Você sabe que a viagem e a colonização de Marte estão nos planos de muita gente, não é? Além da NASA, algumas iniciativas privadas, como a da SpaceX do Elon Musk, colocam um prazo de entre 20-30 anos para isso acontecer. Aliás, os primeiros seres humanos a pisar no planeta vermelho estão mais para colonizadores do que para astronautas. Assim como foram os primeiros colonizadores das Américas, será uma viagem só de ida.
De início, a ideia é estabelecer bases simples, com elementos modulares, como conteineres, enviados da Terra. Aos poucos, novos módulos mais sofisticados (e bonitos) serão montados para dar condições de sobrevivência aos colonizadores terrestres. Além de prover água, oxigênio e calor, os módulos precisam ter uma blindagem reforçada, pois Marte não tem campo magnético. O campo magnético ajuda a defletir partículas solares e raios cósmicos que podem causar danos ao DNA quando são absorvidos pelo corpo humano. A Terra possui um campo magnético que age neste sentido e apesar da blindagem não ser 100%, ela é eficiente o bastante para ter permitido o surgimento e desenvolvimento de vida.
Aos poucos, e com muita ajuda terrestre, as bases devem se tornar pequenas vilas, formadas por algumas centenas de pessoas. Mais para o futuro, podemos ter pequenas cidades protegidas por redomas que consigam manter condições de habitabilidade iguais às da Terra, aproveitando a luz solar com a proteção ao bombardeio de raios UV do Sol. Marte também não tem proteção contra eles, pois não possui uma camada de ozônio como a Terra.
Além dessa ideia, existe outra muito mais ambiociosa que parece um filme de ficção científica.
A ideia deve ter sido proposta nos fins da década de 1960 e tinha Carl Sagan por trás. O plano é transformar Marte de modo a deixá-lo com as mesmas condição de habitabilidade que a Terra. O nome deste processo é terraformação.
Mas, como fazer isso?
A terraformação de Marte começa com a criação de uma atmosfera densa. Isso é necessário para que a pressão atmosférica aumente a ponto de manter a água em estado líquido. Mesmo que a temperatura seja alta para a água descongelar, com a atual pressão atmosférica de Marte (menos de 1% da pressão atmosférica terrestre) o gelo nem derrete, ele passa direto de sólido para vapor em um processo chamado de sublimação.
Nessa etapa, o plano é liberar o gás carbônico preso sobretudo nas calotas polares sob a forma de gelo seco. Com a liberação do gás carbônico, não só a atmosfera aumenta de densidade (e pressão), como também dispara o processo de aquecimento global através do efeito estufa. Efeito estufa e aquecimento global ultimamente estão associados à degradação do meio ambiente, mas na verdade são elementos importantes para a manutenção da vida.
O grande problema é quando o efeito estufa está desregulado: em excesso provoca um aquecimento global exagerado como acontece com Vênus que tem uma temperatura estável de 450ºC. Já quando o efeito estufa é pequeno, as temperaturas globais são muito baixas, com em Marte que pode atingir 100ºC negativos.
Processo de terraformação quer deixar Marte mais habitável, como a Terra (Foto: Daein Ballard)
O gás carbônico é um ótimo gás do efeito estufa, ou seja, ele tem uma boa capacidade de reter calor, assim como o vapor d’água e o gás metano. Então, esquentando as calotas polares marcianas para evaporar o gás carbônico, a pressão atmosférica aumenta e o efeito estufa passa a atuar aumentando a temperatura global. Com água líquida, lagos e mares poderiam se formar e algas e bactérias poderiam converter o gás carbônico em oxigênio em um processo demorado, com foi na Terra. Eventualmente poderiam-se levar plantas que ajudariam na terraformação.
Mas a grande pergunta até agora era, há gás carbônico suficiente para promover esse processo todo? Na última semana, um trabalho publicado na revista "Nature Astronomy" mostra as contas direitinho e a resposta não é animadora.
De acordo com Bruce Jakosky e Cristopher Edwards, autores do trabalho, não há gelo seco suficiente nas calotas polares para fazer a atmosfera marciana atingir a pressão mínima para manter a água no estado líquido. Atualmente a pressão atmosféria em Marte é de apenas 0,6% do mínimo necessário. Se todo o gás carbônico congelado fosse sublimado, a pressão atmosférica dobraria, chegando a 1,2% do necessário. Muito pouco.
Jakosky e Edwards então calcularam a contribuição de qualquer coisa em Marte que poderia contribuir com gás carbônico.
Junto com o gelo dos polos existem estruturas cristalinas que podem aprisionar a moléculas de água e gás carbônico, chamadas claratos. Se ao vaporizar o gelo seco e os claratos puderem liberar o gás carbônico aprisionado, a contribuição total faria a atmosfera de Marte atingir 2,7% do mínimo necessário.
Os dois cientistas da Universidade do Colorado, noa Estados Unidos, resolveram então incluir rochas, minerais que estão um pouco abaixo da superfície além da areia que cobre Marte. Usando tudo isso a pressão conseguiria atingir apenas 4,6% do total. Sem condições.
