sangue de Show estava presente neles; uma carta de Lambert para Yunkin também foi mostrada, nela Lambert declara: "Eu sei que não sou um anjo, mas [Lawrence S. Yunkin], eu nunca fiquei brava o suficiente para matar ".
Lisa Lambert
Tabitha Buck

Vereditos:

Lambert foi condenado em 20 julho de 1992, para as acusações de assassinato em primeiro grau e conspiração criminosa na morte do Show. Buck também foi condenada por acusações semelhantes, ambas receberam a sentença de prisão perpétua sem liberdade condicional. Lambert foi inicialmente condenada à Cambridge Springs State Correctional Institution e Buck foi condenada à Muncy State Correctional Institution. 

Yunkin recebeu uma pena menor pelo seu depoimento e foi concedida a ele a liberdade condicional em 2003.
Laurie Show

Buck, após o assassinato tinha um machucado (arranhão) na bochecha, indicando que Show tentou se defender. Quando a policia perguntou como aconteceu, Lambert disse que elas haviam entrado numa briga com alguns hispânicos.
Apelação de 1997:

Lambert recorreu da condenação de 1992 e em 1997, apareceu no tribunal para uma audiência dehabeas corpus federal. O Juiz Distrital dos EUA, Stewart Dalzell, presidiu o julgamento.
Yunkin e Lambert

Os advogados de Lambert afirmaram que havia várias inconsistências com as provas e depoimento prestado no julgamento anterior e que Lambert era inocente. Lambert também alegou que ela havia sido enquadrado por policiais, a fim de impedi-la de avançar com as acusações de que eles a tinham estuprado. 

Evidências fornecidas no re-estudo incluíram o moletom mostrado na audição de 1992, bem como a correspondência entre Yunkin e Lambert. Dalzell anulou a condenação por homicídio, em 15 de abril de 1997, citando que "a conduta do Ministério Público" resultou em uma decisão incorreta. 

A decisão de Dalzell foi posteriormente anulada em janeiro 1998 por um painel de apelações federais que afirmaram que Lambert "ainda não havia esgotado seus recursos no tribunal estadual" e Lambert foi levada de volta para a prisão.
Lambert
Laurie Show
Apelação de 1998:

Após a decisão de Dalzell ter sido derrubada, o sistema de tribunal federal debateu sobre se deveria ou não manter Lambert na cadeia ou manter o veredicto de Dalzell. Lambert entrou com um recurso para uma audiência, mas foi negado. Em fevereiro de 1998, o Supremo Tribunal da Pensilvânia devolveu o caso ao sistema de Lancaster County Court, afirmando que Lambert "deve primeiro assumir suas reivindicações [lá]". 

O terceiro julgamento ocorreu em maio de 1998, com um apelo ao Tribunal Federal libertando temporariamente Lambert sob a crença de que ela iria ganhar o seu caso. O juiz Lawrence F. Stengel acompanhou o julgamento. Várias testemunhas foram chamadas a depor contra Lambert, incluindo o detetive que tinha supervisionado o caso do assassinato de 1991, bem como os cúmplices Buck e Yunkin. 

O detetive testemunhou contra as alegações de que as provas tinham sido adulteradas.
Yunkin

Lambert dessa vez testemunhou que Yunkin tinha participado nos assassinatos, sufocando Show. Ela também afirmou que ela tentou ajudar a vítima, a defender ela contra os outros dois cúmplices, e que ela tentou puxar a vítima para fora do apartamento. (aham, senta lá Michelle)
Yunkin

Evidências de do julgamento de 1997 foram apresentadas novamente. A defesa argumentou que Lambert não tinha participado no ato, que Yunkin era o assassino, e que Lambert havia obedecido tudo Yunkin havia ordenado dela devido à sua gravidez. 

Um namorado anterior de Lambert confirmou que ele havia testemunhado Yunkin "puxando [Lambert] em uma sala", e que Yunkin começou a gritar com ela. Ele também testemunhou que ele tinha visto um policial correspondente a uma das descrições que Lambert deu de seus supostos estupradores ameaçando-a em um festival local. Advogados também forneceram correspondências entre Lambert e Yunkin que, segundo eles, provavam que Lambert não havia sido envolvida no assassinato e que Yunkin lhe pediu para mentir para ele. 

Eles também questionaram se ou não Show teria sido capaz de falar com sua mãe antes de sua morte, pois sua garganta tinha sido cortada, e alegaram que Show realmente tinha falado as iniciais de seus assassinos, Buck e Yunkin.
Yunkin
Buck
Lambert

Buck negou estas alegações, atestando que Lambert tinha participado ativamente no assassinato e que ela tinha dito a Buck para "usar o cabelo amarrado e não usar maquiagem ou unha pintada". 

Yunkin mais tarde foi acusado de ser o dono das calças de moletom que tinham sido re-introduzidas no julgamento de 1997. Yunkin foi obrigado a segurar as calças de moletom contra o seu corpo, que se mostraram muito curtas para serem dele.Outra evidência e testemunho foi movido contra Lambert, um parente de Yunkin proporcionou um poema que Lambert havia escrito na prisão, que descreveu o assassinato. 

Especialistas da cena do crime também testemunharam que evidências de que Show escreveu todas as iniciais de quem a atacou em seu sangue foram encontradas e que outras evidências descobertas na cena do crime não corroboravam com a história de Lambert.
Laurie Show
Lisa M. Lambert
Tabitha Buck
Lawrence Yunkin

Em agosto de 1998 o juiz Stengel anunciou seu veredito, afirmando que ele iria defender o veredito original contra Lambert e que "mesmo se ele acreditasse na versão dela da história ... ela ainda seria culpada de assassinato em primeiro grau como cúmplice". 

A juiza federal Anita Brody mais tarde confirmou este veredito. Lambert tentou recorrer da decisão de 1998 em 2003 e para levar o caso à Suprema Corte dos Estados Unidos, mas foi rejeitada duas vezes.
No primeiro julgamento, todos achavam que ela deveria pegar pena de morte, mas o Juiz não deu essa pena por ela ser jovem, não ter antecedentes criminais e porque de dentro da cadeia ela poderia contribuir para a vida da sua filhinha.

O filme "The Stalking of Laurie Show" também de título "Rivals" de 2000 é baseado na história, não consegui encontrar esse filme ainda. Gostaria de assistir. 
O documentário abaixo é muito, mas muito bom mesmo, só que não está legendado.



Uma curiosidade: Eles (Lawrence e Lisa) foram colegas de trabalho de Charles Carl Roberts IV, o Atirador que matou crianças da comunidade Amish.

AUTOR: pasdemasque.blogspot.com.br

CONHEÇA A HISTÓRIA DO "MONSTRO DE GUAIANASES"

Nome Completo: Benedito Moreira de Carvalho
Sexo: Masculino
Data de Nascimento: 10 de agosto de 1908
Local de Nascimento: Tambaú - SP
Número de vítimas: 11 +
Motivo: Sexual
Data da Morte: 1976
Como morreu: enfarto no refeitório do manicômio judiciário

História

Benedito Moreira de Carvalho nasceu em 10 de agosto de 1908, em Tambaú, São Paulo. Sua mãe morreu ao dar à luz Benedito, seu 12º filho. Queixava-se de crueldades sofridas na infância pelas mãos de seu pai, que o surrava frequentemente com argola de “rabo de tatu”, um pequeno chicote feito de couro trançado. Também usava cabo de vassoura ou qualquer tipo de pau, sempre na cabeça, produzindo-lhe perturbações, tonteiras, náuseas e desmaios. Tinha pelo pai um misto de estima e ódio, mas se relacionava muito bem com a irmã que o criara.

Dizia ter sofrido uma infância de privações em seu lar. Já na adolescência ocupou-se de tarefas agrícolas nas propriedades em que nasceu e morou.

Saiu de casa aos 16 anos, quando se instalou em Araçatuba. Ali trabalhou como carreiro (condutor de carro de boi), garçom e lavador de pratos.

Contraiu várias doenças venéreas, entre elas gonorreia, cancro venéreo e adenite inguinal.

Em 1928, aos 20 anos, “sentou praça” na Força Pública como bombeiro, mas foi expulso por incapacidade moral em 31 de junho de 1936, depois de seu primeiro crime sexual. Nesse crime já se manifestavam os primeiros sinais de sadismo: atacou a menor Maria num lugar ermo, no bairro Cerâmica, e, submetendo-a com violência, tentou esganá-la. O estupro não foi consumado porque Benedito ejaculou antes, mas o fato chegou aos ouvidos de seu comandante e ele o excluiu da Força Pública. Condenado a um ano de reclusão, cumpriu a pena e passou a ser serrador.

