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terça-feira, 21 de janeiro de 2025

CONHEÇA OS 5 MISTÉRIOS INEXPLICÁVEIS AO REDOR DO MUNDO

 

Fonte: Wikimedia Commons

1. Bola de Manteiga de Krishna

Fonte: Wikimedia Commons

Na encosta rochosa íngreme da cidade histórica de Mahabalipuram, na Índia, uma enorme rocha redonda chamada de "Bola de Manteiga de Krishna" se recusa a aceitar as leis da gravidade ou ceder aos empurrões de turistas. Inexplicavelmente, a pedra está na beira de uma encosta sem rolar até o chão.

Segundo a mitologia hindu, o deus Krishna era um impetuoso ladrão de manteiga em sua infância e teria deixado uma bola inteira do alimento cair dos céus naquela posição — sento mantida no lugar por forças divinas. De acordo com os historiadores, a rocha está parada na encosta de uma descida de 45º por mais de 1,3 mil anos.

2. Caldera del Diablo

(Fonte: Wikimedia Commons)

A Devil's Kettle Falls, ou Caldera del Diablo, localizada em Minnessota, nos Estados Unidos, é uma cascata que tem intrigado turistas e geólogos há muitas gerações. Ao longo das margens no norte do Lago Superior, um rio se bifurca em um afloramento rochoso e forma um curioso fluxo de água.

Enquanto um lado da catarata cai sobre um barranco de pedras de dois degraus e segue como uma cachoeira normal, o outro lado simplesmente desaparece em um buraco profundo. Há anos, pesquisadores tentam descobrir o destino da água, mas até então nenhuma solução plausível foi encontrada.

3. O zumbido no Novo México
(Fonte: Unsplash)

De acordo com estudos feitos pela Discover Magazine, cerca de 2 a 5% da população mundial escutam um som contínuo de baixo grau, muitas vezes descrito como um zumbido. A cidade de Taos, no Novo México, no entanto, parece ter uma concentração acima do normal dessas pessoas.

Os primeiros relatos começaram na década de 1990, quando muitas pessoas relataram estarem ouvindo um som esquisito e sem fonte iminente. Pesquisadores da Universidade do Novo México chegaram a levar equipamentos nas casas de quem havia se queixado para tentar encontrar o zumbido. Porém, nenhum dado relevante foi obtido.

4. A múmia de Lady Dai
(Fonte: Wikimedia Commons)

Apelidada de Lady Dai, a múmia de Xin Zhui foi apelidada dessa maneira por ter sido esposa do Marquês de Dai, um chanceler chinês. Esse exemplar, entretanto, é uma das múmias mais bizarras de todas. Enquanto seu rosto parece estar inchado e completamente deformado, sua pele permaneceu macia ao toque e não há sinais de rigidez em qualquer parte do corpo — visto que braços e pernas ainda podem dobrar.

Além disso, até os órgãos internos estão intactos e existem indícios de sangue em suas veias. Enquanto outras múmias tendem a desmoronar com qualquer tipo de movimento, Lady Dai está tão bem preservada que os médicos conseguiram fazer uma autopsia de sua morte 2,1 mil anos após sua morte, também determinando seu tipo sanguíneo. A maneira exata como esse corpo lutou conta a decomposição, porém, segue sendo um mistério.

5. Floresta Torta
(Fonte: Wikimedia Commons)

A Floresta Torta é um bosque de 400 pinheiros em formato muito peculiar localizada perto da cidade de Gryfino, na Polônia. Acredita-se que os pinheiros tenham sido plantados por volta de 1930, quando o território ainda fazia parte de uma província alemã.

Com uma curva acentuada de 90º para o norte a partir da base, as árvores se curvam para trás antes de crescer diretamente para o céu — quase como se fossem um ponto de interrogação ao contrário. Mesmo com essa curva acentuada, os pinheiros tendem a crescer saudáveis e sem qualquer tipo de problema. Existem muitas teorias sobre o mistério, embora haja pouca ou nenhuma evidência para apoiar qualquer uma delas.

FONTE: MEGACURIOSO

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

ET's EXISTEM?, VEJA O QUE OS CIENTISTAS ACHAM SOBRE A EXISTÊNCIA DE VIDA EXTRATERRESTRE

 

Crença em alienígenas inteligentes é menor entre os cientistas Imagem: Getty Images

Notícias sobre a provável existência de vida extraterrestre e nossas chances de detectá-la tendem a ser positivas. Muitas vezes nos dizem que podemos descobri-la a qualquer momento. Encontrar vida além da Terra é "apenas uma questão de tempo", foi dito em setembro de 2023. "Estamos perto" era uma manchete de setembro de 2024.

É fácil entender o motivo. Manchetes como "Provavelmente não estamos perto" ou "Ninguém sabe" não são muito clicáveis. Mas o que a comunidade relevante de especialistas no assunto realmente pensa quando considerada como um todo? As previsões otimistas são comuns ou raras? Existe mesmo um consenso? Em nosso novo artigo, publicado na revista científica Nature Astronomy, descobrimos isso.

De fevereiro a junho de 2024, realizamos quatro pesquisas sobre a provável existência de vida extraterrestre básica, complexa e inteligente. Enviamos e-mails para astrobiólogos (cientistas que estudam a possível vida extraterrestre), bem como para cientistas de outras áreas, incluindo biólogos e físicos.

No total, 521 astrobiólogos responderam, e recebemos 534 respostas de não astrobiólogos. Os resultados revelam que 86,6% dos astrobiólogos pesquisados responderam "concordo" ou "concordo totalmente" que é provável que exista vida extraterrestre (pelo menos de um tipo básico) em algum lugar do Universo.

Menos de 2% discordaram, e 12% permaneceram neutros. Portanto, com base nisso, podemos dizer que há um consenso sólido de que a vida extraterrestre, de alguma forma, existe em algum lugar lá fora.

