VISITAS!

SEJAM TODOS MUITO BEM VINDOS, E TENHAM UMA ÓTIMA LEITURA, CONHECENDO OS MISTÉRIOS DO MUNDO!.

SAIBA DE TODOS OS MISTÉRIOS E NOTÍCIAS AQUI!

SAIBA DE TODOS OS MISTÉRIOS E NOTÍCIAS AQUI!
É SÓ ACESSAR MEU CANAL!

CURTA O MUNDO REAL 21 NO FACEBOOK

MUNDO REAL 21 - ÚLTIMAS NOTÍCIAS

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

A "CARTA DO DIABO", ESCRITA POR UMA FREIRA POSSUÍDA HÁ QUASE 350 ANOS, FOI FINALMENTE TRADUZIDA

 

Em uma descoberta histórica fascinante, uma carta misteriosa escrita em 1676 tem intrigado pesquisadores e historiadores por séculos. 

O documento, conhecido como a “Carta do Diabo”, foi escrito pela irmã Maria Crocifissa della Concezione, uma freira de 31 anos que vivia no convento de Palma di Montechiaro, na Sicília.

Os eventos relacionados à criação dessa carta são particularmente intrigantes. Em 11 de agosto de 1676, outras freiras encontraram a irmã Maria caída no chão de sua cela, com o rosto manchado de tinta e segurando um documento peculiar, preenchido com símbolos enigmáticos em 14 linhas. O incidente gerou séculos de especulação sobre as origens e o significado do texto.

Análises científicas modernas começaram a desvendar os segredos desse texto misterioso. Daniele Abate, diretor do Centro de Ciências Ludum, na Itália, liderou uma investigação inovadora utilizando softwares avançados para analisar a escrita incomum. “A carta parecia ter sido escrita em taquigrafia”, explicou Abate à Live Science em 2017. A pesquisa revelou uma combinação intrincada de alfabetos antigos, incluindo caracteres gregos, latinos, rúnicos e árabes.

A história pessoal da irmã Maria também oferece um contexto importante para entender o documento. Ela ingressou no convento beneditino aos 15 anos, dedicando sua vida à religião desde muito jovem. Registros históricos indicam que ela sofria episódios noturnos recorrentes, durante os quais aparentemente travava lutas espirituais contra forças que acreditava serem malignas.
A freira vivia na Sicília, Itália.

Por meio de algoritmos sofisticados de decodificação, os pesquisadores examinaram a repetição de sílabas e símbolos para identificar vogais e estabelecer padrões no texto. Os resultados superaram as expectativas iniciais, revelando uma mensagem mais coerente do que se imaginava. O conteúdo decifrado incluía referências à Santíssima Trindade e passagens como: 

“Deus acha que pode libertar os mortais. O sistema não funciona para ninguém. Talvez agora, Styx esteja certo.” Styx, na mitologia grega e romana, é o rio que separa o mundo dos vivos do submundo, o que adiciona mais camadas de complexidade ao texto.
Uma carta supostamente escrita por uma freira possuída por Satanás foi decifrada (Daniele Abate).

A investigação histórica também considerou o estado psicológico da irmã Maria. De acordo com Abate, registros históricos documentaram seus episódios noturnos de angústia, sugerindo que ela poderia estar enfrentando problemas de saúde mental, algo comum para a época. “Ao trabalhar com decifrações históricas, você não pode ignorar o perfil psicológico do autor”, destacou Abate, enfatizando a importância de compreender a pessoa por trás do texto misterioso.

A metodologia da equipe de pesquisa combinou análise histórica com tecnologia moderna. Eles utilizaram softwares especializados para escanear e comparar os símbolos taquigráficos com diferentes idiomas, permitindo que reconstruíssem a combinação incomum de alfabetos antigos que a irmã Maria empregou em sua escrita. Essa abordagem sistemática para decifrar o texto forneceu insights valiosos tanto sobre o conteúdo do documento quanto sobre as habilidades linguísticas de sua autora.

FONTE: MISTÉRIOS DO MUNDO/ Lucas Rabello

ET's EXISTEM?, VEJA O QUE OS CIENTISTAS ACHAM SOBRE A EXISTÊNCIA DE VIDA EXTRATERRESTRE

 

Crença em alienígenas inteligentes é menor entre os cientistas Imagem: Getty Images

Notícias sobre a provável existência de vida extraterrestre e nossas chances de detectá-la tendem a ser positivas. Muitas vezes nos dizem que podemos descobri-la a qualquer momento. Encontrar vida além da Terra é "apenas uma questão de tempo", foi dito em setembro de 2023. "Estamos perto" era uma manchete de setembro de 2024.

É fácil entender o motivo. Manchetes como "Provavelmente não estamos perto" ou "Ninguém sabe" não são muito clicáveis. Mas o que a comunidade relevante de especialistas no assunto realmente pensa quando considerada como um todo? As previsões otimistas são comuns ou raras? Existe mesmo um consenso? Em nosso novo artigo, publicado na revista científica Nature Astronomy, descobrimos isso.

De fevereiro a junho de 2024, realizamos quatro pesquisas sobre a provável existência de vida extraterrestre básica, complexa e inteligente. Enviamos e-mails para astrobiólogos (cientistas que estudam a possível vida extraterrestre), bem como para cientistas de outras áreas, incluindo biólogos e físicos.

No total, 521 astrobiólogos responderam, e recebemos 534 respostas de não astrobiólogos. Os resultados revelam que 86,6% dos astrobiólogos pesquisados responderam "concordo" ou "concordo totalmente" que é provável que exista vida extraterrestre (pelo menos de um tipo básico) em algum lugar do Universo.

Menos de 2% discordaram, e 12% permaneceram neutros. Portanto, com base nisso, podemos dizer que há um consenso sólido de que a vida extraterrestre, de alguma forma, existe em algum lugar lá fora.

