Esse é um filme polêmico e Escatológico, que move processos e ameaças de morte a seu diretor, um filme que eu ainda não assisti, mas confesso que me interessei em tentar entender o motivo de sua existência. O filósofo Russo Mickail Bakhtin (1895-1975) ao analisar as obras de Françõis Rabelais (1494-1553), formulou uma filosofia que seria a chave para entender o sentido grotesco desse filme. Estou falando do polêmico “Centopeia Humana” do diretor Holandês Tom Six.
Entendendo o Grotesco de Bakhtin
O filosofo Mickail Bakhtin, conta que as figuras grotescas são herança de uma cultura cômica popular que se diferencia dos séculos posteriores, são tipos peculiares de imagens e de concepções estéticas da vida prática. A essa concepção se dá o nome de realismo grotesco.
O realismo grotesco, que é um conjunto de sistemas de imagens dessa cultura cômica popular, onde um dos traços mais marcantes é o rebaixamento, ou seja, trazer o espiritual e o abstrato para o plano terreno onde essas imagens são corporificadas. O realismo grotesco também trabalha com a ideia da degradação onde ele define bem o “alto” e o “baixo”. Podemos associar o “alto”, ao céu, a cabeça, a inteligência e o “baixo” a terra, o túmulo, a genitália (o ventre, falo e o traseiro) e também ao inferno em alguns casos.
Mickail Bakhtin
Para Bakhtin o significado de degradar é “entrar em comunhão com a vida da parte inferior do corpo, a do ventre e dos órgãos genitais, e portanto com atos como o coito, a concepção, a gravidez, o parto, a absorção de alimentos e a satisfação das necessidades naturais”.
A boca
A boca é o segundo órgão de maior importância no corpo grotesco (depois do ventre e da genitália). A boca “devora o mundo”, e por terceira parte do corpo mais importante temos o traseiro por onde sai todas as excrescências, e os demais orifícios também ficam nessa categoria. Com a boca se faz as necessidades naturais que é o ato de comer e beber em com o traseiro as excreções, necessárias para manter o corpo saudável.
A lógica artística das imagens grotescas ignora o corpo como um todo, ele se ocupa a valorizar os pormenores, os orifícios.
A submissão do alto ao baixo.
Françõis Rabelais
Poderíamos até mesmo explicar a lógica de filmes pornôs onde uma pessoa rebaixa a outra a sua genitália e ainda deposita nessa suas excrescências. O exagero do grotesco ainda se agrava mais quando acontece a ingestão de tais fluidos, pois a boca, como citado antes “devora o mundo”.
Comparações de Centopeia Humana com filmes pornográficos.
Vi muitas criticas que apontavam o caráter sexual do filme, ondem apontavam como uma forma de pornô bizarro, onde teríamos a presença dos atos considerados mais sujos dentro de filmes dessa ordem (a presença do famoso “beijo grego” e a ingestão de excrementos). Mas essa análise ainda é incompleta mesmo que aponte a ligação sexual existente no filme.
Comparações de Centopeia Humana com filmes pornográficos.
Vi muitas criticas que apontavam o caráter sexual do filme, ondem apontavam como uma forma de pornô bizarro, onde teríamos a presença dos atos considerados mais sujos dentro de filmes dessa ordem (a presença do famoso “beijo grego” e a ingestão de excrementos). Mas essa análise ainda é incompleta mesmo que aponte a ligação sexual existente no filme.
Talvez Tom Six realmente tenha se baseado em filmes dessa ordem, mas sua obra vai muito mais longe do que simplesmente reproduzir a ideia de um filme pornográfico.Para analisarmos o filme precisamos ir mais fundo, temos que entender tudo de um víeis filosófico e artístico. E filmes pornôs também podem ser vistos dessa forma, embora seu propósito seja outro (caberia outro artigo, outro debate e outras análises que não cabem no momento); o problema é que “Centopeia humana” e os filmes pornôs devem ser analisados como realidades grotescas.
Análise Final
O corpo grotesco segundo Bakhtin:
“O corpo grotesco é um corpo em movimento. Ele jamais está pronto nem acabado: está sempre em estado de construção, de criação, e ele mesmo constrói outro corpo; além disso, esse corpo absorve o mundo e é absorvido por ele.”
Com isso temos uma clara imagem dos corpos interligados no filme, é um corpo em movimento que nunca está acabado, como fica provado no segundo filme e ainda no roteiro do terceiro. Temos a presença do rebaixamento e da degradação onde a boca (alto) está em contato com o traseiro (baixo), onde a boca se alimenta desse orifício, onde há a presença dos excrementos. Tom Six conseguiu com esse filme reunir uma série de elementos do realismo grotesco obtendo total sucesso nessa união.
A reação do grande publico e a revolta de muita gente contra o diretor expressa bem o quanto o seu grotesco chocou, mas acreditem, nada disso é tão novo! O grotesco ainda apavora e mexe com as emoções humanas, Tom Six não é novo nessa arte, como podemos ver Françõis Rabelais já trabalhava com esses elementos ainda no Renascimento. Se vermos o filme dessa forma então não ficaremos tão surpresos e ainda aceitaremos a existência do filme com um sentido artístico..
E para quem tem medo do filme, nada melhor do que assistir o Making of para tirar o repúdio da cabeça e ver que não passa de uma simples montagem com profissionais envolvidos.
AUTOR: virgula
E para quem tem medo do filme, nada melhor do que assistir o Making of para tirar o repúdio da cabeça e ver que não passa de uma simples montagem com profissionais envolvidos.
AUTOR: virgula
Nenhum comentário:
Postar um comentário
IMPORTANTE
Todos os comentários postados neste Blog passam por moderação. Por este critério, os comentários podem ser liberados, bloqueados ou excluídos. O MUNDO REAL 21 descartará automaticamente os textos recebidos que contenham ataques pessoais, difamação, calúnia, ameaça, discriminação e demais crimes previstos em lei. GUGU