Os cientistas que não eram astrobiólogos concordaram essencialmente, com uma pontuação geral de concordância de 88,4%. Em outras palavras, não se pode dizer que os astrobiólogos são tendenciosos a acreditar na vida extraterrestre, em comparação com outros cientistas.

Quando nos voltamos para a vida extraterrestre "complexa" ou alienígenas "inteligentes", nossos resultados foram 67,4% de concordância e 58,2% de concordância, respectivamente, para astrobiólogos e outros cientistas. Portanto, os cientistas tendem a pensar que existe vida extraterrestre, mesmo em formas mais avançadas.

Esses resultados se tornam ainda mais significativos pelo fato de que a discordância em todas as categorias foi baixa. Por exemplo, apenas 10,2% dos astrobiólogos discordaram da afirmação de que é provável que existam alienígenas inteligentes.

Otimistas e pessimistas

Os cientistas estão apenas especulando? Normalmente, só devemos reconhecer um consenso científico quando ele se baseia em evidências (e muitas delas). Como não há evidências adequadas, os cientistas podem estar adivinhando. No entanto, os cientistas tinham a opção de votar "neutro", uma opção que foi escolhida por alguns cientistas que achavam que estariam especulando.

Apenas 12% escolheram essa opção. Na verdade, há muitas evidências "indiretas" ou "teóricas" da existência de vida extraterrestre. Por exemplo, sabemos agora que ambientes habitáveis para a vida como conhecemos são muito comuns no Universo.

Temos vários desses ambientes em nosso próprio Sistema Solar, incluindo os oceanos subsuperficiais das luas Europa e Encélado e, possivelmente, também o ambiente a alguns quilômetros abaixo da superfície de Marte. Também parece relevante que Marte costumava ser altamente habitável, com lagos e rios de água líquida em sua superfície e uma atmosfera substancial.

É razoável generalizar a partir daqui para um número verdadeiramente gigantesco de ambientes habitáveis em toda a galáxia e no Universo mais amplo. Também sabemos (já que estamos aqui) que a vida pode começar a partir da "não vida" — afinal, isso aconteceu na Terra. Embora a origem das primeiras formas simples de vida seja pouco compreendida, não há nenhuma razão convincente para pensar que ela exija condições astronomicamente raras. E mesmo que isso aconteça, a probabilidade de a vida ter começado (abiogênese) é claramente diferente de zero.

Isso pode nos ajudar a ver a concordância de 86,6% quanto à possibilidade de existência de vida extraterrestre sob uma nova perspectiva. Talvez não seja, de fato, um consenso surpreendentemente forte. Talvez seja um consenso surpreendentemente fraco. Considere os números: existem mais de 100 bilhões de galáxias. E sabemos que os ambientes habitáveis estão em toda parte.

Digamos que existam 100 bilhões de bilhões de mundos habitáveis (planetas ou luas) no Universo. Suponhamos que sejamos tão pessimistas que pensemos que as chances de a vida começar em qualquer mundo habitável é de uma em um bilhão de bilhões. Nesse caso, ainda assim responderíamos "concordo" à afirmação de que é provável que exista vida alienígena no Universo.

Assim, otimistas e pessimistas deveriam ter respondido "concordo" ou "concordo totalmente" à nossa pesquisa, sendo que apenas os pessimistas mais radicais sobre a origem da vida discordariam.

Tendo isso em mente, poderíamos apresentar nossos dados de outra forma. Suponhamos que desconsideremos os 60 votos neutros que recebemos. Talvez esses cientistas tenham achado que estariam especulando e não quiseram tomar uma posição. Nesse caso, faz sentido ignorar seus votos. Isso deixa 461 votos no total, dos quais 451 foram para concordar ou concordar totalmente. Agora, temos uma porcentagem geral de concordância de 97,8%.

Essa mudança não é tão ilegítima quanto parece. Os cientistas sabem que, se escolherem "neutro", não é possível que estejam errados. Portanto, essa é a escolha "segura". Na pesquisa, isso é frequentemente chamado de "satisficing" (algo como "se satisfazer").

Como o geofísico Edward Bullard escreveu em 1975 enquanto debatia se todos os continentes já foram unidos, em vez de fazer uma escolha, "é mais prudente ficar quieto, (?) sentar-se em cima do muro e esperar por mais dados em uma ambiguidade de estadista". Ficar quieto não é apenas uma escolha segura para os cientistas, mas significa que o cientista não precisa pensar muito —é a escolha fácil.
Vida extraterrestre faz parte do imaginário e de produções audiovisuais Imagem: Divulgação/ Disney

Obtendo o equilíbrio certo

O que provavelmente queremos é equilíbrio. De um lado, temos a falta de evidências empíricas diretas e a relutância de cientistas responsáveis em especular. Por outro lado, temos evidências de outros tipos, incluindo o número verdadeiramente gigantesco de ambientes habitáveis no Universo.

Sabemos que a probabilidade de a vida ter começado em algum lugar do Universo é diferente de zero. Talvez 86,6% de concordância, com 12% de neutralidade e menos de 2% de discordância, seja um compromisso sensato, considerando todos os aspectos.

Talvez —dado o problema da satisfação— sempre que apresentarmos esses resultados, devamos apresentar dois resultados para a concordância geral: um com votos neutros incluídos (86,6%) e outro com votos neutros desconsiderados (97,8%). Nenhum dos resultados é o único e correto.

Cada perspectiva atende a diferentes necessidades analíticas e ajuda a evitar a simplificação excessiva dos dados. Em última análise, informar os dois números --e ser transparente sobre seus contextos-- é a maneira mais honesta de representar a verdadeira complexidade das respostas.

* Peter Vickers, professor de filosofia da ciência na Universidade Durham; Henry Taylor, professor associado do Departamento de Filosofia da Universidade de Birmingham, e Sean McMahon, pesquisador de astrobiologia da Universidade de Edimburgo

Este artigo é republicado de The Conversation sob a licença Creative Commons.