Em setembro de 1941, no bairro da Penha, cometeu um atentado violento ao pudor. Foi condenado a dois anos e 11 meses de prisão.

No ano de 1943, por causa de um acidente de trabalho, perdeu as duas primeiras falanges do dedo indicador da mão esquerda.

Em julho de 1946, no atentado que ficou conhecido como “Crime da Estrada da Peninha”, agarrou a menor Naomi, de 16 anos. Ela resistiu e Benedito esganou-a, arrastou-a para o mato e a estuprou. Quando foi preso, identificou-se com nome falso, Joaquim Moreira de Carvalho. Foi condenado a seis anos de reclusão, pena depois reduzida pelo Tribunal de Justiça para três anos e seis meses de prisão. Saiu em liberdade condicional em dezembro de 1949.

Em 25 de janeiro de 1951, Judith sofreu tentativa de estupro por Benedito, em Poá. No primeiro dia de agosto de 1951 ele tentou estuprar as irmãs Dalila e Berenice e violentou a menina Sulamita, todas menores de idade. Em 18 de agosto de 1951, novamente em Poá, atacou a menina Dina, 13 anos. Arrastou-a para o mato, mas o estupro foi interrompido antes de ser consumado pela chegada de um rapaz ao local.

No dia 6 de setembro de 1951 Benedito foi preso em flagrante quando invadiu a casa de Edna em Itaquera do Campo. Benedito utilizou um cinto para apertar seu pescoço, mas a menina conseguiu gritar. Assustado, ele fugiu, mas foi perseguido e preso por populares. Por meio de um habeas corpus, alcançou a liberdade em novembro de 1951.

Menos de um mês depois, em 21 de dezembro, ainda estuprou Lidia, em São Bernardo do Campo.
No ano de 1952, iniciou-se a série de homicídios cometidos por Benedito Moreira de Carvalho, que até então se comportava como um estuprador.

As Investigações e a Prisão de Benedito

Entre dezembro de 1950 e novembro de 1953, a polícia de São Paulo constatou um surto de sadismo e crimes sexuais. Eles chegavam a acontecer até duas vezes por semana, índice extremamente alto para a época. A polícia estava bastante perdida nas investigações.

Na semana santa de 1952, Gertrudes Dunzinger foi assassinada. A polícia logo foi chamada ao local do crime. O investigador de polícia Adalberto João Kurt, que atendeu ao chamado, quase morreu de susto quando um velho que afirmava ter visto um homem seguindo Gertrudes começou a gritar inesperadamente, apontando para ele. O assassino não era Kurt, mas era a cara dele! Essa foi a primeira pista da polícia sobre a aparência do homem que procuravam.

Os investigadores responsáveis pelo caso de Gertrudes começaram então a juntar o depoimento de testemunhas de outros crimes, que aparentemente, não tinham conexão.

Com espanto, perceberam que de fato, em todos eles, era descrito um individuo forte, sempre carregando uma pasta de couro marrom embaixo do braço, aloirado, parecido com o investigador Kurt em altura e fisionomia. As descrições das testemunhas também apontavam um homem que usava bigode pequeno e bem aparado e, muitas vezes, um chapéu cinza com a aba abaixada, que escondia parcialmente o rosto.

Suas vítimas eram frequentemente encontradas de forma parecida; o modus operandi em todos os crimes parecia ser semelhante. A polícia só podia concluir que um tarado estava à solta na cidade.

A sequencia de crimes sexuais entre 1951 e 1952 em São Paulo indicava que o criminoso tinha larga experiência nessa área e uma boa probabilidade de anterior passagem pela polícia.

Iniciou-se uma investigação detalhada nos arquivos da Delegacia de Costumes, na Penitenciária do Estado, na Casa de Detenção e nas delegacias distritais em geral, utilizando-se listas de criminosos sexuais postos em liberdade condicional ou que já tivessem concluído sentença. Até arquivos de jornais foram pesquisados.
Desse imenso trabalho, resultou uma lista de nomes de possíveis suspeitos, que iam sendo estudados pacientemente e eliminados por exclusão, fosse por sua aparência ou por seu modus operandi.

Ao examinarem os arquivos da delegacia da 10ª Circunscrição, Distrito da Penha, depararam-se com a ficha de Benedito Moreira de Carvalho. Ao examinar as fotos, sua aparência logo chamou a atenção dos policiais... O homem aloirado era parecidíssimo com o investigador Kurt!

Verificou-se em seu prontuário que já cumprira pena por estupro na Penitenciária do Estado e respondia simultaneamente a dois processos por crimes sexuais: duplo atentado cometido no município de Poá, que naquela época ainda pertencia a Mogi das Cruzes, e outro contra uma jovem japonesa em São Paulo.
A leitura dos relatórios policiais indicava que o modo de agir de Benedito assemelhava-se bastante aos dos casos sem solução que estavam sendo apurados. Iniciaram-se rigorosas investigações em torno dele.

Logo descobriram que ele havia fugido da cadeia de Mogi das Cruzes em agosto de 1951 e que, no mesmo dia, praticara um estupro e uma tentativa de estupro em Itaquera.

O suspeito utilizava-se de vários nomes: Joaquim Moreira de Carvalho, Benedito Moura de Carvalho e José Carvalho.

Nesse momento das investigações, aconteceu mais um estupro com morte: Ruth, em 18 de agosto de 1952.
A polícia, ao chegar ao local do crime e entrevistar testemunhas, obteve informações que assinalavam a presença de homem aloirado, magro, com altura por volta de 1,70 metros, chapéu de aba abaixada e pasta de couro na mão. Essa descrição batia com a de Benedito. Imediatamente saíram atrás dele.

Descobriram que Benedito era profissional de serrarias. Os investigadores Mário Gonçalves, Athos Tescarollo, Antonio Belli e Alcides de Oliveira, orientados pelo delegado Francisco Petrarca Iello, levantaram os endereços de todas as serrarias de São Paulo e assinalaram os diversos empregos do criminoso num mapa. Verificaram todas as folhas de frequência, cartões e livros de ponto desses locais. 

Sem exceção, Benedito havia faltado ao trabalho ou estado desempregado nas datas dos crimes, que sempre ocorriam próximos das serrarias. Não havia mais dúvidas de que Benedito Moreira de Carvalho era o autor dos crimes que estavam sendo investigados.

A tarefa de localizar o suspeito não foi nada fácil. Ele dava endereços falsos de sua residência em todos os empregos e até mesmo em seu sindicato, o que constituía mais uma indicação de que se tratava de alguém que tinha o que esconder. Finalmente chegaram ao endereço correto: rua Ponciano 32, Guaiaúna, São Paulo.

Em 29 de agosto de 1952, a equipe de investigação da polícia de São Paulo, vestida com macacões e trajes de operários, estacionou um caminhão em frente à casa de Benedito. Eram duas horas da madrugada e todos fingiram estar consertando o “caminhão quebrado”.

Por volta de 4h30, daquela manhã, Benedito Moreira de Carvalho saiu de casa com cautela, depois de examinar as imediações, como se soubesse que algo estava errado. Levava na mão uma pasta de couro marrom.

Os investigadores deram-lhe imediatamente voz de prisão. Ele não reagiu. Ao examinarem o conteúdo de sua pasta, constataram que só carregava um cordel com uma laçada em uma das extremidades. O achado era evidência importante, pois duas das vítimas haviam sido estranguladas com material semelhante.
Benedito Moreira de Carvalho foi detido e interrogado.

Alguns Crimes

Ao ser preso, Benedito confessou dez de seus estupros, oito deles seguidos de homicídio.