Os cientistas que não eram astrobiólogos concordaram essencialmente, com uma pontuação geral de concordância de 88,4%. Em outras palavras, não se pode dizer que os astrobiólogos são tendenciosos a acreditar na vida extraterrestre, em comparação com outros cientistas.

Quando nos voltamos para a vida extraterrestre "complexa" ou alienígenas "inteligentes", nossos resultados foram 67,4% de concordância e 58,2% de concordância, respectivamente, para astrobiólogos e outros cientistas. Portanto, os cientistas tendem a pensar que existe vida extraterrestre, mesmo em formas mais avançadas.

Esses resultados se tornam ainda mais significativos pelo fato de que a discordância em todas as categorias foi baixa. Por exemplo, apenas 10,2% dos astrobiólogos discordaram da afirmação de que é provável que existam alienígenas inteligentes.

Otimistas e pessimistas

Os cientistas estão apenas especulando? Normalmente, só devemos reconhecer um consenso científico quando ele se baseia em evidências (e muitas delas). Como não há evidências adequadas, os cientistas podem estar adivinhando. No entanto, os cientistas tinham a opção de votar "neutro", uma opção que foi escolhida por alguns cientistas que achavam que estariam especulando.

Apenas 12% escolheram essa opção. Na verdade, há muitas evidências "indiretas" ou "teóricas" da existência de vida extraterrestre. Por exemplo, sabemos agora que ambientes habitáveis para a vida como conhecemos são muito comuns no Universo.

Temos vários desses ambientes em nosso próprio Sistema Solar, incluindo os oceanos subsuperficiais das luas Europa e Encélado e, possivelmente, também o ambiente a alguns quilômetros abaixo da superfície de Marte. Também parece relevante que Marte costumava ser altamente habitável, com lagos e rios de água líquida em sua superfície e uma atmosfera substancial.

É razoável generalizar a partir daqui para um número verdadeiramente gigantesco de ambientes habitáveis em toda a galáxia e no Universo mais amplo. Também sabemos (já que estamos aqui) que a vida pode começar a partir da "não vida" — afinal, isso aconteceu na Terra. Embora a origem das primeiras formas simples de vida seja pouco compreendida, não há nenhuma razão convincente para pensar que ela exija condições astronomicamente raras. E mesmo que isso aconteça, a probabilidade de a vida ter começado (abiogênese) é claramente diferente de zero.

Isso pode nos ajudar a ver a concordância de 86,6% quanto à possibilidade de existência de vida extraterrestre sob uma nova perspectiva. Talvez não seja, de fato, um consenso surpreendentemente forte. Talvez seja um consenso surpreendentemente fraco. Considere os números: existem mais de 100 bilhões de galáxias. E sabemos que os ambientes habitáveis estão em toda parte.

Digamos que existam 100 bilhões de bilhões de mundos habitáveis (planetas ou luas) no Universo. Suponhamos que sejamos tão pessimistas que pensemos que as chances de a vida começar em qualquer mundo habitável é de uma em um bilhão de bilhões. Nesse caso, ainda assim responderíamos "concordo" à afirmação de que é provável que exista vida alienígena no Universo.

Assim, otimistas e pessimistas deveriam ter respondido "concordo" ou "concordo totalmente" à nossa pesquisa, sendo que apenas os pessimistas mais radicais sobre a origem da vida discordariam.

Tendo isso em mente, poderíamos apresentar nossos dados de outra forma. Suponhamos que desconsideremos os 60 votos neutros que recebemos. Talvez esses cientistas tenham achado que estariam especulando e não quiseram tomar uma posição. Nesse caso, faz sentido ignorar seus votos. Isso deixa 461 votos no total, dos quais 451 foram para concordar ou concordar totalmente. Agora, temos uma porcentagem geral de concordância de 97,8%.

Essa mudança não é tão ilegítima quanto parece. Os cientistas sabem que, se escolherem "neutro", não é possível que estejam errados. Portanto, essa é a escolha "segura". Na pesquisa, isso é frequentemente chamado de "satisficing" (algo como "se satisfazer").

Como o geofísico Edward Bullard escreveu em 1975 enquanto debatia se todos os continentes já foram unidos, em vez de fazer uma escolha, "é mais prudente ficar quieto, (?) sentar-se em cima do muro e esperar por mais dados em uma ambiguidade de estadista". Ficar quieto não é apenas uma escolha segura para os cientistas, mas significa que o cientista não precisa pensar muito —é a escolha fácil.
Vida extraterrestre faz parte do imaginário e de produções audiovisuais Imagem: Divulgação/ Disney

Obtendo o equilíbrio certo

O que provavelmente queremos é equilíbrio. De um lado, temos a falta de evidências empíricas diretas e a relutância de cientistas responsáveis em especular. Por outro lado, temos evidências de outros tipos, incluindo o número verdadeiramente gigantesco de ambientes habitáveis no Universo.

Sabemos que a probabilidade de a vida ter começado em algum lugar do Universo é diferente de zero. Talvez 86,6% de concordância, com 12% de neutralidade e menos de 2% de discordância, seja um compromisso sensato, considerando todos os aspectos.

Talvez —dado o problema da satisfação— sempre que apresentarmos esses resultados, devamos apresentar dois resultados para a concordância geral: um com votos neutros incluídos (86,6%) e outro com votos neutros desconsiderados (97,8%). Nenhum dos resultados é o único e correto.

Cada perspectiva atende a diferentes necessidades analíticas e ajuda a evitar a simplificação excessiva dos dados. Em última análise, informar os dois números --e ser transparente sobre seus contextos-- é a maneira mais honesta de representar a verdadeira complexidade das respostas.