FONTE: UOL TILT

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

SAIBA O ERRO QUE DEU INÍCIO À INTERNET

 

A primeira mensagem enviada pela Arpanet não foi um início tão auspicioso para a rede que cresceria até se tornar a internet Getty Images

O dia era 29 de outubro de 1969. Dois cientistas a cerca de 560 km de distância conectaram seus computadores e começaram a digitar uma mensagem.

O mundo vivia o auge da Guerra Fria. Charley Kline e Bill Duvall eram dois engenheiros brilhantes na linha de frente de um dos experimentos mais ambiciosos da tecnologia.

Kline tinha 21 anos de idade e era estudante de graduação da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). Duvall tinha 29 anos e era programador de sistemas do Instituto de Pesquisa de Stanford (SRI, na sigla em inglês), ambos nos Estados Unidos.

Eles trabalhavam em um sistema chamado Arpanet – a sigla em inglês para Rede da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada.

Financiado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o projeto pretendia criar uma rede que pudesse compartilhar dados diretamente, sem a necessidade de linhas telefônicas. No seu lugar, o sistema usava um método de fornecimento de dados chamado "comutação de pacotes", que, anos mais tarde, formaria a base da internet moderna.

Aquele foi o primeiro teste de uma tecnologia que mudaria quase todas as características da vida humana. Mas, antes que ela pudesse funcionar, era preciso se logar no sistema.

Kline se sentou com seu teclado, entre as paredes verde-limão da sala 3420 do UCLA Boelter Hall, em Los Angeles. Ele estava preparado para se conectar com Duvall, que operava outro um computador, em outro ponto da Califórnia.

Mas Kline nem chegou a completar a palavra "L-O-G-I-N", quando Duvall contou ao telefone que seu sistema havia caído. E, graças àquele erro, a primeira "mensagem" enviada por Kline para Duvall, naquele dia de outono de 1969, foi simplesmente "L-O".
Charley Kline (sorrindo para a câmera, no centro da imagem) foi a primeira pessoa a enviar uma mensagem pela rede que, anos depois, passaria a ser conhecida como internet Charley Kline

Após alguns ajustes, eles conseguiram restabelecer a conexão cerca de uma hora depois. O acidente inicial foi apenas um pequeno obstáculo para um feito monumental. Mas nenhum dos dois percebeu o significado daquele momento.

"Com certeza, não percebi na época", relembra Kline. "Estávamos apenas tentando fazer aquilo funcionar."

A BBC conversou com Kline e Duvall no 55º aniversário daquele feito histórico.

Meio século depois, a internet colocou o mundo dentro de uma pequena caixa preta que cabe no nosso bolso, domina a nossa atenção e atinge os pontos mais distantes da nossa experiência de vida.

Mas tudo começou com dois homens, que vivenciaram pela primeira vez a frustração de não conseguirem se conectar à rede.

Confira abaixo a entrevista, que foi editada para melhor clareza e resumo.

Charley Kline - Eram computadores pequenos – para os padrões da época – mais ou menos do tamanho de uma geladeira. Eram meio barulhentos, devido às ventoinhas de resfriamento, mas silenciosos em comparação com os ruídos de todos aqueles ventiladores do nosso computador Sigma 7.

Havia luzes que piscavam na parte frontal, chaves que podiam controlar o IMP [Processador de Mensagens de Interface] e um leitor de fitas de papel que podia ser usado para carregar o software.

Bill Duvall - Eles ficavam em uma prateleira com tamanho suficiente para abrigar um equipamento de som completo para um grande show hoje em dia. E eram milhares, talvez milhões ou bilhões de vezes menos potentes que o processador de um Apple Watch. Eram os velhos tempos!

BBC - Contem sobre o momento da transmissão das letras L-O.

Kline - Ao contrário dos websites e outros sistemas de hoje em dia, quando você conectava um terminal ao sistema do SRI, nada acontecia até que você digitasse alguma coisa.

Se você quisesse executar um programa, você precisava primeiro se logar – digitando a palavra "login" – e o sistema iria pedir seu nome de usuário e sua senha.

Assim que eu digitava um caractere no meu terminal – um teletipo modelo 33 – ele seria enviado para o programa que escrevi para o computador SDS Sigma 7. Aquele programa recebia o caractere, formatava em uma mensagem e o enviava para o Processador de Mensagens de Interface.

Quando ele chegava ao sistema do SRI, o sistema tratava [a mensagem] como se viesse de um terminal local e a processava. Ele "ecoava" o caractere [reproduzia no terminal]. Neste caso, o código de Bill pegaria aquele caractere para formatá-lo em uma mensagem e enviá-lo para o IMP, de volta para a UCLA. E, quando eu o recebesse, imprimiria no meu terminal.
O Processador de Mensagens de Interface (IMP, na sigla em inglês) foi o primeiro roteador de internet do mundo UCLA

Eu estava ao telefone com Bill quando tentamos fazer isso. Eu disse a ele que havia digitado a letra L. Ele me respondeu que recebeu a letra L e a enviou de volta. E eu disse que ela havia sido impressa.

Em seguida, digitei a letra O. Novamente, funcionou bem. Digitei então a letra G. Bill me disse que seu sistema havia travado e ele me ligaria de volta.

Duvall - O sistema da UCLA não previu que iria receber G-I-N depois que Charlie digitou L-O. Por isso, ele enviou uma mensagem de erro para o computador do SRI.

Não lembro exatamente qual era a mensagem, mas aquilo aconteceu porque a conexão da rede era muito mais rápida do que tudo o que se conhecia até então. A velocidade de conexão normal era de 10 caracteres por segundo, mas a Arpanet podia transmitir até 5 mil caracteres por segundo.