Caso da Vila Diadema
Data: 26 de fevereiro de 1952
Vítima: Tamara
Idade: menor
Crime: estupro e homicídio

Benedito pegou o ônibus de manhã para procurar emprego numa serraria. Desceu na Vila Conceição e começou a seguir a pé. Andou uns 7 ou 8 quilômetros, mas não encontrou o local que procurava. Começou então a voltar pela mesma estrada. Já passava das treze horas quando ele avistou uma mocinha caminhando a sua frente. Apressou o passo, tomou a dianteira e, depois de 50 metros, começou a andar de volta em sua direção. Ao cruzar com a moça, parou e a convidou para entrar no mato. Ela o repeliu. Diante dessa atitude, apertou-lhe o pescoço e arrastou-a para dentro do mato. Segundo seu relato, “a moça gritou um pouco”. Quando percebeu que sua vítima recobrava os sentidos, repetiu-lhe a mesma proposta e mais uma vez foi repelido por ela. Com raiva, esganou-a e a estuprou. Deixou o local achando que Tamara ainda

Caso de Parelheiros
Data: 7 de abril de1952
Vítima: Gertrudes Dunzinger
Idade: 29 anos
Crime: estupro e homicídio

Benedito tomou o ônibus para Santo Amaro às oito horas da manhã no parque Anhangabaú. Chegando lá, depois de pouco tempo, tomou outro ônibus para Parelheiros. Ao passar por perto de uma escola, perguntou ao motorista se ali era o “Casa Grande” e desceu. Andou por uma estrada secundária e passou por outra escola. Já na volta, em frente a uma granja de japoneses, viu uma moça loira que parecia ser estrangeira. 

Subiu num barranco, esperou que ela passasse e começou a segui-la. Aproximou-se e propôs a mulher que entrasse com ele no mato. Repelido, continuou a segui-la até passar por uma segunda porteira. Dessa vez, segurou-a pelo braço. Ela gritou. Imediatamente tapou-lhe a boca com a mão e apertou-lhe o pescoço com uma cordinha. Arrastou-a para a margem direita do caminho, entrando com ela numa picada, para em seguida estuprá-la.

A mulher levava uma sacola com pão, maçãs, pequenos embrulhos e uma lata. Benedito comeu as maçãs e voltou pelo mesmo caminho. Viu um velhote que já havia cruzado seu caminho na ida. Cumprimentou-o e foi embora. Dois ônibus depois estava de volta a praça João Mendes.

Caso da estrada da Juta
Data: 26 de maio de 1952
Vítima: Ester
Idade: 12 anos
Crime: estupro e homicídio

Logo cedo, Benedito tomou o ônibus para a Vila Carrão e depois para São Mateus. Em seguida, pegou carona com destino a Santo André. Nas proximidades de uma fazenda, pediu ao motorista que parasse e desceu. Voltou então um trecho do caminho a pé e numa baixada encontrou uma japonesinha que levava uma pasta escolar. 

Avançou sobre ela, apertou-lhe o pescoço, esganando-a, e depois de transpor uma cerca de arame farpado arrastou a menina desfalecida para o matagal existente a margem da estrada. Estuprou-a, usando vaselina de uma latinha que levava com ele. Depois cobriu o cadáver com as roupas dela e voltou à estrada, indo a pé para São Mateus. Foi para casa.

Caso de Cumbica
Data: 28 de maio de 1952
Vítima: Maria de Lourdes Alves
Idade: 18 anos
Crime: tentativa de estupro

Logo cedo, às seis horas da manhã, Benedito foi de ônibus primeiramente para Guarulhos e em seguida para Cumbica. Numa parada, pouco antes da Base Aérea, viu uma jovem acompanhando um menor até o ônibus. Notando que ela ficara só, na estrada, e que o lugar era adequado para os seus planos, desembarcou e seguiu a moça pelo atalho em que ela caminhava, à direita da estrada. 

Após uns 200 metros, puxou conversa e perguntou se Maria de Lourdes era moradora dali. Ela disse que sim. Pouco adiante, Benedito propôs manterem relações sexuais. Repelido, agarrou-a pelo pescoço e arrastou-a para uma capoeira à margem do atalho. Não chegou a consumar o ato sexual. Perdeu o desejo ao perceber que a moça tinha um corrimento malcheiroso. Deixou a jovem desfalecida e, depois de socar seu rosto, foi embora.

Caso de Barueri
Data: 20 de junho de 1952
Vítima: Rebeca
Idade: 12 anos
Crime: estupro

Benedito saiu de casa em direção a Barueri, onde esperava localizar uma curandeira indicada por um amigo. Caminhou a esmo e parou num bar para tomar leite. Depois esteve em uma olaria, perto da estrada de Parnaíba, de onde seguiu em direção a um morro. Do alto, viu uma japonesinha acompanhada de um menino, talvez seu irmão, que levava um litro na mão. 

Decidida a possuí-la, aproximou-se e tratou de afastar o menino, fazendo com que ele levasse um recado para um motorista de caminhão que estava na olaria próxima. Ele relutou, mas cedeu. Ao ficar só com a garota, Benedito acompanhou-a na direção em que ela ia. Pouco adiante entrou com ela no mato e mandou que ela se deitasse. Como ela não aceitou, Benedito lhe apertou o pescoço até que desfalecesse e caísse. Segundo seu depoimento, não consumou o estupro porque a menina estava menstruada. Disse ter apenas introduzido levemente o pênis na vagina dela. Deixou-a deitada, com vida, e foi embora.

Caso da Parada XV de Novembro
Data: 21 de julho de 1952
Vítima: Mercília Oliveira de Souza
Idade: 18 anos
Crime: estupro e homicídio

Depois de descer do trem, por volta das treze horas, Benedito esteve em um bar e, depois, “possuído de desejo sexual”, pegou um atalho. No fim do caminho, viu uma capela, na soleira da qual se sentou e descansou.

Recomeçou a caminhar até encontrar a casa que procurava, onde viu uma senhora e uma menina. Pediu um copo d’água e conversou algum tempo com a mais velha, perguntando sobre uns negros que ali moravam. Ela disse que a família tinha se mudado. Benedito resolveu regressar pelo mesmo caminho. Foi quando viu, a algumas centenas de metros adiante, uma menina morena de 18 anos levando ameixas nas mãos. Perdeu-a de vista por algum tempo, para depois reencontrá-la em um casebre mal acabado.

Cumprimentou-a, entrou pelo portão e da janela pediu-lhe que arranjasse algumas mudas de cana para ele. A moça respondeu que a cana-de-açúcar não era dela, mas se ofereceu para levá-lo a dona da plantação, que morava ali perto. Quando a moça, já do lado de fora, fechava a porta para acompanhá-lo, Benedito fez-lhe uma proposta sexual, que foi repelida prontamente. Agarrou seu pescoço, arrastou-a por alguns metros e pegou umas cordas que estavam no chão, estrangulando-a com elas. 

Arrastou a jovem pela corda, levou-a até um sapezal que ficava a uns 50 metros do casebre e estuprou-a enquanto estava desfalecida. Depois desapertou o nó e notou que sua vítima ainda vivia. Fugiu pelos fundos da chácara e foi para a estação de trem. Disse, em seu depoimento, que a moça gritou ao ser atacada.

Casos da Chácara Rudge Ramos
Data: 2 de agosto de 1952
Vítima: Raquel
Idade: 10 anos
Crime: estupro e homicídio

Vítima: Abraão
Idade: 8 anos
Crime: atentado violento ao pudor

Naquele sábado de 1952, Benedito já acordou com uma espécie de friagem, como um arrepio que não passava. Imediatamente veio o pensamento e a urgência de fazer sexo. Com a esposa era impraticável. Ela sofria de muitas enfermidades, o que tornava impossível ter relações sexuais sempre que desejava. O problema era o quanto queria; na verdade não parava de querer. Já havia procurado um médico e vários curandeiros, mas nenhum remédio ou chá diminuíra sua virilidade. Nada fazia seu impulso sexual desaparecer.

Naquela madrugada, Benedito se vestiu no escuro para não acordar a esposa. Colocou o chapéu, abaixou a aba para que seu rosto não fosse visto facilmente, pegou sua pasta e saiu.

Ao sair, tranquilizou-se com o fato de ainda estar escuro. Não levantaria suspeita; a cidade ainda dormia. Seguiu a pé até o parque D. Pedro II, pensando no rumo que tomaria para encontrar um local apropriado para agir. Decidiu-se pelo ônibus amarelo da linha São João Clímaco.

Depois de um tempo, ao olhar pela janela, percebeu que já estava na altura do posto da Guarda Civil que ficava no começo da via Anchieta. Desceu imediatamente do ônibus. Aquele local era ermo o suficiente para que pudesse agir, mas não tanto que o impedisse de encontrar uma presa. Os arrepios e friagens continuavam.

Benedito foi caminhando pela estrada, olhos apertados de caçador tentando avistar uma caça. Viu, a sua direita, a placa de entrada da chácara Rudge Ramos. Sabia que ali existia um lago e muitas casas de japoneses. Ele adorava meninas japonesas.