* Peter Vickers, professor de filosofia da ciência na Universidade Durham; Henry Taylor, professor associado do Departamento de Filosofia da Universidade de Birmingham, e Sean McMahon, pesquisador de astrobiologia da Universidade de Edimburgo

Este artigo é republicado de The Conversation sob a licença Creative Commons.

FONTE: UOL TILT

domingo, 19 de janeiro de 2025

VEJA COMO FOI CRIADA A PRIMEIRA BRIGADA DE INCÊNDIO DO MUNDO HÁ 200 ANOS; "ATÉ ENTÃO SÓ SE JOGAVA ÁGUA PELA JANELA"

 

Fiscal de construções James Braidwood (1800-1861) foi o primeiro chefe dos bombeiros da capital da Escócia, Edimburgo Museum of Scottish Fire Heritage

No século 19, o centro da capital da Escócia, Edimburgo, estava repleto de edificações, muitas delas construídas de madeira. A maior parte das casas e dos comércios dependia do fogo para se aquecer, cozinhar e para todo tipo de trabalho.

Mas quando o fogo saía de controle, ele inevitavelmente se espalhava com rapidez pelas ruas estreitas e becos do que hoje é conhecida como "cidade velha".

Algumas pessoas tinham seus próprios baldes de combate ao fogo. E quem tinha mais dinheiro pagava seguradoras, que mantinham vigilantes para soar o alarme e trazer equipes para apagar os incêndios.

Mas este era um sistema bastante fragmentado e, muitas vezes, ineficiente.

Preocupado com a manutenção da ordem na cidade, o comissário de polícia de Edimburgo denunciou que os bombeiros eram mal equipados, mal organizados e não recebiam treinamento e formação adequada.

Paralelamente, as seguradoras comerciais competiam pelos negócios. Às vezes, elas chegavam a brigar pelas fontes de água.

Seu papel principal era de salvamento. Quanto mais objetos elas pudessem salvar dos incêndios, menor seria o valor do pedido de seguro.
Dave Farries trabalhou como bombeiro por 55 anos

"Eles trabalhavam com a cara e a coragem, lançando água sobre a fumaça e torcendo pelo melhor", conta o historiador Dave Farries, do Museu do Patrimônio Escocês do Fogo, em Edimburgo.

"Quando a questão era o seguro, as brigadas que combatiam os incêndios às vezes acabavam disputando as fontes de água."

"Ninguém ia para um incêndio tentar combatê-lo, eles simplesmente tentavam despejar água pelas janelas com baldes, basicamente sem sucesso e a maior parte dos bens, na verdade, acabava destruída pelo fogo."

Farries foi bombeiro e voluntário por 55 anos. Hoje, ele é embaixador do museu.

Ele conta que, em 1824, uma série de grandes incêndios na "cidade velha" de Edimburgo alertou as autoridades municipais sobre a necessidade de criar uma forma melhor de organizar o combate a incêndios.

No outono daquele ano, ocorreu o Grande Incêndio de Edimburgo, que durou cinco dias. Foram 13 mortos e centenas de desabrigados, que tiveram suas superlotadas residências destruídas.

O Corpo de Bombeiros de Edimburgo foi a primeira brigada de incêndio do mundo a ser financiada pelo município. Ou seja, seus serviços eram gratuitos para os cidadãos.

O primeiro chefe dos bombeiros da cidade foi o fiscal de construções James Braidwood (1800-1861), de 23 anos. Hoje, ele é considerado o "pai do serviço de bombeiros moderno".
Corpo de bombeiros de Inverness, na Escócia, em 1910: brigadas contra incêndio de todo o Reino Unido copiaram o modelo de Edimburgo Museum of Scottish Fire Heritage

Braidwood organizou um serviço muito mais coordenado e eficiente, incluindo melhor treinamento, condicionamento físico e comunicação. Ele ajudou a projetar e desenvolver equipamento personalizado, como capacetes especiais com proteção para o pescoço e o primeiro carro de bombeiros da Escócia, puxado pelos próprios brigadistas.

Doze pessoas trabalhavam com o equipamento, bombeando a manivela 24 vezes por minuto. E os populares que ajudassem recebiam uma gratificação e cerveja de graça.

Os primeiros bombeiros foram recrutados entre os profissionais da cidade, como especialistas em telhados, pedreiros e carpinteiros, com idades entre 17 e 25 anos.

Estes profissionais sabiam como os edifícios foram construídos. "Eles entram mais rapidamente no espírito da profissão e são treinados com mais facilidade", escreveu Braidwood.

O chefe dos bombeiros elogiava seus subordinados quando cuidavam bem do equipamento, mas os multava em caso de negligência.

"Ele formou uma brigada de incêndio que se tornou conhecida mundialmente", conta Farries.

"Vinham pessoas de todas as partes das ilhas britânicas e do exterior para ver como ele fazia."
Bomba de água manual do ano de fundação do Corpo de Bombeiros de Edimburgo, exibida em 2012 no Museu do Serviço de Bombeiros e Resgate de Lothian and Borders (atualmente conhecido como Museu do Patrimônio Histórico dos Bombeiros da Escócia) Kim Traynor

"Em 1830, a pedido de muitas pessoas, ele escreveu um livro contando como realizou o processo e como treinou seus bombeiros com os aparelhos de incêndio. O livro realmente se tornou uma bíblia para os bombeiros."

Tania Dron, da operadora de turismo de Edimburgo Mercat Tours, afirma que "James Braidwood introduziu uma série de métodos, tanto em termos de como combater incêndios, quanto em termos de equipamento".

"Até aquele momento, nós realmente não entrávamos nos edifícios para apagar incêndios – nós estávamos molhando as construções pelo lado de fora. Ele foi quem treinou as pessoas para, de fato, entrarem nos prédios", explica ela.