O resultado foi que o envio daquela mensagem da UCLA para o computador do SRI sobrecarregou o buffer de entrada, que esperava apenas 10 caracteres por segundo. Era como encher um copo com uma mangueira de incêndio.

Descobri rapidamente o que havia acontecido, aumentei o tamanho do buffer e restabeleci o sistema, o que levou cerca de uma hora.
A primeira mensagem enviada pela rede consistiu de apenas duas letras: L e O Getty Images

BBC - Vocês perceberam que aquele poderia ser um momento histórico?

Kline - Não, com certeza não percebi na época.

Duvall - Na verdade, não. Aquilo foi mais uma etapa vencida no contexto maior do trabalho que desenvolvíamos no SRI, que realmente acreditávamos que teria grande repercussão.

BBC - Quando Samuel Morse enviou a primeira mensagem por telégrafo, em 1844, ele teve um impulso dramático e teclou "O que Deus fez" em uma linha, de Washington DC para Baltimore, no Estado americano de Maryland. Se vocês pudessem voltar atrás, teriam criado alguma frase memorável?

Kline - Claro que sim, se eu tivesse percebido a importância. Mas estávamos apenas tentando fazer aquilo funcionar.

Duvall - Não. Aquele foi o primeiro teste de um sistema muito complicado, com muitas peças em movimento. Ter aquele trabalho complexo justamente no primeiro teste, por si só, já foi dramático.

BBC - Qual foi a sensação depois de enviar a mensagem?

Duvall - Estávamos sozinhos nos nossos respectivos laboratórios, à noite. Nós dois estávamos felizes depois de termos um primeiro teste tão bem sucedido, coroando tanto trabalho. Fui até um bar local e pedi um hambúrguer e uma cerveja.

Kline - Fiquei feliz porque funcionou e fui para casa dormir um pouco.

BBC - O que vocês esperavam que a Arpanet se tornasse?

Duvall - Eu considerava o trabalho que estávamos fazendo no SRI como uma parte fundamental de uma visão maior, com os profissionais da informação conectados entre si e compartilhando problemas, observações, documentos e soluções.

O que nós não víamos era a adoção comercial, nem previmos o fenômeno das redes sociais e o flagelo decorrente da desinformação.

Mas é preciso observar que, no tratado de 1962 [do cientista da computação do SRI] Douglas Engelbart [1925-2013], descrevendo sua visão geral do projeto, ele indica que as capacidades que estávamos criando trariam profundas mudanças para a nossa sociedade. E que seria preciso usar e adaptar simultaneamente as ferramentas que estávamos criando para combater os problemas decorrentes do seu uso em sociedade.

BBC - Quais aspectos da internet de hoje fazem vocês se recordarem da Arpanet?

Duvall - Com referência à visão maior que estava sendo criada no grupo de Engelbart (o mouse, edição total na tela, links etc.), a internet de hoje em dia é uma evolução lógica daquelas ideias, amplificada, é claro, pela contribuição de muitas pessoas e organizações brilhantes e inovadoras.

Kline - A capacidade de usar recursos de outras pessoas. É isso o que fazemos quando usamos um website. Estamos usando as possibilidades oferecidas pelo site, seus programas, funções etc. E, é claro, o e-mail.

A Arpanet praticamente criou o conceito de roteamento e os diversos caminhos de um local para outro. Aquilo ofereceu confiabilidade para o caso de falhas nas linhas de comunicação.

E também permitiu o aumento da velocidade de comunicação, utilizando diversos caminhos simultâneos. Todos estes conceitos foram transferidos para a internet.
Atualmente, o local onde ocorreu a primeira transmissão via internet – a sala 3420 do UCLA Boelter Hall – é um monumento à história da tecnologia. UCLA

Enquanto desenvolvíamos os protocolos de comunicação para a Arpanet, encontramos problemas, reprojetamos e aprimoramos os protocolos, aprendendo muitas lições que foram levadas para a internet.

O TCP/IP [o padrão básico de conexão à internet] foi desenvolvido para interconectar redes, particularmente a Arpanet com outras redes, e também para melhorar o desempenho, a confiabilidade e muito mais.

BBC - Como vocês se sentem neste aniversário?

Kline - É uma mistura de sentimentos. Pessoalmente, acho importante, mas um pouco exagerado.

A Arpanet e tudo o que ela gerou é muito significativo. Para mim, este aniversário específico é apenas mais um dentre muitos eventos.

Acho que um pouco mais importante do que este aniversário foi a decisão da Arpa de construir a rede e continuar apoiando o seu desenvolvimento.

Duvall - É bom lembrar a origem de algo como a internet, mas o mais importante é o enorme trabalho desenvolvido desde aquela época para transformá-la em uma parte importante das sociedades em todo o mundo.

BBC - A web moderna é dominada não pelo governo, nem por pesquisadores acadêmicos, mas por algumas das maiores empresas do mundo. Qual é a sua impressão sobre o que a internet se tornou? Quais são as suas maiores preocupações?

Kline - Nós a usamos no nosso dia a dia e ela é muito importante. É difícil imaginar como seria se não tivéssemos novamente a internet.

Um dos benefícios de uma internet tão aberta e não controlada por um governo é a possibilidade de desenvolver novas ideias, como as compras online, serviços bancários, streamings de vídeo, sites jornalísticos, redes sociais e muito mais. Mas, por ter se tornado tão importante nas nossas vidas, ela é alvo de atividades nocivas.

Ouvimos constantemente como certas atividades são prejudicadas. Existe uma imensa falta de privacidade.

E as grandes empresas (Google, Meta, Amazon e provedores de serviços de internet, como a Comcast e a AT&T) detêm poder demais, na minha opinião. Mas não sei ao certo qual seria a solução correta.
Em dezembro de 1969, a Arpanet conectou alguns poucos centros de informática espalhados pelos Estados Unidos – uma amostra minúscula, em comparação com os cerca de 50 bilhões de pontos que compõem a internet hoje em dia UCLA

Duvall - Acho que o domínio por qualquer entidade isolada é um grande risco.