Andou alguns metros, atravessou um mata-burro, passou por diversas casas. Ao longe, vindo em sua direção, Raquel, 10 anos de idade. A japonesinha era pequena e devia estar indo para a escola, já que carregava uma pasta, que Benedito certamente levaria como lembrança, se fosse possível.
Ele preferia mulheres, mas, quando se sentia como naquele dia, nada importava. Nem pensava no sofrimento da menina, só em ter relações sexuais com ela.

Quando Raquel passou por ele, agarrou-a com rapidez pelo pescoço. Tirou uma cordinha da mala, já com a laçada pronta, e constringiu o pescoço da menina até que ela desmaiasse.

Benedito arrastou Raquel para o mato que cercava a estrada. Tirou as roupas da criança e tentou penetrá-la com seu membro. Não conseguiu. A vagina era pequena demais, e ele avantajado. Na pressa de satisfazer-se, cuspiu na própria mão e umedeceu o sexo da menina. Mesmo assim, precisou de muito esforço. 

Finalmente ejaculou, mas o alívio tão esperado não veio. Benedito então a penetrou mais uma vez. Ao terminar, olhou para a garotinha desfalecida. Examinou sua fisionomia com atenção e verificou sua pulsação. Estava viva. Recolheu as roupas de Raquel e a cobriu com elas. Raquel morreu posteriormente em decorrência dos ferimentos causados por Benedito em seu ataque brutal.

Benedito saiu sem olhar para trás, ainda inquieto, insatisfeito. Apanhou alguns ramos de cambuci e erva-de-bicho para fazer um chá quando chegasse em casa. Ainda sentia arrepios.

Ao voltar pela estrada, viu um menino brincando com uma garrafa e um carrinho. Imediatamente as pulsações voltaram; o desejo cresceu de forma insuportável.

Benedito chamou o garotinho e perguntou seu nome. Ele respondeu que era Abraão, e que tinha 8 anos. Tentando ganhar sua simpatia, Benedito lhe disse que conhecia seu pai. O menino sorriu, envergonhado, segurando com força seus brinquedos. Benedito então propôs ao garoto que o acompanhasse por um atalho em troca de algum dinheiro. Sem perceber suas reais intenções, ele concordou. Naquela idade, jamais passaria pela cabeça da criança que aquele homem bem vestido lhe faria algum mal.

Abraão e Benedito entraram pelo atalho e cruzaram uma porteira de arame farpado, alcançando o mato. Ao ver-se sozinho, sem enxergar mais a estrada, o menino teve medo. Largou os brinquedos no chão e tentou sair correndo. Não teve tempo. Benedito agarrou-o pelo pescoço até que desfalecesse. Deitou-o no chão, arrancou suas roupas e o sodomizou.

Depois de verificar se o menino ainda estava vivo, Benedito jogou longe os brinquedos para dificultar sua localização. Apressadamente voltou à via Anchieta e pegou um ônibus de São Bernardo do Campo para o parque Dom Pedro II. Ainda eram nove horas da manhã, e ele falaria para a esposa que não havia conseguido trabalho naquele dia.

Caso de Itaquaquecetuba
Data: 18 de agosto de 1952
Vítima: Ruth
Idade: 10 anos
Crime: estupro e homicídio

Naquele dia Benedito desceu do trem na estação de Aracaré às nove horas da manhã. Andou por um atalho e foi sair no Rancho Grande, onde tomou guaraná e permaneceu por algum tempo. Voltou para pegar o trem, mas, como ele ainda ia demorar, resolveu voltar ao Rancho Grande e pegar um ônibus. No caminho, num ponto íngreme da estrada, encontrou uma menina negra, Ruth.

Ao cruzar com ela, convidou-a para acompanhá-lo ao mato. Não percebendo suas intenções, Ruth acompanhou-o até a margem da capoeira. Ali, Benedito agarrou-a pelo pescoço e a arrastou, desfalecida, mato adentro. Depois de estuprá-la, deixou-a recostada em uma árvore, à sombra, ainda com sinais de vida, coberta com suas roupas e fugiu.

Caso do Sítio Invernada
Data: 21 de agosto de 1952
Vítima: Miriam
Idade: 15 anos
Crime: estupro e homicídio

Benedito foi para Cumbica, onde iria encontrar o amigo Albino, alistado na Força Aérea. Ao chegar ali, soube que o amigo havia sido expulso da unidade. Pegou carona num caminhão e desceu a 2 quilômetros do Sítio Invernada, no Barreiro. Seguiu a pé pela estrada até o tal lugar e cruzou com várias pessoas pelo caminho. Viu então uma mocinha tirando água de um poço na margem esquerda da estrada. Aproximou-se e verificou que era japonesa. 

Puxou conversa. Perguntou se alguém de sua família estava em casa. Miriam respondeu que não, que estavam todos na roça. Então Benedito agarrou-a pelo pescoço, mas dessa vez não seria tão fácil, porque a resistência foi grande e os dois lutaram até que ela fosse subjugada. Miriam foi derrubada e feriu o rosto em consequência da queda. Em seguida, Benedito apertou-lhe o pescoço e arrastou-a para o matagal. Colocou-a no chão, desfalecida, e estuprou-a. Não despiu inteiramente a moça. Fugiu.

Trabalhos Policiais

A polícia conseguiu um mandado de busca para investigar a casa de Benedito. As seguintes evidências foram encontradas:

Três pastas de couro;
Noticiário de seus crimes e outros em recortes de jornal;
Vários ternos;
Chapéu cinza como o citado pelas testemunhas;
Livros de catecismo;
Imagem de Santa Izildinha;
Relação manuscrita a lápis, do próprio punho de Benedito, com várias anotações;

Benedito Moreira de Carvalho fazia um “livro-caixa” de seus crimes de morte. Os bairros eram marcados de acordo com suas próprias referências sobre o local, e não com os nomes conhecidos pela imprensa.
Segundo o próprio assassino, suas anotações tinham objetivo de prevenir-se no caso de ser responsabilizado por crimes sexuais que não tivesse cometido.

Benedito nunca confessou cópula anal e estrangulamento, ações suas comprovadas por exames médico-legais. Nas marcas de estrangulamento manual deixadas pelo “Monstro de Guaianases” no pescoço de suas vítimas, sempre faltava parte do dedo indicador da mão esquerda, que Benedito tinha perdido num acidente de trabalho.

O conteúdo de sua pasta também não deixou dúvidas sobre seus objetivos de uso do cordel com laçada.
Quando interrogado a respeito, ele afirmou que “aquela cordinha” era usada para fazer feixes de gravetos e cavacos que costumava levar para casa e utilizar no fogão. O problema foi que sua esposa negou categoricamente essa declaração, pois o fogão de sua casa era a carvão. De fato, aquele tipo de corda é usado em serrarias para amarrar caibros e ripas, mas as necropsias de Gertrudes Dunzinger e Raquel demonstravam que os sulcos encontrados no pescoço delas correspondiam com exatidão à espessura do cordel de Benedito.

A maior preocupação de Benedito era de que as pessoas não acreditassem que ele era doente. Não queria ser tratado como criminoso, queria ser internado em hospital psiquiátrico. Confessou que não conseguia dominar os ímpetos de violência quando estava excitado sexualmente.

Sobre as pastas de couro encontradas em sua casa, declarou que foram compradas por ele na Rua São Caetano, eram suas.

O caso do “Monstro de Guaianases” atraiu todas as atenções e causou grande comoção. Seus interrogatórios sobre cada delito em particular foram feitos publicamente, num salão da Secretária de Segurança Pública, e acompanhados durante dias e dias seguidos por uma multidão de curiosos. Os jornalistas interrogavam Benedito à vontade. Psiquiatras interessados no caso foram entrevistá-lo sem o menor constrangimento.

Passados 14 dias da primeira confissão, Benedito, diante das novas provas, confessou mais três crimes.
A pasta que ele disse ter comprado um ano antes por Cr$ 34,00 (trinta e quatro cruzeiros), na Rua São Caetano, provou-se custar bem mais do que isso. A etiqueta da mala levou os investigadores à fábrica, que estimou o preço de venda em pelo menos o dobro do que ele alegava ter pago.

Para resolver a dúvida, a polícia examinou outra vez todos os inquéritos de crimes sexuais para verificar se em algum caso havia sido assinalado o desaparecimento da mala da vítima. De fato no caso de Sarah (10), isso tinha acontecido.

Ela havia sido estuprada e gravemente ferida no mesmo dia em que a menina Ester fora estuprada e morta na Estrada da Juta, em Santo André.