"Ele desenvolveu novos equipamentos e também se assegurou de manter sua autoridade em Edimburgo, para que fosse reconhecido e, quando surgisse um incêndio, ele ficasse no comando."

"Hoje em dia, todos são muito agradecidos pelos nossos serviços de combate a incêndios e pelo seu trabalho, mas acho que é fácil esquecer de onde veio tudo isso", destaca Dron.

"Muito poucas pessoas sabem que veio daqui. Veio do centro da cidade de Edimburgo."

FONTE: BBC

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

SAIBA QUEM FOI FREI CANECA, O PADRE REVOLUCIONÁRIO FUZILADO HÁ 200 ANOS

A Execução de Frei Caneca, em obra de Murillo La Greca, de 1924 Domínio Público

Condenado à morte por uma comissão militar autorizada, com plenos poderes, pelo imperador d. Pedro 1º (1798-1834), o padre, jornalista, escritor e militante político Joaquim da Silva Rabelo (1779-1825) mais conhecido como Frei Caneca, foi fuzilado diante do Forte das Cinco Pontas, em Recife, no dia 13 de janeiro de 1825, há 200 anos.

Sua sentença havia sido proferida em 20 de dezembro, pelo "assassino tribunal", como ele mesmo classificou em um de seus últimos textos escritos na prisão.

Republicano e, principalmente, federalista, o religioso foi um dos principais participantes da Revolução Pernambucana de 1817 e um dos mentores da Confederação do Equador, movimento autonomista que pretendia criar um Estado independente no Nordeste, deflagrado em 1824.

A condenação à morte, assim como de outros 30 confederados, baseou-se nos crimes de sedição e rebelião contra "as imperiais ordens de sua Majestade Imperial".

A comissão militar, presidida por Francisco de Lima e Silva (1785-1853) era investida de poderes absolutos para julgar aqueles tidos como rebeldes e conferir sentenças sumárias.

"Na repressão, o imperador suspendeu as garantias constitucionais. A comissão militar foi encarregada de julgar de forma verbal e sumariíssima os cabeças do levante", diz à BBC News Brasil o historiador George Cabral, professor na Universidade Federal de Pernambuco.

"Fica muito evidente que d. Pedro 1º tinha pressa eliminar esses líderes, em eliminar radicalmente as lideranças revolucionárias. A comissão cumpriu apenas o trâmite. Na prática, fica claro que já havia interesse determinado de eliminar os líderes, como se a sentença já estivesse vindo pronta do Rio."

No momento da aplicação da pena capital, que era prevista para ocorrer por enforcamento, Frei Caneca foi despojado das vestes religiosas, em um simbolismo que indicava que ele deixava de ser visto como um padre. Foi excomungado e instalado no cadafalso.

Contudo, um a um, três carrascos incumbidos de enforcá-lo desistiram da atroz empreitada. A comissão militar, então, ordenou o fuzilamento.

Conforme explica à BBC News Brasil o historiador Marcus de Carvalho, também professor na Universidade Federal de Pernambuco, havia um entendimento na época de que "não se matava padre", justamente porque eles eram vistos como "enviados de Deus".

Frei Caneca acabou sendo transformado em uma espécie de "Tiradentes do Nordeste", como define à BBC News Brasil o historiador Paulo Henrique Martinez, professor na Universidade Estadual Paulista.

"Sua obra escrita, biografia e atuação política foram recuperadas posteriormente e realçadas em momentos de afirmação e de mobilização política em Pernambuco e na região Nordeste", diz ele.

"O 'mártir da liberdade' foi idealizado e teve a sua imagem construída, e de forma sistemática, a partir da segunda metade do século 19."

O historiador ressalta que o julgamento de Frei Caneca foi "tipicamente de exceção". "Comissões militares apreciaram as respectivas formas de participação, envolvimento e dedicação individual na rebelião.

Ditaram procedimentos e sentenças consideradas excessivas, dado a origem e a vinculação de inúmeros rebeldes com as elites sociais e econômicas regionais", contextualiza.

"As dissenções internas entre grupos e interesses específicos não desfrutaram de tolerância, conciliação, nem piedade, por parte dos vencedores identificados com a centralização e a autoridade política polarizada e sediada no Rio de Janeiro."

Frei Caneca incomodava o governo imperial não somente pela participação em movimentos revolucionários. Ele também fazia sermões com ideais republicanas e, como jornalista, escrevia artigos em que defendia um sistema de governo com maior participação popular e autonomias regionais.

Os textos eram publicados tanto em seu jornal, o Typhis Pernambucano, como em outros periódicos com os quais ele se correspondia, ecoando inclusive na corte sediada no Rio de Janeiro.

POBRE, ERUDITO E MILITANTE

De família humilde, desde criança demonstrava uma inteligência acima da média. Era filho de um tanoeiro português — daí a origem de seu apelido "caneca" — que vivia em um povoado no entorno do Recife. Provavelmente ingressou na ordem dos carmelitas para conseguir ter acesso aos estudos. Para isso, teria contado com a influência de um primo de sua mãe, também religioso da mesma congregação.

Entrou para o Convento de Nossa Senhor do Carmo em 1796, tornou-se frade no ano seguinte e foi ordenado padre em 1801, com apenas 22 anos. Como religioso, assumiu o nome de Joaquim do Amor Divino Caneca.

Sua erudição fez com que ele se destacasse. Logo seria professor de retórica, geometria e filosofia de seu convento.

"Caneca deve à Igreja, à ordem carmelita, a oportunidade de vida de poder ter estudado e ter tido acesso ao conhecimento que ele teve. Com exceção de uma curta viagem a Alagoas, ele nunca havia saído de Pernambuco. Todo o conhecimento que ele absorveu o fez de bibliotecas locais, sobretudo vinculadas à igreja", pontua Cabral.