Temos visto o poder da desinformação para orientar a política e as eleições. Também vimos o poder das empresas de influenciar os rumos das normas sociais e a formação de jovens e adultos.

Kline - Um dos meus maiores temores tem sido a difusão de informações falsas. Quantas vezes você já ouviu alguém dizer "vi na internet"?

As pessoas sempre conseguiram espalhar informações falsas, mas custava dinheiro enviar pelo correio, instalar um outdoor ou fazer um anúncio na TV.

Agora, é fácil e barato. E, como atinge milhões de pessoas, aquilo é repetido e tratado como fato.

Outro temor é que, quanto mais os sistemas básicos se mudarem para a internet, mais fácil fica causar prejuízos sérios se estes sistemas forem derrubados ou comprometidos. Por exemplo, não só os sistemas de comunicação, mas os bancos, serviços públicos, transporte etc.

Duvall - A internet tem grande poder, mas, por não termos dado atenção ao alerta de Engelbart em 1962, não usamos o poder da internet eficientemente para administrar os seus impactos sociais.

BBC - Existe alguma lição do seu tempo na Arpanet que poderia fazer da internet um lugar melhor para todos?

Kline - A abertura da internet permite a experimentação e novos usos, mas a falta de controle pode gerar riscos.

A Arpa manteve algum controle da Arpanet. Com isso, eles conseguiam ter certeza de que tudo iria funcionar, podiam tomar decisões sobre os protocolos necessários e lidar com questões como nomes de sites e outros problemas.

A Icann [Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números, na sigla em inglês] ainda administra uma parte, mas têm surgido divergências internacionais sobre como seguir adiante, se os Estados Unidos detêm controle demais etc.

Ainda precisamos de alguns controles para manter a rede funcional. E, como a Arpanet era relativamente pequena, podíamos experimentar mudanças importantes de projeto, protocolo e outras. Agora, isso seria extremamente difícil.

Duvall - Estamos frente a um precipício com a inteligência artificial e seu consequente acesso para todos os que fazem uso da internet.

A internet cresceu e se desenvolveu de forma explosiva nos seus primeiros dias – e parte disso trouxe prejuízos à sociedade. Agora, a IA ocupa a mesma posição e é inseparável da internet.

Não é fora de propósito considerar a IA como uma ameaça existencial. E este é o momento de reconhecer os seus riscos e seu potencial.

FONTE: BBC

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

O QUE PENSAMOS E SENTIMOS NA HORA DA MORTE?, LUZ NO FIM DO TÚNEL É REAL?

Imagem: BBC/Getty Images

O momento da morte sempre foi um mistério. Embora não possamos saber exatamente o que acontece nesse momento, a ciência começou a revelar alguns detalhes sobre o que acontece em nossos cérebros durante os últimos momentos da vida.

Atividade cerebral

Ao contrário da crença popular, o cérebro não se desliga imediatamente quando o coração para de bater. Em 2013, um estudo com ratos de laboratório demonstrou que seus cérebros experimentaram um aumento da atividade após a parada cardíaca.

Mais recentemente, um grupo de cientistas registrou a atividade cerebral de uma pessoa no momento da morte. Eles observaram que, nos 30 segundos após o último batimento cardíaco, houve um aumento em
um determinado tipo de onda cerebral chamado oscilações gama.

As ondas gama estão associadas a funções cognitivas sofisticadas, como o sonho, a meditação, a concentração, a recuperação da memória e o processamento de informações. Seus resultados sugerem que nossos cérebros podem permanecer ativos e coordenados na transição para a morte.

Experiências de quase morte

Muitas pessoas que estiveram à beira da morte e foram ressuscitadas afirmam ter vivenciado experiências semelhantes, conhecidas como “experiências de quase morte”, ou EQM. Um estudo recente descobriu que até 20% das pessoas que sobrevivem a uma parada cardíaca passam por algum tipo de EQM.

Entre as EQM mais comuns estão a sensação de separação do corpo físico, a visão de uma luz brilhante no fim de um túnel, sensações de paz e tranquilidade, encontros com entes queridos falecidos e a revisão de momentos importantes da vida.

Os cientistas acreditam que essas experiências podem ser o produto da atividade cerebral nos momentos finais: a falta de oxigênio e as alterações químicas no no cérebro poderiam explicar muitas delas.

As descobertas sobre a atividade das ondas gama no cérebro pouco antes da morte podem ser fundamentais para a compreensão das EQM. As oscilações gama, ligadas à consciência e à recuperação de memórias, podem estar envolvidas na geração das sensações que os sobreviventes de parada cardíaca experimentaram, como a revisão de momentos importantes da vida ou a percepção de paz e tranquilidade.

Isso sugere que as EQM não são apenas fenômenos subjetivos, mas podem ser explicadas pelo que está acontecendo biologicamente em nossos cérebros nesses momentos exatos.

O córtex somatossensorial

Para descobrir isso, um estudo realizado na Universidade de Michigan (EUA) registrou a atividade cerebral de quatro pacientes no momento de sua morte. Eles descobriram que em dois deles, logo após a retirada do suporte de vida, o número de batimentos cardíacos por minuto aumentou e a atividade da onda gama aumentou em uma área específica do cérebro: o córtex somatossensorial.

Essa área, chamada de “ponto quente dos correlatos neurais da consciência”, está localizada no início da parte posterior do cérebro e tem sido associada a sonhos, alucinações visuais e estados alterados de consciência. As descobertas sugerem que o cérebro pode estar reproduzindo uma última “memória da vida” pouco antes da morte. Em outras palavras, algo semelhante ao que as pessoas que têm experiências de quase morte relatam.

Sentimos dor na morte?

De acordo com especialistas, é improvável que sintamos dor no momento da morte. Isso se deve a vários fatores fisiológicos e neurológicos que ocorrem nos estágios finais da vida.