Foram chamados para depor Sarah e seu pai, que reconheceram a pasta, entre outras quatro, com todas as formalidades e testemunhas.

A menina ainda indicou uma anotação feita a lápis que estaria escrita dentro da mala, provavelmente o preço em código. O pai da vítima conduziu a polícia à loja onde a havia comprado, e o vendedor a reconheceu entre outras, mostrando a anotação feita de próprio punho em seu interior.

Ao mesmo tempo, o criminoso confessou outros dois delitos por haver sido reconhecido por testemunhas: estupro de Deborah (11) em 5 de maio de 1952, na Vila Carrão, e de Lea (11) em 24 de junho de 1952, em Mauá.

Benedito fez o reconhecimento e a identificação de todos os locais dos crimes. Mostraram à polícia, com impressionante exatidão, os caminhos pelos quais chegava a eles, o ponto em que encontrara a vítima, a posição em que esta ficara, o caminho de volta, os lugares onde tinham ficado bolsas e outros objetos delas.
Indicava com extrema segurança clareiras, atalhos, estradas, casas, capões de mato, cercas – enfim todos os detalhes de cada crime cometido por ele. No Sítio Invernada, cena de seu último assassinato, reconheceu o local, apesar de a casa ter sido demolida e o aspecto geral do lugar ter mudado. No local em que matou Ester, Benedito não se confundiu nem mesmo com a profunda modificação produzida ali por recentes queimadas.

A menina Rebeca (12), apesar do inicial estado de choque em que ficara após o ataque de Benedito contra ela, sobreviveu e pôde depois identificar seu estuprador e colaborar com mais detalhes sobre seu comportamento.

A violência de seus crimes era tal que suas vítimas desmaiavam durante o ataque. Os exames de corpo delito das vítimas indicaram rompimento da vagina e ânus, lesões (escoriações, sulcos e equimoses) no pescoço e no rosto, constrição da garganta, socos na cabeça, escoriações na face interna das coxas e face anterior das pernas, morte da vítima por esganadura, estrangulamento ou sufocação, além de contusões e escoriações nos seios.

Benedito cometeu crimes contra 29 vítimas: dez estupros seguidos de homicídio, nove estupros, um atentado violento ao pudor, um atentado ao pudor, seis tentativas de estupro, uma tentativa de estupro e homicídio e um homicídio.

Vinte e duas de suas vítimas com idade conhecida eram menores de idade. Todas, sem exceção, foram atacadas durante o dia. Todos os locais de crime eram escondidos, ermos, outeiros cobertos de vegetação de pequeno porte, como capoeiras, clareiras ou capões de mato.

Ao ser interrogada, Marina Ferreira de Carvalho, esposa de Benedito, disse não ter queixas do marido. Parece que ao seu lado seus impulsos sexuais não eram nada doentios. Nunca notou qualquer anomalia ou perversão na conduta dele.

A senhora Carvalho declarou que Benedito era trabalhador e bom chefe de família, sustentando sozinho o lar. Nunca soube ao certo os motivos das prisões e condenações do marido. Sabia vagamente de que se tratava de “encrencas com moças”.

Vida depois de preso e morte

Benedito teve sua prisão preventiva decretada em 12 de setembro de 1952 e foi para o Manicômio Judiciário de São Paulo, hoje chamado Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico “Professor André Teixeira Lima” de Franco da Rocha, em 24 de outubro de 1952.

A conclusão de todos os laudos até sua morte era de que o paciente sofria de psicose e/ou pseudopsicopatia por lesão cerebral, sendo assim indivíduo de alta periculosidade.

Foi absolvido de seus crimes em razão da inimputabilidade e mantido o resto de seus dias internado no manicômio.

Segundo José Benedito Catalini, funcionário da instituição desde 1973, Benedito Moreira de Carvalho era autoritário, dominador, meticuloso e obediente. Era responsável pelo refeitório dos pacientes da seção B e chefe muito duro com os outros presos. A liderança dos internos não gostava do excesso de autoridade sempre utilizado por Benedito.

Em 1975, Catalani assistiu ao paciente Armindo Pereira Alves, da elite da malandragem na época, atentar contra a vida de Benedito com um canivete. A camisa branca abotoada de Benedito se abriu com as quatro ou cinco facadas que levou. Sua barriga foi cortada como a de um peixe ao ser limpo; tripas e fezes ficaram expostas, e Benedito, segurando o ventre, caminhou 20 metros até o consultório médico para buscar socorro. Hospitalizado durante algum tempo, recuperou-se totalmente.

Segundo Catalani, Benedito sempre teve receio de sair de sua unidade. Ele temia ser alvo de vingança por parte dos parentes de suas vítimas. Tinha mais medo ainda de qualquer paciente oriental.

Em 1976 sofreu um enfarte dentro da copa do refeitório. Como era um preso de confiança, a chave estava com ele, e a porta, trancada. Depois do arrombamento executado por funcionários, Benedito ainda recebeu socorro, mas não sobreviveu.

Sua esposa, Marina, foi retirar seus pertences, que se resumiam em uma carteira de couro sintético, uma carteira porta notas, uma caneta tinteiro, um par de óculos com estojo, dez maços de cigarros Parker, um relógio de pulso marca Diva, carteira de identidade, carteira do 2º Batalhão da Força Pública da 4ª Companhia, certidão de nascimento.

Isso foi o que restou do temido Monstro de Guaianases.

AUTOR: LOUCOS E PERIGOSOS

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

ATENÇÃO!!! AQUECIMENTO GLOBAL É INEVITÁVEL E 6 BI MORRERÃO, DIZ CIENTISTA

Aos 88 anos, depois de quatro filhos e uma carreira longa e respeitada como um dos cientistas mais influentes do século 20, James Lovelock chegou a uma conclusão desconcertante: a raça humana está condenada. 

"Gostaria de ser mais esperançoso", ele me diz em uma manhã ensolarada enquanto caminhamos em um parque em Oslo (Noruega), onde o estudioso fará uma palestra em uma universidade. Lovelock é baixinho, invariavelmente educado, com cabelo branco e óculos redondos que lhe dão ares de coruja. Seus passos são gingados; sua mente, vívida; seus modos, tudo menos pessimistas. Aliás, a chegada dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse - guerra, fome, pestilência e morte - parece deixá-lo animado. "Será uma época sombria", reconhece. "Mas, para quem sobreviver, desconfio que vá ser bem emocionante."

Na visão de Lovelock, até 2020, secas e outros extremos climáticos serão lugar-comum. Até 2040, o Saara vai invadir a Europa, e Berlim será tão quente quanto Bagdá. Atlanta acabará se transformando em uma selva de trepadeiras kudzu. Phoenix se tornará um lugar inabitável, assim como partes de Beijing (deserto), Miami (elevação do nível do mar) e Londres (enchentes). A falta de alimentos fará com que milhões de pessoas se dirijam para o norte, elevando as tensões políticas. 

"Os chineses não terão para onde ir além da Sibéria", sentencia Lovelock. "O que os russos vão achar disso? Sinto que uma guerra entre a Rússia e a China seja inevitável." Com as dificuldades de sobrevivência e as migrações em massa, virão as epidemias. Até 2100, a população da Terra encolherá dos atuais 6,6 bilhões de habitantes para cerca de 500 milhões, sendo que a maior parte dos sobreviventes habitará altas latitudes - Canadá, Islândia, Escandinávia, Bacia Ártica.

Até o final do século, segundo o cientista, o aquecimento global fará com que zonas de temperatura como a América do Norte e a Europa se aqueçam quase 8 graus Celsius - quase o dobro das previsões mais prováveis do relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática, a organização sancionada pela ONU que inclui os principais cientistas do mundo. 

"Nosso futuro", Lovelock escreveu, "é como o dos passageiros em um barquinho de passeio navegando tranqüilamente sobre as cataratas do Niagara, sem saber que os motores em breve sofrerão pane". E trocar as lâmpadas de casa por aquelas que economizam energia não vai nos salvar. Para Lovelock, diminuir a poluição dos gases responsáveis pelo efeito estufa não vai fazer muita diferença a esta altura, e boa parte do que é considerado desenvolvimento sustentável não passa de um truque para tirar proveito do desastre. "Verde", ele me diz, só meio de piada, "é a cor do mofo e da corrupção."