Tornou-se maçom e passou a compartilhar com seus companheiros ideais liberais e republicanas, influenciado pelos ecos da Revolução Francesa (de 1789) e pelo movimento que tornou os Estados Unidos uma nação independente, de 1776. O modelo americano, de uma republica federalista, parecia-lhe o ideal.

Em 1817, Frei Caneca foi um dos participantes mais ativos da chamada Revolução Pernambucana, que proclamou uma república e criou um governo independente na região. Segundo o historiador Evaldo Cabral de Mello conta no seu livro A Outra Independência: Pernambuco, 1817-1824, ele não foi um militante de primeira hora — não há registros de sua atuação nos primeiros acontecimentos do movimento.

"Sua presença só se detecta nas últimas semanas de existência do regime, ao acompanhar o exército republicano que marchava para o sul da província a enfrentar as tropas do conde dos Arcos, ocasião em que, segundo a acusação, teria exercido de capitão de guerrilhas", escreve o historiador.

Caneca era visto como conselheiro do grupo republicano, além de prestar assistência espiritual aos combatentes.

Derrotado o movimento, o religioso foi preso e enviado para Salvador. Segundo relatos da época, quando acabou detido, estava descalço e vestia uma batina rasgada e muito suja. Nos quatro anos em que cumpriu pena escreveu, no cárcere, uma gramática da língua portuguesa.
Página do processo de julgamento dos líderes da Revolução Pernambucana Arquivo Nacional

REPUBLICAMO MESMO?

"Inegavelmente a autonomia regional foi o principal valor político manifestado em seu engajamento nos disputas e nos embates durante a conjuntura que resultou na emancipação do Brasil. A sua execução não permitiu que houvesse expressão e revisão das ideias que tinham animado a sua ação política", comenta Martinez.

Há uma discussão se Frei Caneca era essencialmente republicano ou não. O historiador George Cabral explica que a raiz desta controvérsia está no fato de que em 8 de dezembro de 1822, três meses após d. Pedro 1º ter proclamado a independência, ele fez um sermão saudando o imperador recém-coroado.

"No entanto, ele já havia participado da Revolução de 1817, que foi republicana, e ficado preso", ressalta Cabral. "E depois dos problemas com a assembleia constituinte de 1823 ele voltou a se posicionar contra a monarquia." "E depois dos problemas com a assembleia constituinte de 1823 ele voltou a se posicionar contra a monarquia."

Para Cabral, é importante lembrar que naquele momento histórico "era conveniente e sensato", nas publicações e manifestos, não empregar "abertamente a palavra república", para não ser enquadrado em "crime de lesa majestade". "Percebemos uma relutância, em geral, em fixar por escrito o termo […], e isso pode justificar o Caneca não ter usado de forma mais explícita em seus textos", analisa.

"O modelo de nação que ele propõe é um modelo no qual o cidadão tem de ter uma participação ativa, sendo conclamado a participar da vida política. É essencialmente um regime republicano, com espaço para a participação pública", comenta o historiador. "Então, mesmo que não se declarando abertamente republicano, na sua base de pensamento ele defende, sim, a república […] sobretudo olhando o modelo norte-americano."

"Ele tanto dialogava bastante com as ideias republicanas quanto também com o desejo de Pernambuco de ter uma independência", diz à BBC News Brasil o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Carvalho afirma que "não tem nenhuma dúvida" de que Frei Caneca fosse republicano. "Mas eram republicanos que aceitariam uma monarquia constitucional", ressalva. Por isso o estopim teria sido a dissolução da assembleia e a imposição da constituição de d. Pedro.

Para entender isto é preciso voltar ao fio da história.

ECOS DE PORTUGAL

O movimento de 1817 havia sido esmagado pelas tropas governamentais, mas não as ideias republicanas que pipocavam em diversas partes da então América portuguesa. Frei Caneca foi solto em 1821, voltou ao Recife e logo encontrou espaço para retomar sua militância política.

O contexto era outro. A Revolta Liberal do Porto, de 1820, que defendia transformar Portugal em uma monarquia constitucional ecoava do outro lado do Atlântico. Caneca e seus companheiros viam espaço para que suas ideias finalmente pudessem ser colocadas em prática.

Neste momento, o caminho que parecia natural seria uma adesão às cortes de Lisboa, em um xeque-mate emancipacionista frente à corte sediada no Rio. Era uma maneira de seguir atrelado a Portugal, contudo driblando a regência do então príncipe d. Pedro.

Pernambuco teve então duas juntas governativas no período. Até que, em 1823, com o Brasil já território proclamado independente e sob um governo imperial, foi criada a Confederação do Equador.

Frei Caneca demonstrava indignação com o fato de que "o Senado do Rio" ser "a bússola do Brasil", servindo de "guia a todas as demais províncias". Queria autonomia, buscando um modelo similar ao federalismo norte-americano.

Em 2 de julho de 1824 declararam criada a Confederação do Equador, um projeto de nação autônoma formada pelas então províncias de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, Paraíba, Alagoas e Sergipe. Não deu certo. Além de Pernambuco, apenas alguns povoados cearenses e paraibanos foram convencidos a integrar o plano.

Em seu livro, Mello ressalta que em nenhum momento a Confederação do Equador cravou ser republicana. Ele destaca que o movimento não pretendia "fazer uma revolução", tampouco "destruir a monarquia constitucional".

Era, na verdade, baseado na oposição ao projeto de d. Pedro 1º — principalmente depois que o mesmo, em novembro de 1823, dissolveu a assembleia constituinte para impor sua própria Carta Magna, conhecida como Constituição Outorgada.

IMPRENSA

A essa altura, as ideias de Frei Caneca já eram conhecidas pela elite intelectual e política do país. De dezembro de 1823 a agosto de 1824 ele editou um periódico, do qual foi fundador, chamado Typhis Pernambucano. Era uma publicação engajada, que se prestava a fazer crítica política e a defender a liberdade constitucional.