As pesquisas confirmam isso. Especificamente, um estudo que, embora não aborde diretamente o processo de morte, fornece informações sobre como o sistema nervoso processa a dor e como certas mudanças fisiológicas podem alterar essa experiência.

Primeiro, nosso cérebro libera substâncias químicas que nos ajudam a nos sentirmos em paz. Essas substâncias incluem a noradrenalina e a serotonina, moléculas que são hormônios e neurotransmissores. Quando liberadas pelo cérebro, elas podem evocar emoções positivas e alucinações, reduzir a percepção da dor e promover sentimentos de calma e tranquilidade.

Além disso, quando a morte se aproxima, as pessoas geralmente ficam muito indiferentes. Isso ocorre porque o corpo começa a se desligar gradualmente e, com isso, a capacidade de sentir dor diminui. Os sentidos são perdidos, e isso parece ocorrer em uma ordem específica: primeiro a fome e a sede, depois a fala e a visão. O tato e a audição são os últimos a desaparecer, o que pode explicar por que muitas pessoas conseguem ouvir e sentir seus entes queridos em seus momentos finais, mesmo quando eles parecem estar inconscientes.

Morrer com dignidade

Além do interesse científico, essas descobertas têm importantes implicações éticas e médicas. Uma melhor compreensão do que acontece no cérebro nos últimos momentos da vida poderia ajudar a melhorar os cuidados paliativos, garantindo que o processo seja mais pacífico e digno.

Além disso, as descobertas que apresentamos levantam questões fundamentais sobre como definir o momento exato da morte, uma questão crucial nas decisões relacionadas ao suporte à vida e à doação de órgãos.

Todos esses estudos, embora preliminares, oferecem uma visão interessante sobre o que podemos sentir no final da vida e nos lembram da incrível capacidade do cérebro humano. Ainda há muito a ser descoberto.

Talvez a lição mais importante que podemos aprender é valorizar cada momento, pois nunca sabemos quando será a hora de partir. E talvez, nesse momento, sejamos presenteados com uma viagem por nossas memórias.

Francisco José Esteban Ruiz, professor titular de biologia celular, Universidade de Jaén

Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.

FONTE: VIVA BEM/UOL

sábado, 1 de fevereiro de 2020

SAIBA QUEM FOI MARIA, A PROFETISA: AS CRIAÇÕES DA MÃE DA ALQUIMIA QUE AINDA SÃO USADAS 20 SÉCULOS DEPOIS

Ela é conhecida por vários nomes, como Maria Hebraica, Maria Judia, Maria Profetisa e até Miriam Profetíssima, irmã de Moisés

Uma das principais premissas da alquimia era que os antigos possuíam as chaves do Universo, mas esse conhecimento foi perdido e teve de ser redescoberto.

A julgar pelo primeiro tratado prático de alquimia, escrito no século 3 pelo egípcio Zósimo de Panópolis, há alguma verdade nisso.

Zósimo cita amplamente as obras de uma mulher considerada a primeira alquimista verdadeira do mundo ocidental, a mãe da alquimia. E ele não é o único.

Embora muito do seu conhecimento tenha sido perdido e nenhum de seus escritos tenha sobrevivido, há citações atribuídas a esta mulher em vários textos posteriores.

Vários nomes e um grande legado

Ela conhecida por muitos nomes: Maria Hebraica, Maria Judia, Maria Profetisa e até Miriam Profetíssima, irmã de Moisés.

Seu parentesco com o profeta do Antigo Testamento é improvável, mas as lendas que ligavam figuras bíblicas e divindades gregas à alquimia eram comuns, porque elevavam seu "pedigree" e davam um ar místico às obras alquímicas.

Ostanes, um dos mais antigos escritores gregos, a descreve como "a filha do rei de Saba". O poeta persa Nezami fala de Maria como uma princesa síria que visita a corte de Alexandre, o Grande, e aprende com Aristóteles, entre outras coisas, a arte de fazer ouro.

Isso torna incertas as datas precisas e outros detalhes da vida de Maria, mas não há dúvida de que ela existiu e, como Ostanes a menciona, ela parece ter vivido no século 1, provavelmente em Alexandria, quando o Egito era uma província romana.

Em relação às suas realizações, Maria concebeu bases teóricas para a alquimia.

Zósimo, representado neste busto de mármore com seu nome escrito em grego, era um místico gnóstico e escreveu os livros mais antigos sobre alquimia. Direito de imagem RVALETTE

O médico francês Jean-Chrétien-Ferdinand Hœfer, famoso por obras sobre a história da ciência, atribui a ela uma das descobertas mais importantes da química: o ácido clorídrico.

Ele também garante que estudou os compostos de enxofre e que foi ela quem criou o processo para fabricar sulfeto de prata, o que os artistas chamam de nielo, um composto preto fosco frequentemente usado para tratamento de metais.

'Balneum mariae', kerotakis e tribikos

No entanto, para muitos, seu grande legado foi a invenção de equipamentos de laboratório. Em seu tratado, Zósimo atribui a Maria três peças cruciais.

O primeiro, que ele dizia copiar o processo de destilação da natureza, se tornaria um item básico nos laboratórios modernos de química.

Era um aparelho de parede dupla, equipado com pés que podiam ser colocados no fogo. Com o recipiente externo cheio de água, o material a ser transmutado podia ser colocado na câmara interna, onde sua temperatura não excederia o ponto de ebulição da água.

Era conhecido como o balneum mariae e você provavelmente o conhece como "banho Maria".
Um objeto em 'banho Maria' (Estrasburgo, 1500) Direito de imagem GETTY IMAGES

A vantagem do procedimento é que facilita o aquecimento gradual de uma substância e a mantém a uma temperatura constante de 100° C ou menos.

O segundo dispositivo era o kerotaki, um cilindro fechado no fundo do qual havia uma chama que aquecia uma plataforma no centro do forno, no qual era colocada uma massa de mercúrio ou enxofre.