De acordo com Jakosky e Edwards, apenas se as rochas profundas no subsolo do planeta todo liberarem o carbono aprisionado é que a pressão atingiria o valor necessário para impedir que a água se evapore ao descongelar. Esse valor é o equivalente ao valor da pressão atmosférica ao nível no mar na Terra. É verdade que um pouco menos que isso já seria suficiente, mas não muito menos.
Bom, esses são os números, como fazer para eles virarem realidade? Como fazer para o gás carbônico ir parar na atmosfera de Marte?
Com as calotas polares é "fácil". Basta esquentá-las um pouco que seja e elas vaporizam. Nesse processo, os claratos liberam também água e gás carbônico. Já o carbono aprisonado no subsolo não muito profundo é mais difícil de liberar. Seria necessário aquecer as rochas a uma temperatura de 300ºC para isso aconrtecer. Isso nunca vai acontecer naturalmente, ou seja, o gás carbônico atmosférico não conseguiria por si só fazer o efeito estufa aquecer a atmosfera do planeta a essa temperatura. Seria necessário investir grandes quantidades de energia para fazer isso e mesmo assim não chegaria nem perto.
No trabalho publicado, os autores propõem uma maneira de liberar o carbono aprisionado no solo, inclusive o de rochas profundas, de uma maneira interessante. Segundo eles, se pequenos asteroides fossem desviados de suas órbitas para colidir com Marte, a energia do impacto esquentaria as rochas a ponto de fazer o serviço. Mas precisa ser muitos impactos cobrindo toda a superfície do planeta.
Isso tudo faz com que a terraformação de Marte seja impraticável com a tecnologia atual. Durante muito tempo ainda, os colonizadores de Marte precisarão viver em confinados em módulos.
AUTOR: G1
O gás carbônico é um ótimo gás do efeito estufa, ou seja, ele tem uma boa capacidade de reter calor, assim como o vapor d’água e o gás metano. Então, esquentando as calotas polares marcianas para evaporar o gás carbônico, a pressão atmosférica aumenta e o efeito estufa passa a atuar aumentando a temperatura global. Com água líquida, lagos e mares poderiam se formar e algas e bactérias poderiam converter o gás carbônico em oxigênio em um processo demorado, com foi na Terra. Eventualmente poderiam-se levar plantas que ajudariam na terraformação.
Mas a grande pergunta até agora era, há gás carbônico suficiente para promover esse processo todo? Na última semana, um trabalho publicado na revista "Nature Astronomy" mostra as contas direitinho e a resposta não é animadora.
De acordo com Bruce Jakosky e Cristopher Edwards, autores do trabalho, não há gelo seco suficiente nas calotas polares para fazer a atmosfera marciana atingir a pressão mínima para manter a água no estado líquido. Atualmente a pressão atmosféria em Marte é de apenas 0,6% do mínimo necessário. Se todo o gás carbônico congelado fosse sublimado, a pressão atmosférica dobraria, chegando a 1,2% do necessário. Muito pouco.
Jakosky e Edwards então calcularam a contribuição de qualquer coisa em Marte que poderia contribuir com gás carbônico.
Junto com o gelo dos polos existem estruturas cristalinas que podem aprisionar a moléculas de água e gás carbônico, chamadas claratos. Se ao vaporizar o gelo seco e os claratos puderem liberar o gás carbônico aprisionado, a contribuição total faria a atmosfera de Marte atingir 2,7% do mínimo necessário.
Os dois cientistas da Universidade do Colorado, noa Estados Unidos, resolveram então incluir rochas, minerais que estão um pouco abaixo da superfície além da areia que cobre Marte. Usando tudo isso a pressão conseguiria atingir apenas 4,6% do total. Sem condições.
De acordo com Jakosky e Edwards, apenas se as rochas profundas no subsolo do planeta todo liberarem o carbono aprisionado é que a pressão atingiria o valor necessário para impedir que a água se evapore ao descongelar. Esse valor é o equivalente ao valor da pressão atmosférica ao nível no mar na Terra. É verdade que um pouco menos que isso já seria suficiente, mas não muito menos.
Bom, esses são os números, como fazer para eles virarem realidade? Como fazer para o gás carbônico ir parar na atmosfera de Marte?
Com as calotas polares é "fácil". Basta esquentá-las um pouco que seja e elas vaporizam. Nesse processo, os claratos liberam também água e gás carbônico. Já o carbono aprisonado no subsolo não muito profundo é mais difícil de liberar. Seria necessário aquecer as rochas a uma temperatura de 300ºC para isso aconrtecer. Isso nunca vai acontecer naturalmente, ou seja, o gás carbônico atmosférico não conseguiria por si só fazer o efeito estufa aquecer a atmosfera do planeta a essa temperatura. Seria necessário investir grandes quantidades de energia para fazer isso e mesmo assim não chegaria nem perto.
No trabalho publicado, os autores propõem uma maneira de liberar o carbono aprisionado no solo, inclusive o de rochas profundas, de uma maneira interessante. Segundo eles, se pequenos asteroides fossem desviados de suas órbitas para colidir com Marte, a energia do impacto esquentaria as rochas a ponto de fazer o serviço. Mas precisa ser muitos impactos cobrindo toda a superfície do planeta.
Isso tudo faz com que a terraformação de Marte seja impraticável com a tecnologia atual. Durante muito tempo ainda, os colonizadores de Marte precisarão viver em confinados em módulos.
AUTOR: G1
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