"Ele soube utilizar de modo muito intenso a imprensa, publicando em muitos periódicos, não só em seu jornal em Pernambuco mas também na corte, que reproduzia os textos saídos aqui. Havia um intercâmbio grande nesse momento", diz Cabral.

"Por isso as ideias de Caneca repercutiram em outras parte do Brasil. E foi exatamente essa repercussão que despertou um furor, um ódio, uma antipatia muito grande do imperador contra ele. Ficou evidente que ele era uma das pessoas mais visadas para a repressão", acrescenta.

Seu conteúdo acabou reeditado em 1972, quando a Assembleia Legislativa de Pernambuco publicou o conjunto facsimilar sob o título de Obras Políticas e Literárias. Doze anos mais tarde, o Senado Federal também reeditou em livro o conteúdo do Typhis.

Além da imprensa, Frei Caneca também tinha o púlpito da igreja a seu favor. "Ele teve uma vida eclesial ativa. Fica evidenciado que ele andava de hábito, inclusive, o tempo todo com seu hábito de carmelita. Somente no momento da luta ele deixou de usar o hábito e passou a usar o que os documentos descrevem como jaqueta de guerrilha", diz Cabral. "Mas essa vida eclesial também se reflete no fato de que ele fez sermões, pregou nas igrejas, escreveu textos de cunho religioso…"

"Mas ele mesmo disse que sua atuação extrapolava os muros do convento", lembra Ramirez.

Cabral comenta que Frei Caneca soube combinar "duas dimensões da vida", a de padre e a de militante, como também amalgamou "teoria e prática revolucionária". "Ele lutou com a pena e com o fuzil", afirma o historiador.
Julgamento de Frei Caneca, em obra de Antônio Parreiras, de 1918 Domínio Público

REPRESSÃO

A repressão à Confederação do Equador foi violenta porque o governo imperial temia que fagulhas separatistas se tornassem praxe incendiassem todo o território. Com dinheiro emprestado da Inglaterra, uma tropa de mercenários foi contratada para acabar com o projeto autonomista.

O grupo inicial, de 1,2 mil combatentes, acabou ganhando reforço no caminho do Rio até o Nordeste, chegando a contar com 3,5 mil homens. Houve cerco e ataques ao Recife. Segundo historiadores, a repressão à Confederação do Equador foi a mais rigorosa dentre todas as que buscaram conter motins e revoltas no período imperial brasileiro.

Frei Caneca e outros 30 foram condenados à morte, mas nove conseguiram fugir. Mais de 100 outros foram presos. Não há consenso sobre quantos acabaram mortos nos combates.

Para Martinez, a própria rapidez com que Caneca foi julgado e executado deixou uma lacuna: o próprio não teve a oportunidade de explicar o movimento do qual havia sido um dos líderes.

"Ao contrário do que aconteceu em 1817, a repressão aos líderes de 1824 foi sem prisão e sem anistia. A condenação à morte e a execução sumária impediram que a experiência política daquele movimento fosse avaliada e explicada pelos próprios protagonistas", avalia.

FONTE: BBC

SAIBA O ERRO QUE DEU INÍCIO À INTERNET

 

A primeira mensagem enviada pela Arpanet não foi um início tão auspicioso para a rede que cresceria até se tornar a internet Getty Images

O dia era 29 de outubro de 1969. Dois cientistas a cerca de 560 km de distância conectaram seus computadores e começaram a digitar uma mensagem.

O mundo vivia o auge da Guerra Fria. Charley Kline e Bill Duvall eram dois engenheiros brilhantes na linha de frente de um dos experimentos mais ambiciosos da tecnologia.

Kline tinha 21 anos de idade e era estudante de graduação da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). Duvall tinha 29 anos e era programador de sistemas do Instituto de Pesquisa de Stanford (SRI, na sigla em inglês), ambos nos Estados Unidos.

Eles trabalhavam em um sistema chamado Arpanet – a sigla em inglês para Rede da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada.

Financiado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o projeto pretendia criar uma rede que pudesse compartilhar dados diretamente, sem a necessidade de linhas telefônicas. No seu lugar, o sistema usava um método de fornecimento de dados chamado "comutação de pacotes", que, anos mais tarde, formaria a base da internet moderna.

Aquele foi o primeiro teste de uma tecnologia que mudaria quase todas as características da vida humana. Mas, antes que ela pudesse funcionar, era preciso se logar no sistema.

Kline se sentou com seu teclado, entre as paredes verde-limão da sala 3420 do UCLA Boelter Hall, em Los Angeles. Ele estava preparado para se conectar com Duvall, que operava outro um computador, em outro ponto da Califórnia.

Mas Kline nem chegou a completar a palavra "L-O-G-I-N", quando Duvall contou ao telefone que seu sistema havia caído. E, graças àquele erro, a primeira "mensagem" enviada por Kline para Duvall, naquele dia de outono de 1969, foi simplesmente "L-O".
Charley Kline (sorrindo para a câmera, no centro da imagem) foi a primeira pessoa a enviar uma mensagem pela rede que, anos depois, passaria a ser conhecida como internet Charley Kline

Após alguns ajustes, eles conseguiram restabelecer a conexão cerca de uma hora depois. O acidente inicial foi apenas um pequeno obstáculo para um feito monumental. Mas nenhum dos dois percebeu o significado daquele momento.

"Com certeza, não percebi na época", relembra Kline. "Estávamos apenas tentando fazer aquilo funcionar."

A BBC conversou com Kline e Duvall no 55º aniversário daquele feito histórico.