A fumaça subia através dos orifícios e alcançava um pedaço de prata ou outro mineral com metais preciosos escondidos no interior.

Os kerotakis foram usados ​​pelos alquimistas para produzir ligas, especialmente a imitação de ouro mais bem-sucedida, usada até recentemente pelos joalheiros como substituto para o metal precioso.

Havia também os tribikos ou alambiques de três cabeças, que serviam para separar as substâncias dos líquidos, permitindo coletar o destilado de três pontos de uma vez.
O tribiko tinha três fontes para coletar o destilado

O líquido era derramado em um recipiente de cerâmica, que era aquecido. O vapor passava para outro recipiente no qual esfriava e se separava em líquidos que passavam por três tubos de cobre e caíam em recipientes de vidro, um material que Maria apreciava especialmente porque lhe permitia "ver sem tocar".

A alquimista deixou instruções para construir seus tribikos, detalhando como fazer tubos de cobre a partir de uma placa de metal e recomendando o uso de pasta de farinha para selá-los.

Embora a revolução científica tenha feito o progresso da alquimia para a química, recipientes de vidro e tubos de cobre continuaram sendo utilizados no processo de destilação.

Você pode ter bebido uísque produzido com esse processo milenar.

AUTOR: BBC

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

NA LUA DE SATURNO TEM CÂNIONS QUE EXPELEM ÁGUA

Mapa de calor indica água sendo expelida pelas faixas do tigre Foto: Nasa

Há cerca de duas semanas, falamos neste blog sobre a confirmação da existência de água em uma lua de Júpiter, em Europa, para ser mais preciso. Antes dessa confirmação, sabíamos há mais tempo que a Encélado, uma pequena lua de Saturno tinha um oceano protegido por uma camada de gelo.

Até a passagem das sondas Voyagers no começo da década de 1980, os astrônomos tinham poucas informações sobre esse mundo gelado. Com os sobrevoos das duas sondas, ficou claro que o alto poder de refletir a luz do Sol era decorrente de uma capa de gelo que cobre a lua inteira. 

Mas uma pergunta ficou no ar (ou espaço): como poderia ser o gelo assim tão branco? A desintegração de meteoros e das próprias luas pequenas de Saturno produzem toneladas de poeira que uma hora ou outra cai nas outras luas, ou vai se juntar ao sistema de anéis. 

O gelo de Encélado deveria estar coberto por essa poeira. Em outras palavras, deveria estar sujo.

A cor do gelo indica que ele é recente, ou seja, indica que existe um mecanismo que constantemente recobre o gelo antigo (e sujo) com gelo novo (e branquinho).
Encélado, lua de Saturno — Foto: Reprodução/Nasa

Em 2005, a sonda Cassini descobriu uma série de fraturas na camada de gelo formando verdadeiros cânions. As fraturas, conhecidas como "faixas do tigre" em alusão às manchas na pelagem desse animal, têm origem no polo sul de Encélado e têm por volta de 130 kg de extensão com um espaçamento regular de 35 km entre uma e outra.

A sonda Cassini revelou também criovulcões ativos, ou seja, vulcões que expelem água fria de dentro das fraturas. Então, além de uma capa de gelo, a Encélado possui também um oceano abaixo do gelo. Se não cobrir toda a lua, pelo menos está em um bolsão de água no polo sul.
Plumas dos criovulcões nas faixas de tigre Foto: Nasa

Desde essa descoberta, a Encélado é a preferida dos astrobiólogos. Possuir água no estado líquido é um dos pré-requisitos para um objeto abrigar vida. Além desse fato, os criovulcões estão permanentemente jogando a água do subsolo no espaço, mas que também acaba sendo depositado em sua superfície.

Diferente de Europa, que o oceano está blindado por uma camada de mais de 10 km de gelo, em Encélado é possível estudar a composição do oceano mesmo do espaço. Aliás, a própria Cassini fez isso, voando através das plumas expelidas pelos criovulcões para analisar as partículas ejetadas. Resultados preliminares mostram que se trata de água salgada, ainda que seja uma mistura de sais inclusive o cloreto de sódio, o nosso sal de cozinha.

Um dos fatos mais intrigantes a respeito das faixas do tigre é sua morfologia. Todas elas partem do polo sul, têm uma extensão similar e estão espaçadas pela mesma distância. Qual mecanismo poderia esculpir essas marcas sobre a superfície?

De acordo com uma equipe de pesquisadores liderada por Max Rudolf, da Universidade da Califórnia, é tudo uma questão gravitacional.

A órbita de Encélado em torno de Saturno é muito ovalada, há períodos em que a pequena lua está muito próxima, mas há períodos em que ela está muito distante do gigante Saturno. A diferença de distâncias se traduz em uma diferença de forças gravitacionais ao longo da órbita, de modo que esse estica e puxa faz com que o gelo se rompa e mesmo se derreta. Essa ação é mais eficiente nos polos e faz com que o gelo rache nessas localidades e as rachaduras gigantes se propaguem para o equador.

E como essas rachaduras ficam equidistantes umas das outras? Como é no fundo delas que se abrem os criovulcões, o material expelido a uma alta pressão acaba se diferenciando quando estão no espaço. As partículas mais leves são capturadas pelo sistema de anéis de Saturno e as mais pesadas são atraídas de volta a Encélado caindo e se acumulando ao redor da fissura. De acordo com Rudolf e seus colegas, a concentração de neve se dá a 35 km de distância de onde ela foi expelida e o seu acúmulo faz o gelo afundar, formando novas fissuras.

O mecanismo é complexo, mas se baseia em dois princípios simples: o de forças de marés e o congelamento da água. São as forças de marés que fazem o gelo se derreter quando Encélado está se aproximando de Saturno e quando se afasta dele, o congelamento da água faz a capa de gelo se expandir, trincando em sua extensão.