Se tais previsões saíssem da boca de qualquer outra pessoa, daria para rir delas como se fossem devaneios. Mas não é tão fácil assim descartar as idéias de Lovelock. Na posição de inventor, ele criou um aparelho que ajudou a detectar o buraco crescente na camada de ozônio e que deu início ao movimento ambientalista da década de 1970. E, na posição de cientista, apresentou a teoria revolucionária conhecida como Gaia - a idéia de que nosso planeta é um superorganismo que, de certa maneira, está "vivo". 

Essa visão hoje serve como base a praticamente toda a ciência climática. Lynn Margulis, bióloga pioneira na Universidade de Massachusetts (Estados Unidos), diz que ele é "uma das mentes científicas mais inovadoras e rebeldes da atualidade". Richard Branson, empresário britânico, afirma que Lovelock o inspirou a gastar bilhões de dólares para lutar contra o aquecimento global. "Jim é um cientista brilhante que já esteve certo a respeito de muitas coisas no passado", diz Branson. E completa: "Se ele se sente pessimista a respeito do futuro, é importante para a humanidade prestar atenção."
Lovelock sabe que prever o fim da civilização não é uma ciência exata. "Posso estar errado a
respeito de tudo isso", ele admite. "O problema é que todos os cientistas bem intencionados que argumentam que não estamos sujeitos a nenhum perigo iminente baseiam suas previsões em modelos de computador. Eu me baseio no que realmente está acontecendo."

Quando você se aproxima da casa de Lovelock em Devon, uma área rural no sudoeste da Inglaterra, a placa no portão de metal diz, claramente: "Estação Experimental de Coombe Mill. Local de um novo habitat. Por favor, não entre nem incomode".

Depois de percorrer algumas centenas de metros em uma alameda estreita, ao lado de um moinho antigo, fica uma casinha branca com telhado de ardósia onde Lovelock mora com a segunda mulher, Sandy, uma norte-americana, e seu filho mais novo, John, de 51 anos e que tem incapacidade leve. É um cenário digno de conto de fadas, cercado de 14 hectares de bosques, sem hortas nem jardins com planejamento paisagístico. Parcialmente escondida no bosque fica uma estátua em tamanho natural de Gaia, a deusa grega da Terra, em homenagem à qual James Lovelock batizou sua teoria inovadora.

A maior parte dos cientistas trabalha às margens do conhecimento humano, adicionando, aos poucos, nova informações para a nossa compreensão do mundo. Lovelock é um dos poucos cujas idéias fomentaram, além da revolução científica, também a espiritual. 

"Os futuros historiadores da ciência considerarão Lovelock como o homem que inspirou uma mudança digna de Copérnico na maneira como nos enxergamos no mundo", prevê Tim Lenton, pesquisador de clima na Universidade de East Anglia, na Inglaterra. Antes de Lovelock aparecer, a Terra era considerada pouco mais do que um pedaço de pedra aconchegante que dava voltas em torno do Sol. De acordo com a sabedoria em voga, a vida evoluiu aqui porque as condições eram adequadas: não muito quente nem muito frio, muita água. De algum modo, as bactérias se transformaram em organismos multicelulares, os peixes saíram do mar e, pouco tempo depois, surgiu Britney Spears.

Na década de 1970, Lovelock virou essa idéia de cabeça para baixo com uma simples pergunta: Por que a Terra é diferente de Marte e de Vênus, onde a atmosfera é tóxica para a vida? Em um arroubo de inspiração, ele compreendeu que nossa atmosfera não foi criada por eventos geológicos aleatórios, mas sim devido à efusão de tudo que já respirou, cresceu e apodreceu. Nosso ar "não é meramente um produto biológico", James Lovelock escreveu. 

"É mais provável que seja uma construção biológica: uma extensão de um sistema vivo feito para manter um ambiente específico." De acordo com a teoria de Gaia, a vida é participante ativa que ajuda a criar exatamente as condições que a sustentam. É uma bela idéia: a vida que sustenta a vida. Também estava bem em sintonia com o tom pós-hippie dos anos 70. Lovelock foi rapidamente adotado como guru espiritual, o homem que matou Deus e colocou o planeta no centro da experiência religiosa da Nova Era. 

O maior erro de sua carreira, aliás, não foi afirmar que o céu estava caindo, mas deixar de perceber que estava. Em 1973, depois de ser o primeiro a descobrir que os clorofluocarbonetos (CFCs), um produto químico industrial, tinham poluído a atmosfera, Lovelock declarou que a acumulação de CFCs "não apresentava perigo concebível". De fato, os CFCs não eram tóxicos para a respiração, mas estavam abrindo um buraco na camada de ozônio. Lovelock rapidamente revisou sua opinião, chamando aquilo de "uma das minhas maiores bolas fora", mas o erro pode ter lhe custado um prêmio Nobel.

No início, ele também não considerou o aquecimento global como uma ameaça urgente ao planeta. "Gaia é uma vagabunda durona", ele explica com freqüência, tomando emprestada uma frase cunhada por um colega. Mas, há alguns anos, preocupado com o derretimento acelerado do gelo no Ártico e com outras mudanças relacionadas ao clima, ele se convenceu de que o sistema de piloto automático de Gaia está seriamente desregulado, tirado dos trilhos pela poluição e pelo desmatamento. 

Lovelock acredita que o planeta vai recuperar seu equilíbrio sozinho, mesmo que demore milhões de anos. Mas o que realmente está em risco é a civilização. "É bem possível considerar seriamente as mudanças climáticas como uma resposta do sistema que tem como objetivo se livrar de uma espécie irritante: nós, os seres humanos", Lovelock me diz no pequeno escritório que montou em sua casa. "Ou pelo menos fazer com que diminua de tamanho."

Se você digitar "gaia" e "religion" no Google, vai obter 2,36 milhões de páginas - praticantes de wicca, viajantes espirituais, massagistas e curandeiros sexuais, todos inspirados pela visão de Lovelock a respeito do planeta. Mas se você perguntar a ele sobre cultos pagãos, ele responde com uma careta: não tem interesse na espiritualidade desmiolada nem na religião organizada, principalmente quando coloca a existência humana acima de tudo o mais. 

Em Oxford, certa vez ele se levantou e repreendeu Madre Teresa por pedir à platéia que cuidasse dos pobres e "deixasse que Deus tomasse conta da Terra". Como Lovelock explicou a ela, "se nós, as pessoas, não respeitarmos a Terra e não tomarmos conta dela, podemos ter certeza de que ela, no papel de Gaia, vai tomar conta de nós e, se necessário for, vai nos eliminar".

Gaia oferece uma visão cheia de esperança a respeito de como o mundo funciona. Afinal de contas, se a Terra é mais do que uma simples pedra que gira ao redor do sol, se é um superorganismo que pode evoluir, isso significa que existe certa quantidade de perdão embutida em nosso mundo - e essa é uma conclusão que vai irritar profundamente estudiosos de biologia e neodarwinistas de absolutamente todas as origens.

Para Lovelock, essa é uma idéia reconfortante. Considere a pequena propriedade que ele tem em Devon. Quando ele comprou o terreno, há 30 anos, era rodeada por campos aparados por mil anos de ovelhas pastando. E ele se empenhou em devolver a seus 14 hectares um caráter mais próximo do natural. Depois de consultar um engenheiro florestal, plantou 20 mil árvores - amieiros, carvalhos, pinheiros. Infelizmente, plantou muitas delas próximas demais, e em fileiras. 

Agora, as árvores estão com cerca de 12 metros de altura, mas em vez de ter ar "natural", partes do terreno dele parecem simplesmente um projeto de reflorestamento mal executado. "Meti os pés pelas mãos", Lovelock diz com um sorriso enquanto caminhamos no bosque. "Mas, com o passar dos anos, Gaia vai dar um jeito."
Até pouco tempo atrás, Lovelock achava que o aquecimento global seria como sua floresta meia-boca - algo que o planeta seria capaz de corrigir. Então, em 2004, Richard Betts, amigo de Lovelock e pesquisador no Centro Hadley para as Mudanças Climáticas - o principal instituto climático da Inglaterra -, convidou-o para dar uma passada lá e bater um papo com os cientistas. Lovelock fez reunião atrás de reunião, ouvindo os dados mais recentes a respeito do gelo derretido nos pólos, das florestas tropicais cada vez menores, do ciclo de carbono nos oceanos. "Foi apavorante", conta.