Meio século depois, a internet colocou o mundo dentro de uma pequena caixa preta que cabe no nosso bolso, domina a nossa atenção e atinge os pontos mais distantes da nossa experiência de vida.

Mas tudo começou com dois homens, que vivenciaram pela primeira vez a frustração de não conseguirem se conectar à rede.

Confira abaixo a entrevista, que foi editada para melhor clareza e resumo.

Charley Kline - Eram computadores pequenos – para os padrões da época – mais ou menos do tamanho de uma geladeira. Eram meio barulhentos, devido às ventoinhas de resfriamento, mas silenciosos em comparação com os ruídos de todos aqueles ventiladores do nosso computador Sigma 7.

Havia luzes que piscavam na parte frontal, chaves que podiam controlar o IMP [Processador de Mensagens de Interface] e um leitor de fitas de papel que podia ser usado para carregar o software.

Bill Duvall - Eles ficavam em uma prateleira com tamanho suficiente para abrigar um equipamento de som completo para um grande show hoje em dia. E eram milhares, talvez milhões ou bilhões de vezes menos potentes que o processador de um Apple Watch. Eram os velhos tempos!

BBC - Contem sobre o momento da transmissão das letras L-O.

Kline - Ao contrário dos websites e outros sistemas de hoje em dia, quando você conectava um terminal ao sistema do SRI, nada acontecia até que você digitasse alguma coisa.

Se você quisesse executar um programa, você precisava primeiro se logar – digitando a palavra "login" – e o sistema iria pedir seu nome de usuário e sua senha.

Assim que eu digitava um caractere no meu terminal – um teletipo modelo 33 – ele seria enviado para o programa que escrevi para o computador SDS Sigma 7. Aquele programa recebia o caractere, formatava em uma mensagem e o enviava para o Processador de Mensagens de Interface.

Quando ele chegava ao sistema do SRI, o sistema tratava [a mensagem] como se viesse de um terminal local e a processava. Ele "ecoava" o caractere [reproduzia no terminal]. Neste caso, o código de Bill pegaria aquele caractere para formatá-lo em uma mensagem e enviá-lo para o IMP, de volta para a UCLA. E, quando eu o recebesse, imprimiria no meu terminal.
O Processador de Mensagens de Interface (IMP, na sigla em inglês) foi o primeiro roteador de internet do mundo UCLA

Eu estava ao telefone com Bill quando tentamos fazer isso. Eu disse a ele que havia digitado a letra L. Ele me respondeu que recebeu a letra L e a enviou de volta. E eu disse que ela havia sido impressa.

Em seguida, digitei a letra O. Novamente, funcionou bem. Digitei então a letra G. Bill me disse que seu sistema havia travado e ele me ligaria de volta.

Duvall - O sistema da UCLA não previu que iria receber G-I-N depois que Charlie digitou L-O. Por isso, ele enviou uma mensagem de erro para o computador do SRI.

Não lembro exatamente qual era a mensagem, mas aquilo aconteceu porque a conexão da rede era muito mais rápida do que tudo o que se conhecia até então. A velocidade de conexão normal era de 10 caracteres por segundo, mas a Arpanet podia transmitir até 5 mil caracteres por segundo.

O resultado foi que o envio daquela mensagem da UCLA para o computador do SRI sobrecarregou o buffer de entrada, que esperava apenas 10 caracteres por segundo. Era como encher um copo com uma mangueira de incêndio.

Descobri rapidamente o que havia acontecido, aumentei o tamanho do buffer e restabeleci o sistema, o que levou cerca de uma hora.
A primeira mensagem enviada pela rede consistiu de apenas duas letras: L e O Getty Images

BBC - Vocês perceberam que aquele poderia ser um momento histórico?

Kline - Não, com certeza não percebi na época.

Duvall - Na verdade, não. Aquilo foi mais uma etapa vencida no contexto maior do trabalho que desenvolvíamos no SRI, que realmente acreditávamos que teria grande repercussão.

BBC - Quando Samuel Morse enviou a primeira mensagem por telégrafo, em 1844, ele teve um impulso dramático e teclou "O que Deus fez" em uma linha, de Washington DC para Baltimore, no Estado americano de Maryland. Se vocês pudessem voltar atrás, teriam criado alguma frase memorável?

Kline - Claro que sim, se eu tivesse percebido a importância. Mas estávamos apenas tentando fazer aquilo funcionar.

Duvall - Não. Aquele foi o primeiro teste de um sistema muito complicado, com muitas peças em movimento. Ter aquele trabalho complexo justamente no primeiro teste, por si só, já foi dramático.

BBC - Qual foi a sensação depois de enviar a mensagem?

Duvall - Estávamos sozinhos nos nossos respectivos laboratórios, à noite. Nós dois estávamos felizes depois de termos um primeiro teste tão bem sucedido, coroando tanto trabalho. Fui até um bar local e pedi um hambúrguer e uma cerveja.

Kline - Fiquei feliz porque funcionou e fui para casa dormir um pouco.

BBC - O que vocês esperavam que a Arpanet se tornasse?

Duvall - Eu considerava o trabalho que estávamos fazendo no SRI como uma parte fundamental de uma visão maior, com os profissionais da informação conectados entre si e compartilhando problemas, observações, documentos e soluções.

O que nós não víamos era a adoção comercial, nem previmos o fenômeno das redes sociais e o flagelo decorrente da desinformação.

Mas é preciso observar que, no tratado de 1962 [do cientista da computação do SRI] Douglas Engelbart [1925-2013], descrevendo sua visão geral do projeto, ele indica que as capacidades que estávamos criando trariam profundas mudanças para a nossa sociedade. E que seria preciso usar e adaptar simultaneamente as ferramentas que estávamos criando para combater os problemas decorrentes do seu uso em sociedade.

BBC - Quais aspectos da internet de hoje fazem vocês se recordarem da Arpanet?