Uma pena que depois do fim da missão Cassini ainda não exista nenhum plano de lançar outra sonda para estudar o sistema de Saturno. Junto com a Europa Clipper, que vai estudar a lua de Júpiter, elas dariam um ótimo avanço na busca por vida em outros lugares do Sistema Solar.

AUTOR: G1

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

É GOSMA OU VIDRO LUNAR? ENTENDA O MISTÉRIO DA FOTO DE MISSÃO CHINESA NO LADO OCULTO DA LUA

Imagem da suposta "gosma lunar" Foto: CNSA/CLEP/Moriarty

No comecinho do ano, a sonda chinesa Chang’e 4 fez história ao pousar com segurança no lado oculto da Lua. Foi um momento histórico na exploração espacial, pois isso nunca tinha sido feito. Aliás, que eu saiba, isso nunca havia sido tentado! Logo depois do pouso, no dia 3 de janeiro, o módulo Chang’e 4 liberou um jipinho lunar chamado Yutu 2 que começou a trafegar pelas imediações.

O problema em se conseguir efetuar uma missão dessas com sucesso está no problema básico das comunicações, ou a falta delas no caso. Todos os pousos na Lua, tripulados ou não, ocorreram no lado visível, ou seja, o seu lado mais próximo. Como a Lua tem sua rotação sincronizada com a sua translação ao redor da Terra, ela mantém sempre a mesma face voltada para nós. O lado oposto é o lado oculto e muitas vezes chamado de lado distante.
Foto tirada pela missão chinesa durante a aproximação Foto: CNSA/CLEP/Moriarty

Veja que é bem diferente de lado escuro, como muita gente usa de forma errada. É claro que a Lua tem um lado escuro, que vai mudando conforme ela vai mudando de fase. Mas associar o lado oculto (ou distante) ao lado escuro é errado. Na Lua Nova, por exemplo, o lado visível da Lua é o lado escuro dela.

A escolha pelo pouso apenas no lado visível da Lua é sobretudo pela comunicação direta, ou seja, estando na linha de visada, é possível estabelecer uma ligação entre a sonda e a base na Terra via rádio. Isso fica impossível de se fazer com uma sonda no lado oposto, pois temos Lua bloqueando a ligação. Para se enviar (e receber) dados para o lado oposto da Lua é preciso estabelecer uma estação de retransmissão que tenha visada tanto para a base quanto para a sonda.

Isso foi feito pela China no final de maio de 2018, com o lançamento do satélite Queqiao, que em chinês quer dizer “ponte das pegas”, uma variedade de pombo. Com o posicionamento deste satélite a comunicação com o lado oculto da Lua ficou possível e assim a Chang’e 4 pousou.

O Yutu 2 começou a passear no entorno do módulo de pouso e em julho último encontrou algo intrigante dentro de uma cratera. Uma das fotos enviadas para a Terra mostrava uma mancha escura em meio ao terreno mais claro do fundo da cratera. Quando um dos técnicos da missão disse que o Yutu tinha encontrado um material gosmento, como um ‘gel lunar’ na sua definição, o interesse por essa descoberta escalou a níveis estratosféricos.

Como assim gel na Lua?

A China não tem a prática de deixar seus dados disponíveis a pesquisadores de outros países. Aliás até as fotos que são divulgadas vêm pelos canais de divulgação, tipo as redes sociais da agência espacial. E dessa maneira as fotos são de baixa resolução, sem qualidade para fazer uma análise mais profunda. Ainda assim, o pesquisador da NASA do Centro Espacial Goddard Daniel Moriarty resolveu olhar essas fotos com cuidado.

O Yutu 2 fez dois conjuntos de imagens, sob diversas condições de iluminação e posicionamento das câmeras. Aliás, o primeiro conjunto foi usado para avaliar se o jipe poderia entrar e sair da cratera com segurança e assim fotografar a tal mancha bem de perto. As imagens mostram de fato uma mancha mais escura, em relação ao terreno ao seu redor, mas é possível ver pontos mais brilhantes no meio da mancha.

O que seria, então, esse material?

De acordo com Moriarty, o material escuro é originário de impactos de meteoros na superfície da Lua, que deve ter trazido material do subsolo para o fundo da cratera. O aspecto deste material é fragmentado em pequenos pedaços, muito parecido com as amostras recolhidas Harrison Schmitt, geólogo e astronauta da missão Apollo 17.

A amostra foi coletada por Schmitt exatamente pelo seu contraste de cor com o seu entorno e por parecer pequenas bolinhas de vidro refletindo luz. A melhor explicação para esse fato está no impacto de meteoros no passado, que além de revolver o material da superfície, produziu fragmentos de vidro por aquecimento. Sim, com o impacto violento de rochas contra a superfície, o material composto sobretudo de silício se derrete formando fragmentos de vidro. A grande similaridade entre a aparência da amostra e a aparência da mancha fez com que Moriarty apontasse a mesma explicação.

Nos momentos de maior aproximação do jipe, ele acionou seu espectrômetro visível e infravermelho que tem a capacidade de analisar a composição química de uma amostra. Infelizmente, esse não é um tipo de informação que seja compartilhado em rede social, então deve demorar um pouco para sabermos do que se trata realmente. Mas, ao que tudo indica, gel não deve ser.

A China deve fazer outra investida na exploração lunar no meio do ano que vem. Está programado, ou menos planejado, o lançamento da sonda Chang’e 5. O grande atrativo desta missão será a coleta de amostras do solo lunar, pelo menos 2 kg, para enviar à Terra. Isso foi feito pela União Soviética na década de 1970 e a última missão a faze-lo foi a Luna 24 em 1976. Depois dela, a Chang’e 6 deve fazer o mesmo nos anos seguintes, em preparação para a colonização da Lua nos anos 2030.

AUTOR: CÁSSIO BARBOSA/G1

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