"Mostraram para nós cinco cenas separadas de respostas positivas em climas regionais - polar, glacial, floresta boreal, floresta tropical e oceanos -, mas parecia que ninguém estava trabalhando nas conseqüências relativas ao planeta como um todo." Segundo ele, o tom usado pelos cientistas para falar das mudanças que testemunharam foi igualmente de arrepiar: "Parecia que estavam discutindo algum planeta distante ou um universo-modelo, em vez do lugar em que todos nós, a humanidade, vivemos".

Quando Lovelock estava voltando para casa em seu carro naquela noite, a compreensão lhe veio. A capacidade de adaptação do sistema se perdera. O perdão fora exaurido. "O sistema todo", concluiu, "está em modo de falha." Algumas semanas depois, ele começou a trabalhar em seu livro mais pessimista, A Vingança de Gaia, publicado no Brasil em 2006. 

Na sua visão, as falhas nos modelos climáticos computadorizados são dolorosamente aparentes. Tome como exemplo a incerteza relativa à projeção do nível do mar: o IPCC, o painel da ONU sobre mudanças climáticas, estima que o aquecimento global vá fazer com que a temperatura média da Terra aumente até 6,4 graus Celsius até 2100. 

Isso fará com que geleiras em terra firme derretam e que o mar se expanda, dando lugar à elevação máxima do nível de mar de apenas pouco menos de 60 centímetros. A Groenlândia, de acordo com os modelos do IPCC, demorará mil anos para derreter.

Mas evidências do mundo real sugerem que as estimativas do IPCC são conservadoras demais. Para começo de conversa, os cientistas sabem, devido aos registros geológicos, que há 3 milhões de anos, quando as temperaturas subiram cinco graus acima dos níveis atuais, os mares subiram não 60 centímetros, mas 24 metros. Além do mais, medidas feitas por satélite recentemente indicam que o Ártico está derretendo com tanta rapidez que a região pode ficar totalmente sem gelo até 2030. 

"Quem elabora os modelos não tem a menor noção sobre derretimento de placas de gelo", desdenha o estudioso, sem sorrir.

Mas não é apenas o gelo que invalida os modelos climáticos. Sabe-se que é difícil prever corretamente a física das nuvens, e fatores da biosfera, como o desmatamento e o derretimento da Tundra, raramente são levados em conta. "Os modelos de computador não são bolas de cristal", argumenta Ken Caldeira, que elabora modelos climáticos na Universidade de Stanford, cuja carreira foi profundamente influenciada pelas idéias de Lovelock. 

"Ao observar o passado, fazemos estimativas bem informadas em relação ao futuro. Os modelos de computador são apenas uma maneira de codificar esse conhecimento acumulado em apostas automatizadas e bem informadas."

Aqui, em sua essência supersimplificada, está o cenário pessimista de Lovelock: o aumento da temperatura significa que mais gelo derreterá nos pólos, e isso significa mais água e terra. Isso, por sua vez, faz aumentar o calor (o gelo reflete o sol, a terra e a água o absorvem), fazendo com que mais gelo derreta. O nível do mar sobe. 

Mais calor faz com que a intensidade das chuvas aumente em alguns lugares e com que as secas se intensifiquem em outros. As florestas tropicais amazônicas e as grandes florestas boreais do norte - o cinturão de pinheiros e píceas que cobre o Alasca, o Canadá e a Sibéria - passarão por um estirão de crescimento, depois murcharão até desaparecer. 

O solo permanentemente congelado das latitudes do norte derrete, liberando metano, um gás que contribui para o efeito estufa e que é 20 vezes mais potente do que o CO2... e assim por diante. Em um mundo de Gaia funcional, essas respostas positivas seriam moduladas por respostas negativas, sendo que a maior de todas é a capacidade da Terra de irradiar calor para o espaço. Mas, a certa altura, o sistema de regulagem pára de funcionar e o clima dá um salto - como já aconteceu muitas vezes no passado - para uma nova situação, mais quente. Não é o fim do mundo, mas certamente é o fim do mundo como o conhecemos.

O cenário pessimista de Lovelock é desprezado por pesquisadores de clima de renome, sendo que a maior parte deles rejeita a idéia de que haja um único ponto de desequilíbrio para o planeta inteiro. "Ecossistemas individuais podem falhar ou as placas de gelo podem entrar em colapso", esclarece Caldeira, "mas o sistema mais amplo parece ser surpreendentemente adaptável." No entanto, vamos partir do princípio, por enquanto, de que Lovelock esteja certo e que de fato estejamos navegando por cima das cataratas do Niagara. Simplesmente vamos acenar antes de cair? 

Na visão de Lovelock, reduções modestas de emissões de gases que contribuem para o efeito estufa não vão nos ajudar - já é tarde demais para deter o aquecimento global trocando jipões a diesel por carrinhos híbridos. E a idéia de capturar a poluição de dióxido de carbono criada pelas usinas a carvão e bombear para o subsolo? "Não há como enterrar quantidade suficiente para fazer diferença." Biocombustíveis? "Uma ideia monumentalmente idiota." Renováveis? "Bacana, mas não vão nem fazer cócegas." Para Lovelock, a ideia toda do desenvolvimento sustentável é equivocada: "Deveríamos estar pensando em retirada sustentável".

A retirada, na visão dele, significa que está na hora de começar a discutir a mudança do lugar onde vivemos e de onde tiramos nossos alimentos; a fazer planos para a migração de milhões de pessoas de regiões de baixa altitude, como Bangladesh, para a Europa; a admitir que Nova Orleans já era e mudar as pessoas para cidades mais bem posicionadas para o futuro. E o mais importante de tudo é que absolutamente todo mundo "deve fazer o máximo que pode para sustentar a civilização, de modo que ela não degenere para a Idade das Trevas, com senhores guerreiros mandando em tudo, o que é um perigo real. Assim, podemos vir a perder tudo".

Até os amigos de Lovelock se retraem quando ele fala assim. "Acho que ele está deixando nossa cota de desespero no negativo", diz Chris Rapley, chefe do Museu de Ciência de Londres, que se empenhou com afinco para despertar a consciência mundial sobre o aquecimento global. Outros têm a preocupação justificada de que as opiniões de Lovelock sirvam para dispersar o momento de concentração de vontade política para impor restrições pesadas às emissões de gases poluentes que contribuem para o efeito estufa. Broecker, o paleoclimatologista de Columbia, classifica a crença de Lovelock de que reduzir a poluição é inútil como "uma bobagem perigosa".

"Eu gostaria de poder dizer que turbinas de vento e painéis solares vão nos salvar", Lovelock responde. "Mas não posso. Não existe nenhum tipo de solução possível. Hoje, há quase 7 bilhões de pessoas no planeta, isso sem falar nos animais. Se pegarmos apenas o CO2 de tudo que respira, já é 25% do total - quatro vezes mais CO2 do que todas as companhias aéreas do mundo. Então, se você quer diminuir suas emissões, é só parar de respirar. É apavorante. Simplesmente ultrapassamos todos os limites razoáveis em números. E, do ponto de vista puramente biológico, qualquer espécie que faz isso tem que entrar em colapso."

Mas isso não é sugerir, no entanto, que Lovelock acredita que deveríamos ficar tocando harpa enquanto assistimos o mundo queimar. É bem o contrário. "Precisamos tomar ações ousadas", ele insiste. "Temos uma quantidade enorme de coisas a fazer." De acordo com a visão dele, temos duas escolhas: podemos retornar a um estilo de vida mais primitivo e viver em equilíbrio com o planeta como caçadores-coletores ou podemos nos isolar em uma civilização muito sofisticada, de altíssima tecnologia. "Não há dúvida sobre que caminho eu preferiria", diz certa manhã, em sua casa, com um sorriso aberto no rosto enquanto digita em seu computador. "Realmente, é uma questão de como organizamos a sociedade - onde vamos conseguir nossa comida, nossa água. Como vamos gerar energia."

Em relação à água, a resposta é bem direta: usinas de dessalinização, que são capazes de transformar água do mar em água potável. O suprimento de alimentos é mais difícil: o calor e a seca vão acabar com a maior parte das regiões de plantações de alimentos hoje existentes. Também vão empurrar as pessoas para o norte, onde vão se aglomerar em cidades. Nessas áreas, não haverá lugar para quintais ajardinados. Como resultado, Lovelock acredita, precisaremos sintetizar comida - teremos que criar alimentos em barris com culturas de tecidos de carnes e vegetais. Isso parece muito exagerado e profundamente desagradável, mas, do ponto de vista tecnológico, não será difícil de realizar.