Duvall - Com referência à visão maior que estava sendo criada no grupo de Engelbart (o mouse, edição total na tela, links etc.), a internet de hoje em dia é uma evolução lógica daquelas ideias, amplificada, é claro, pela contribuição de muitas pessoas e organizações brilhantes e inovadoras.

Kline - A capacidade de usar recursos de outras pessoas. É isso o que fazemos quando usamos um website. Estamos usando as possibilidades oferecidas pelo site, seus programas, funções etc. E, é claro, o e-mail.

A Arpanet praticamente criou o conceito de roteamento e os diversos caminhos de um local para outro. Aquilo ofereceu confiabilidade para o caso de falhas nas linhas de comunicação.

E também permitiu o aumento da velocidade de comunicação, utilizando diversos caminhos simultâneos. Todos estes conceitos foram transferidos para a internet.
Atualmente, o local onde ocorreu a primeira transmissão via internet – a sala 3420 do UCLA Boelter Hall – é um monumento à história da tecnologia. UCLA

Enquanto desenvolvíamos os protocolos de comunicação para a Arpanet, encontramos problemas, reprojetamos e aprimoramos os protocolos, aprendendo muitas lições que foram levadas para a internet.

O TCP/IP [o padrão básico de conexão à internet] foi desenvolvido para interconectar redes, particularmente a Arpanet com outras redes, e também para melhorar o desempenho, a confiabilidade e muito mais.

BBC - Como vocês se sentem neste aniversário?

Kline - É uma mistura de sentimentos. Pessoalmente, acho importante, mas um pouco exagerado.

A Arpanet e tudo o que ela gerou é muito significativo. Para mim, este aniversário específico é apenas mais um dentre muitos eventos.

Acho que um pouco mais importante do que este aniversário foi a decisão da Arpa de construir a rede e continuar apoiando o seu desenvolvimento.

Duvall - É bom lembrar a origem de algo como a internet, mas o mais importante é o enorme trabalho desenvolvido desde aquela época para transformá-la em uma parte importante das sociedades em todo o mundo.

BBC - A web moderna é dominada não pelo governo, nem por pesquisadores acadêmicos, mas por algumas das maiores empresas do mundo. Qual é a sua impressão sobre o que a internet se tornou? Quais são as suas maiores preocupações?

Kline - Nós a usamos no nosso dia a dia e ela é muito importante. É difícil imaginar como seria se não tivéssemos novamente a internet.

Um dos benefícios de uma internet tão aberta e não controlada por um governo é a possibilidade de desenvolver novas ideias, como as compras online, serviços bancários, streamings de vídeo, sites jornalísticos, redes sociais e muito mais. Mas, por ter se tornado tão importante nas nossas vidas, ela é alvo de atividades nocivas.

Ouvimos constantemente como certas atividades são prejudicadas. Existe uma imensa falta de privacidade.

E as grandes empresas (Google, Meta, Amazon e provedores de serviços de internet, como a Comcast e a AT&T) detêm poder demais, na minha opinião. Mas não sei ao certo qual seria a solução correta.
Em dezembro de 1969, a Arpanet conectou alguns poucos centros de informática espalhados pelos Estados Unidos – uma amostra minúscula, em comparação com os cerca de 50 bilhões de pontos que compõem a internet hoje em dia UCLA

Duvall - Acho que o domínio por qualquer entidade isolada é um grande risco.

Temos visto o poder da desinformação para orientar a política e as eleições. Também vimos o poder das empresas de influenciar os rumos das normas sociais e a formação de jovens e adultos.

Kline - Um dos meus maiores temores tem sido a difusão de informações falsas. Quantas vezes você já ouviu alguém dizer "vi na internet"?

As pessoas sempre conseguiram espalhar informações falsas, mas custava dinheiro enviar pelo correio, instalar um outdoor ou fazer um anúncio na TV.

Agora, é fácil e barato. E, como atinge milhões de pessoas, aquilo é repetido e tratado como fato.

Outro temor é que, quanto mais os sistemas básicos se mudarem para a internet, mais fácil fica causar prejuízos sérios se estes sistemas forem derrubados ou comprometidos. Por exemplo, não só os sistemas de comunicação, mas os bancos, serviços públicos, transporte etc.

Duvall - A internet tem grande poder, mas, por não termos dado atenção ao alerta de Engelbart em 1962, não usamos o poder da internet eficientemente para administrar os seus impactos sociais.

BBC - Existe alguma lição do seu tempo na Arpanet que poderia fazer da internet um lugar melhor para todos?

Kline - A abertura da internet permite a experimentação e novos usos, mas a falta de controle pode gerar riscos.

A Arpa manteve algum controle da Arpanet. Com isso, eles conseguiam ter certeza de que tudo iria funcionar, podiam tomar decisões sobre os protocolos necessários e lidar com questões como nomes de sites e outros problemas.

A Icann [Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números, na sigla em inglês] ainda administra uma parte, mas têm surgido divergências internacionais sobre como seguir adiante, se os Estados Unidos detêm controle demais etc.

Ainda precisamos de alguns controles para manter a rede funcional. E, como a Arpanet era relativamente pequena, podíamos experimentar mudanças importantes de projeto, protocolo e outras. Agora, isso seria extremamente difícil.

Duvall - Estamos frente a um precipício com a inteligência artificial e seu consequente acesso para todos os que fazem uso da internet.

A internet cresceu e se desenvolveu de forma explosiva nos seus primeiros dias – e parte disso trouxe prejuízos à sociedade. Agora, a IA ocupa a mesma posição e é inseparável da internet.

Não é fora de propósito considerar a IA como uma ameaça existencial. E este é o momento de reconhecer os seus riscos e seu potencial.

FONTE: BBC

ME SIGA NO TWITTER!