Há cerca de duas semanas, falamos neste blog sobre a confirmação da existência de água em uma lua de Júpiter, em Europa, para ser mais preciso. Antes dessa confirmação, sabíamos há mais tempo que a Encélado, uma pequena lua de Saturno tinha um oceano protegido por uma camada de gelo.
Até a passagem das sondas Voyagers no começo da década de 1980, os astrônomos tinham poucas informações sobre esse mundo gelado. Com os sobrevoos das duas sondas, ficou claro que o alto poder de refletir a luz do Sol era decorrente de uma capa de gelo que cobre a lua inteira.
Mas uma pergunta ficou no ar (ou espaço): como poderia ser o gelo assim tão branco? A desintegração de meteoros e das próprias luas pequenas de Saturno produzem toneladas de poeira que uma hora ou outra cai nas outras luas, ou vai se juntar ao sistema de anéis.
O gelo de Encélado deveria estar coberto por essa poeira. Em outras palavras, deveria estar sujo.
A cor do gelo indica que ele é recente, ou seja, indica que existe um mecanismo que constantemente recobre o gelo antigo (e sujo) com gelo novo (e branquinho).
Encélado, lua de Saturno — Foto: Reprodução/Nasa
Em 2005, a sonda Cassini descobriu uma série de fraturas na camada de gelo formando verdadeiros cânions. As fraturas, conhecidas como "faixas do tigre" em alusão às manchas na pelagem desse animal, têm origem no polo sul de Encélado e têm por volta de 130 kg de extensão com um espaçamento regular de 35 km entre uma e outra.
A sonda Cassini revelou também criovulcões ativos, ou seja, vulcões que expelem água fria de dentro das fraturas. Então, além de uma capa de gelo, a Encélado possui também um oceano abaixo do gelo. Se não cobrir toda a lua, pelo menos está em um bolsão de água no polo sul.
Plumas dos criovulcões nas faixas de tigre Foto: Nasa
Desde essa descoberta, a Encélado é a preferida dos astrobiólogos. Possuir água no estado líquido é um dos pré-requisitos para um objeto abrigar vida. Além desse fato, os criovulcões estão permanentemente jogando a água do subsolo no espaço, mas que também acaba sendo depositado em sua superfície.
Diferente de Europa, que o oceano está blindado por uma camada de mais de 10 km de gelo, em Encélado é possível estudar a composição do oceano mesmo do espaço. Aliás, a própria Cassini fez isso, voando através das plumas expelidas pelos criovulcões para analisar as partículas ejetadas. Resultados preliminares mostram que se trata de água salgada, ainda que seja uma mistura de sais inclusive o cloreto de sódio, o nosso sal de cozinha.
Um dos fatos mais intrigantes a respeito das faixas do tigre é sua morfologia. Todas elas partem do polo sul, têm uma extensão similar e estão espaçadas pela mesma distância. Qual mecanismo poderia esculpir essas marcas sobre a superfície?
De acordo com uma equipe de pesquisadores liderada por Max Rudolf, da Universidade da Califórnia, é tudo uma questão gravitacional.
A órbita de Encélado em torno de Saturno é muito ovalada, há períodos em que a pequena lua está muito próxima, mas há períodos em que ela está muito distante do gigante Saturno. A diferença de distâncias se traduz em uma diferença de forças gravitacionais ao longo da órbita, de modo que esse estica e puxa faz com que o gelo se rompa e mesmo se derreta. Essa ação é mais eficiente nos polos e faz com que o gelo rache nessas localidades e as rachaduras gigantes se propaguem para o equador.
E como essas rachaduras ficam equidistantes umas das outras? Como é no fundo delas que se abrem os criovulcões, o material expelido a uma alta pressão acaba se diferenciando quando estão no espaço. As partículas mais leves são capturadas pelo sistema de anéis de Saturno e as mais pesadas são atraídas de volta a Encélado caindo e se acumulando ao redor da fissura. De acordo com Rudolf e seus colegas, a concentração de neve se dá a 35 km de distância de onde ela foi expelida e o seu acúmulo faz o gelo afundar, formando novas fissuras.