O fornecimento contínuo de eletricidade também será vital, segundo ele. Cinco dias depois de visitar o centro Hadley, Lovelock escreveu um artigo opinativo polêmico, intitulado: "Energia nuclear é a única solução verde". Lovelock argumentava que "devemos usar o pequeno resultado dos renováveis com sensatez", mas que "não temos tempo para fazer experimentos com essas fontes de energia visionárias; a civilização está em perigo iminente e precisa usar a energia nuclear - a fonte de energia mais segura disponível - agora ou sofrer a dor que em breve será infligida a nosso planeta tão ressentido".

Ambientalistas urraram em protesto, mas qualquer pessoa que conhecia o passado de Lovelock não se surpreendeu com sua defesa à energia nuclear. Aos 14 anos, ao ler que a energia do sol vem de uma reação nuclear, ele passou a acreditar que a energia nuclear é uma das forças fundamentais no universo. Por que não aproveitá-la? No que diz respeito aos perigos - lixo radioativo, vulnerabilidade ao terrorismo, desastres como o de Chernobyl - Lovelock diz que este é dos males o menos pior: "Mesmo que eles tenham razão a respeito dos perigos, e não têm, continua não sendo nada na comparação com as mudanças climáticas".
Como último recurso, para manter o planeta pelo menos marginalmente habitável, Lovelock
acredita que os seres humanos podem ser forçados a manipular o clima terrestre com a construção de protetores solares no espaço ou instalando equipamentos para enviar enormes quantidades de CO2 para fora da atmosfera. Mas ele considera a geoengenharia em larga escala como um ato de arrogância - 

"Imagino que seria mais fácil um bode se transformar em um bom jardineiro do que os seres humanos passarem a ser guardiões da Terra". Na verdade, foi Lovelock que inspirou seu amigo Richard Branson a oferecer um prêmio de US$ 25 milhões para o "Virgin Earth Challenge" (Desafio Virgin da Terra), que será concedido à primeira pessoa que conseguir criar um método comercialmente viável de remover os gases responsáveis pelo efeito estufa da atmosfera. Lovelock é juiz do concurso, por isso não pode participar dele, mas ficou intrigado com o desafio. Sua mais recente ideia: 

Suspender centenas de milhares de canos verticais de 18 metros de comprimento nos oceanos tropicais, colocar uma válvula na base de cada cano e permitir que a água das profundezas, rica em nutrientes, seja bombeada para a superfície pela ação das ondas. Os nutrientes das águas das profundezas aumentariam a proliferação das algas, que consumiriam o dióxido de carbono e ajudariam a resfriar o planeta. "É uma maneira de contrabalançar o sistema de energia natural da Terra usando ele próprio", Lovelock especula. "Acho que Gaia aprovaria."

Oslo é o tipo perfeito de cidade para Lovelock. Fica em latitudes do norte, que ficarão mais temperadas na medida em que o clima for esquentando; tem água aos montes; graças a suas reservas de petróleo e gás, é rica; e lá já há muito pensamento criativo relativo à energia, incluindo, para a satisfação de Lovelock, discussões renovadas a respeito da energia nuclear. "A questão principal a ser discutida aqui é como manejar as hordas de pessoas que chegarão à cidade", Lovelock avisa. "Nas próximas décadas, metade da população do sul da Europa vai tentar se mudar para cá."

Nós nos dirigimos para perto da água, passando pelo castelo de Akershus, uma fortaleza imponente do século 13 que funcionou como quartel-general nazista durante a ocupação da cidade na Segunda Guerra Mundial. Para Lovelock, os paralelos entre o que o mundo enfrentou naquela época e o que enfrenta hoje são bem claros. "Em certos aspectos, é como se estivéssemos de novo em 1939", ele afirma. "A ameaça é óbvia, mas não conseguimos nos dar conta do que está em jogo. Ainda estamos falando de conciliação."

Naquele tempo, como hoje, o que mais choca Lovelock é a ausência de liderança política. Apesar de respeitar as iniciativas de Al Gore para conscientizar as pessoas, não acredita que nenhum político tenha chegado perto de nos preparar para o que vem por aí. 

"Em muito pouco tempo, estaremos vivendo em um mundo desesperador, comenta Lovelock. Ele acredita que está mais do que na hora para uma versão "aquecimento global" do famoso discurso que Winston Churchill fez para preparar a Grã-Bretanha para a Segunda Guerra Mundial: "Não tenho nada a oferecer além de sangue, trabalho, lágrimas e suor". "As pessoas estão prontas para isso", Lovelock dispara quando passamos sob a sombra do castelo. "A população entende o que está acontecendo muito melhor do que a maior parte dos políticos."

Independentemente do que o futuro trouxer, é provável que Lovelock não esteja por aí para ver. "O meu objetivo é viver uma vida retangular: longa, forte e firme, com uma queda rápida no final", sentencia. Lovelock não apresenta sinais de estar se aproximando de seu ponto de queda. Apesar de já ter passado por 40 operações, incluindo ponte de safena, continua viajando de um lado para o outro no interior inglês em seu Honda branco, como um piloto de Fórmula 1. 

Ele e Sandy recentemente passaram um mês de férias na Austrália, onde visitaram a Grande Barreira de Corais. O cientista está prestes a começar a escrever mais um livro sobre Gaia. Richard Branson o convidou para o primeiro vôo do ônibus espacial Virgin Galactic, que acontecerá no fim do ano que vem - "Quero oferecer a ele a visão de Gaia do espaço", diz Branson. Lovelock está ansioso para fazer o passeio, e planeja fazer um teste em uma centrífuga até o fim deste ano para ver se seu corpo suporta as forças gravitacionais de um vôo espacial. Ele evita falar de seu legado, mas brinca com os filhos dizendo que quer ver gravado na lápide de seu túmulo: "Ele nunca teve a intenção de ser conciliador".


Em relação aos horrores que nos aguardam, Lovelock pode muito bem estar errado. Não por ter interpretado a ciência erroneamente (apesar de isso certamente ser possível), mas por ter interpretado os seres humanos erroneamente. Poucos cientistas sérios duvidam que estejamos prestes a viver uma catástrofe climática. Mas, apesar de toda a sensibilidade de Lovelock para a dinâmica sutil e para os ciclos de resposta no sistema climático, ele se mostra curiosamente alheio à dinâmica sutil e aos ciclos de resposta no sistema humano. 

Ele acredita que, apesar dos nossos iPhones e dos nossos ônibus espaciais, continuamos sendo animais tribais, amplamente incapazes de agir pelo bem maior ou de tomar decisões de longo prazo que garantam nosso bem-estar. "Nosso progresso moral", diz Lovelock, "não acompanhou nosso progresso tecnológico."

Mas talvez seja exatamente esse o motivo do apocalipse que está por vir. Uma das questões que fascina Lovelock é a seguinte: A vida vem evoluindo na Terra há mais de 3 bilhões de anos - e por que motivo? "Gostemos ou não, somos o cérebro e o sistema nervoso de Gaia", ele explica. "Agora, assumimos responsabilidade pelo bem-estar do planeta. Como vamos lidar com isso?"

Enquanto abrimos caminho no meio dos turistas que se dirigem para o castelo, é fácil olhar para eles e ficar triste. Mais difícil é olhar para eles e ter esperança. Mas quando digo isso a Lovelock, ele argumenta que a raça humana passou por muitos gargalos antes - e que talvez sejamos melhores por causa disso. Então ele me conta a história de um acidente de avião, anos atrás, no aeroporto de Manchester. "Um tanque de combustível pegou fogo durante a decolagem", recorda. 

"Havia tempo de sobra para todo mundo sair, mas alguns passageiros simplesmente ficaram paralisados, sentados nas poltronas, como tinham lhes dito para fazer, e as pessoas que escaparam tiveram que passar por cima deles para sair. Era perfeitamente óbvio o que era necessário fazer para sair, mas eles não se mexiam. Morreram carbonizados ou asfixiados pela fumaça. E muita gente, fico triste em dizer, é assim. E é isso que vai acontecer desta vez, só que em escala muito maior."

Lovelock olha para mim com olhos azuis muito firmes. "Algumas pessoas vão ficar sentadas na poltrona sem fazer nada, paralisadas de pânico. Outras vão se mexer. Vão ver o que está prestes a acontecer, e vão tomar uma atitude, e vão sobreviver. São elas que vão levar a civilização em frente."

(Tradução de Ana Ban)

Fonte: http://rollingstone.uol.com.br/
AUTOR: MISTÉRIOS MUNDIAIS
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