O mecanismo é complexo, mas se baseia em dois princípios simples: o de forças de marés e o congelamento da água. São as forças de marés que fazem o gelo se derreter quando Encélado está se aproximando de Saturno e quando se afasta dele, o congelamento da água faz a capa de gelo se expandir, trincando em sua extensão.
Uma pena que depois do fim da missão Cassini ainda não exista nenhum plano de lançar outra sonda para estudar o sistema de Saturno. Junto com a Europa Clipper, que vai estudar a lua de Júpiter, elas dariam um ótimo avanço na busca por vida em outros lugares do Sistema Solar.
AUTOR: G1
A cor do gelo indica que ele é recente, ou seja, indica que existe um mecanismo que constantemente recobre o gelo antigo (e sujo) com gelo novo (e branquinho).
Em 2005, a sonda Cassini descobriu uma série de fraturas na camada de gelo formando verdadeiros cânions. As fraturas, conhecidas como "faixas do tigre" em alusão às manchas na pelagem desse animal, têm origem no polo sul de Encélado e têm por volta de 130 kg de extensão com um espaçamento regular de 35 km entre uma e outra.
A sonda Cassini revelou também criovulcões ativos, ou seja, vulcões que expelem água fria de dentro das fraturas. Então, além de uma capa de gelo, a Encélado possui também um oceano abaixo do gelo. Se não cobrir toda a lua, pelo menos está em um bolsão de água no polo sul.
Desde essa descoberta, a Encélado é a preferida dos astrobiólogos. Possuir água no estado líquido é um dos pré-requisitos para um objeto abrigar vida. Além desse fato, os criovulcões estão permanentemente jogando a água do subsolo no espaço, mas que também acaba sendo depositado em sua superfície.
Diferente de Europa, que o oceano está blindado por uma camada de mais de 10 km de gelo, em Encélado é possível estudar a composição do oceano mesmo do espaço. Aliás, a própria Cassini fez isso, voando através das plumas expelidas pelos criovulcões para analisar as partículas ejetadas. Resultados preliminares mostram que se trata de água salgada, ainda que seja uma mistura de sais inclusive o cloreto de sódio, o nosso sal de cozinha.
Um dos fatos mais intrigantes a respeito das faixas do tigre é sua morfologia. Todas elas partem do polo sul, têm uma extensão similar e estão espaçadas pela mesma distância. Qual mecanismo poderia esculpir essas marcas sobre a superfície?
De acordo com uma equipe de pesquisadores liderada por Max Rudolf, da Universidade da Califórnia, é tudo uma questão gravitacional.
A órbita de Encélado em torno de Saturno é muito ovalada, há períodos em que a pequena lua está muito próxima, mas há períodos em que ela está muito distante do gigante Saturno. A diferença de distâncias se traduz em uma diferença de forças gravitacionais ao longo da órbita, de modo que esse estica e puxa faz com que o gelo se rompa e mesmo se derreta. Essa ação é mais eficiente nos polos e faz com que o gelo rache nessas localidades e as rachaduras gigantes se propaguem para o equador.
E como essas rachaduras ficam equidistantes umas das outras? Como é no fundo delas que se abrem os criovulcões, o material expelido a uma alta pressão acaba se diferenciando quando estão no espaço. As partículas mais leves são capturadas pelo sistema de anéis de Saturno e as mais pesadas são atraídas de volta a Encélado caindo e se acumulando ao redor da fissura. De acordo com Rudolf e seus colegas, a concentração de neve se dá a 35 km de distância de onde ela foi expelida e o seu acúmulo faz o gelo afundar, formando novas fissuras.
O mecanismo é complexo, mas se baseia em dois princípios simples: o de forças de marés e o congelamento da água. São as forças de marés que fazem o gelo se derreter quando Encélado está se aproximando de Saturno e quando se afasta dele, o congelamento da água faz a capa de gelo se expandir, trincando em sua extensão.
Uma pena que depois do fim da missão Cassini ainda não exista nenhum plano de lançar outra sonda para estudar o sistema de Saturno. Junto com a Europa Clipper, que vai estudar a lua de Júpiter, elas dariam um ótimo avanço na busca por vida em outros lugares do Sistema Solar.
AUTOR: G1
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